Pequim promete retaliar exigência de testes anticovid de viajantes chineses
O governo chinês condenou, nesta terça-feira (3), a imposição de testes anticovid, por parte de vários países, a viajantes procedentes da China, alertando que poderá tomar "contramedidas" em represália.
"Alguns países estabeleceram restrições de entrada dirigidas, exclusivamente, aos viajantes chineses. Isso não tem base científica, e algumas práticas são inaceitáveis", declarou Mao Ning, uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, acrescentando que a China poderá "tomar contramedidas, baseadas no princípio da reciprocidade".
A China mantém suas fronteiras praticamente fechadas para estrangeiros desde 2020. O país não emite vistos de turista há quase três anos e impõe uma quarentena obrigatória na chegada.
Esta medida de isolamento será levantada em 8 de janeiro, mas o teste anticovid de menos de 48 horas antes da chegada à China continuará a ser exigido.
O país enfrenta um aumento acentuado do número de casos, depois que as severas restrições sanitários até então em vigor foram flexibilizadas sem aviso, ou preparação.
Em 7 de dezembro, as autoridades chinesas levantaram as rígidas restrições sanitárias de sua estratégia de "covid zero", decisão que provocou uma avalanche de doentes nos hospitais e vítimas da covid nos crematórios.
Uma dezena de países impôs testes de covid a passageiros da China nos últimos dias, diante da preocupação com a falta de transparência sobre os números de infectados e por medo do aparecimento de novas variantes.
Em Xangai, dois terços dos residentes podem ter contraído covid nas últimas semanas, segundo um funcionário de um dos principais hospitais da cidade.
"Atualmente, o surto em Xangai é muito grande e pode ter afetado 70% da população, o que é entre 20 e 30 vezes mais" do que o surto anterior no início de 2022, declarou nesta terça-feira Chen Erzhen, vice-presidente do hospital Ruijin, a um blog publicado pelo Diário do Povo.
A cidade de 25 milhões de habitantes, capital econômica da China, foi colocada sob estrito confinamento por dois meses a partir de abril. Muitos habitantes foram transferidos para centros de quarentena. Agora, a variante ômicron se espalha muito rapidamente.
100 ambulâncias
Em outras grandes cidades chinesas, como Pequim, Tianjin (norte), Chongqing (sudoeste) e Guangzhou (sul), as autoridades sanitárias acreditam que o pico já passou.
Chen, que também é membro do Conselho de Especialistas em covid-19 de Xangai, informou que seu hospital recebe 1.600 admissões de emergência por dia — o dobro do número antes do levantamento das restrições — 80% das quais são pacientes com covid.
"Todos os dias chegam mais de 100 ambulâncias ao hospital", explica, apontando que metade dos doentes tem mais de 65 anos e, por isso, são mais vulneráveis.
Repórteres da AFP no hospital Tongren de Xangai observaram nesta terça-feira pacientes recebendo tratamento de emergência do lado de fora do prédio, sobrecarregado com o fluxo de pacientes.
Os corredores estavam cheios de idosos deitados em leitos recebendo soro. Alguns usavam máscaras de oxigênio. Em outro hospital de Xangai, a AFP testemunhou uma discussão. "Cheguei primeiro", gritou um paciente a outro paciente.
A onda de casos de covid nas grandes cidades deve chegar em breve às zonas rurais na China, para onde milhões de pessoas devem retornar para celebrar o Ano Novo Lunar a partir de 21 de janeiro.
Nessas áreas, os serviços de saúde estão em piores condições do que nas cidades. Jiao Yahui, funcionário da Comissão Nacional de Saúde (CNS), reconheceu na segunda-feira em entrevista à televisão estatal CCTV que a previsão para o interior representa um "enorme desafio".
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