OMS considera inútil proibir viagens para conter ômicron, agora no Brasil
A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou nesta terça-feira (30) que as proibições a viagens impostas pelos países "não impedirão" a disseminação da nova variante ômicron do coronavírus, que chegou à América Latina com dois casos no Brasil.
"Proibições gerais de viagens não impedirão a propagação internacional" dessa mutação, estimou a OMS em documento técnico.
Em um documento posterior, a entidade informou que as pessoas que não estão com o esquema vacinal completo e têm risco de desenvolver forma grave da covid-19 ou de morrer "são aconselhadas a adiar suas viagens às zonas de transmissão local".
Diante dos temores suscitados pela nova cepa, o diretor da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, pediu "calma" e instou os Estados-membros a responderem "de maneira racional" e "proporcional".
Tedros disse compreender "a preocupação de todos os países em proteger seus cidadãos", mas expressou preocupação com o fato de várias nações implantarem "medidas gerais e brutais que não são fundamentadas em evidências, nem são eficazes por conta própria, e que apenas agravarão as desigualdades".
Os alertas ocorrem enquanto o Brasil detectou dois casos positivos da variante ômicron, os primeiros na América Latina, em um casal que chegou da África do Sul antes de este país anunciar a descoberta desta cepa em seu território.
Por meio de um comunicado, a secretaria de Saúde do estado de São Paulo "confirmou nesta terça-feira (30) os dois primeiros casos importados da nova variante ômicron do novo coronavírus no Brasil".
Os contagiados são, segundo a nota, "um homem de 41 anos e uma mulher de 37, provenientes da África do Sul", que desembarcaram no Brasil em 23 de novembro.
Segundo informações, este casal de missionários que vive no país africano apresentava sintomas leves no momento da realização de testes PCR. Desde então, estão em isolamento domiciliar e sob monitoramento, assim como seus familiares.
Desde que a África do Sul sinalizou o surgimento dessa nova variante na semana passada, muitos países fecharam suas fronteiras para pessoas do sul do continente africano, gerando indignação na região.
Essas medidas "podem ter um impacto negativo sobre os esforços globais de saúde durante uma pandemia, desencorajando os países a relatar e compartilhar dados epidemiológicos e de sequenciamento", advertiu a OMS.
"Redução importante"
A falta de eficácia as restrições ficou em evidência quando a Holanda reportou que a variante ômicron estava presente em seu território antes que a África reportasse o primeiro caso, em 25 de novembro.
A nova variante, que pode ser mais transmissível ou resistente a vacinas, foi detectada em duas amostras coletadas na Holanda em 19 e 23 de novembro. Em um dos casos, a pessoa não tinha registro de viagens ao exterior.
Em um contexto de dúvidas sobre como combater a nova variante, o presidente do laboratório americano Moderna, Stephan Bancel, assinalou que poderia acontecer uma "redução importante" da eficácia das vacinas atuais contra a variante ômicron.
"Todos os cientistas com quem conversei sentem que 'isso não será bom'", declarou Bancel em declarações ao jornal Financial Times.
Vários laboratórios, como Moderna, Pfizer, AstraZeneca, Novavax e Johnson & Johnson (J&J) estão trabalhando em novas versões da vacina anticovid específicas contra a nova cepa.
Até a data de hoje, a pandemia de covid-19 já deixou ao menos 5,2 milhões de mortos desde o seu surgimento na China no fim de 2019, segundo um balanço estabelecido pela AFP nesta terça-feira.
As máscaras retornam
A OMS classificou a ômicron como "preocupante" e advertiu que representa "um risco muito elevado" para o mundo.
A cepa já foi detectada em numerosos países de todo o mundo e levou grande parte deles a restabelecer restrições de viagem, mas também a reforçar medidas em nível doméstico.
Assim, a partir desta terça, os britânicos deverão usar máscara obrigatoriamente no transporte público e no comércio. Além disso, o Reino Unido, onde a covid-19 já deixou cerca de 145 mil mortos, endureceu as medidas para entrada no país.
Uma decisão semelhante foi tomada pelo Japão, que detectou nesta terça-feira o primeiro caso de ômicron em seu território, em um homem de entre 30 e 40 anos que veio da Namíbia. Na segunda-feira (29), o governo japonês anunciou restrições fronteiriças e vetou a entrada a todos os estrangeiros que não sejam residentes no país.
O governo da Espanha, por sua vez, anunciou nesta terça que suspenderá os voos procedentes de vários países da África Austral a partir de quinta-feira (2) até 15 de dezembro, para "limitar a propagação" da variante.
Na França, que detectou nesta terça o primeiro caso na ilha da Reunião, um departamento ultramarino situado no Oceano Índico, as autoridades sanitárias recomendaram a vacinação de crianças com entre 5 e 11 anos que apresentem risco de uma forma grave de covid-19.
Já na Alemanha, que enfrenta há algumas semanas uma virulenta onda de contágios, o Parlamento se pronunciará sobre a obrigatoriedade da vacina de agora até o fim do ano, anunciou o futuro chanceler Olaf Scholz, depois de se posicionar favoravelmente à medida.
Nenhuma variante da covid-19 havia provocado tanta preocupação desde o surgimento da delta, que atualmente é a dominante e é bastante contagiosa. Porém, a ômicron ainda não provocou nenhuma morte, pelo menos segundo os números oficiais.
Para enfrentar esse novo combate contra a pandemia, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, reforçou ontem (30) seu apelo para enviar mais vacinas aos países pobres. "Somente um plano de vacinação global pode acabar com uma pandemia global e uma situação injusta e imoral", afirmou.
Outra solução poderia ser a pílula anticovid do laboratório americano Merck, que foi recomendada por um painel de especialistas em saúde designado por Washington para pacientes adultos de alto risco.
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