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Sem turistas, Machu Picchu está em 'queda livre' após protestos no Peru

Machu Picchu - pawopa3336/Getty Images/iStockphoto
Machu Picchu
Imagem: pawopa3336/Getty Images/iStockphoto

da AFP

30/01/2023 15h29

Vazio, o portão de entrada de Machu Picchu, no Peru, é o retrato de um país, onde violentos protestos espantam turistas desde dezembro de 2022, o que afeta comunidades inteiras que dependem do turismo neste popular destino.

"Olha, não tem nada, está vazio", diz Juan Pablo Huanacchini Mamani, o "Inca", que atende turistas vestido com um traje tradicional de tecidos coloridos, sandálias e enfeites dourados que brilham ao sol.

A economia do país andino se baseia, sobretudo, no turismo, uma importante fonte de emprego que atraía cerca de 4,5 milhões de visitantes antes da pandemia. Em questão de semanas, porém, a situação mudou em Ollantaytambo, localidade a cerca de 60 quilômetros de Cusco, aonde cerca de quatro mil visitantes chegavam, diariamente, durante a alta temporada, para visitar Machu Picchu.

Desde o início de dezembro, os protestos que têm sacudido o país já deixaram 48 mortos.

As hordas de turistas, tão frequentes em Machu Picchu (foto), desapareceram após o agravamento dos protestos - Gutiérrez Chero/UOL - Gutiérrez Chero/UOL
As hordas de turistas, tão frequentes em Machu Picchu (foto), desapareceram após o agravamento dos protestos
Imagem: Gutiérrez Chero/UOL

As manifestações pedem a renúncia da presidente Dina Boluarte, que assumiu o cargo após a destituição e a prisão do presidente Pedro Castillo, em 7 de dezembro, por ter tentado dissolver o Parlamento.

Em meio aos protestos, a cidade que costumava receber milhares de visitantes, hoje vê apenas cerca de 100 pessoas chegarem nos fins de semana. Estes são os dois únicos dias permitidos pelos manifestantes, uma concessão para que os habitantes possam sobreviver.

No dia 22, a entrada para Machu Picchu foi fechada após protestos deixarem pelo menos 46 pessoas mortas no Peru - Carolina Paucar / AFP - Carolina Paucar / AFP
No dia 22, a entrada para Machu Picchu foi fechada após protestos deixarem pelo menos 46 pessoas mortas no Peru
Imagem: Carolina Paucar / AFP

"Vivemos do turismo (...) Agora estamos com falta de gente. Quando há turismo, todo o nosso povo trabalha nos hotéis, restaurantes, a agricultura se movimenta", diz Juan Pablo. Hoje, acrescenta ele, estão vivendo em uma "crise profunda".

"Queda livre"

Segundo dados do Ministério do Turismo, a crise está custando US$ 6,5 milhões diários, com uma queda de 83% na ocupação hoteleira. O diretor regional de turismo, Abel Alberto Matto Leiva, explica que, em Cusco, "75% da população trabalha direta, ou indiretamente, com turismo" em "uma cadeia" que inclui "2.500 agências de viagens", alimentação, alojamento e transporte.

No momento, 20 mil pessoas estão desempregadas, número este que, segundo ele, "continua aumentando", com projeções de chegar a em torno de 120 mil até março.

Em meio à crise, cerca de 14 mil artesãos locais devem ter suas oportunidades drasticamente reduzidas, afirmam as autoridades, o que também representa milhares de comerciantes com pouca, ou nenhuma renda.

Machu Picchu - iStockphoto - iStockphoto
95% das reservas hoteleiras na região de Machu Picchu teriam sido canceladas
Imagem: iStockphoto

Sem qualquer tipo de ajuda, os artesãos se sentem "totalmente esquecidos", diz Filomena Quispe, de 67 anos, 35 deles vendendo artesanato em uma pequena loja perto da Plaza de Armas de Cusco. A situação também faz muitos donos de estabelecimentos optarem por não abrir as portas, para cortar custos.

"Estamos em queda livre e não sabemos quando ela vai parar", lamenta o vice-presidente da Câmara Hoteleira de Cusco, Henry Yabar, que também fechou seu estabelecimento, um hotel de três estrelas com cerca de 15 quartos.

A cidadela segue vazia - iStockphoto - iStockphoto
A cidadela segue vazia
Imagem: iStockphoto

Yabar afirma que a crise política foi um golpe "fatal" para o turismo e relata que houve "95% de cancelamentos" nas reservas hoteleiras. Segundo ele, dos 12 mil hotéis e pousadas de Cusco, "entre 25% e 30% (os menores) já faliram".

Ele disse esperar que o Estado coloque um plano de emergência em ação e faça concessões fiscais para os afetados pela situação. "Temos esperança de uma melhora em julho", acrescenta Yabar, que completa: "para os que sobreviverem".