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Loja de antiguidades turca mantém esperança em cidade devastada por tremor

Sincan mantém sua loja aberta na rua abandonada desde o terceiro dia dos terremotos - OZAN KOSE/AFP
Sincan mantém sua loja aberta na rua abandonada desde o terceiro dia dos terremotos Imagem: OZAN KOSE/AFP

da AFP

08/03/2023 17h43

O som da música vindo de uma loja de antiguidades, com bandeiras turcas tremulando em frente, traz esperança à cidade de Antakya, que chora seus mortos após o terremoto devastador.

Conhecida durante a maior parte de sua história como Antioquia, Antakya — situada entre o Mar Mediterrâneo e a fronteira turco-síria — foi atingida pelo terremoto de 7,8 graus de magnitude em 6 de fevereiro, que matou mais de 50 mil pessoas em ambos os países.

As cúpulas de suas mesquitas e igrejas estão em pedaços por toda a cidade, situada em uma das falhas geológicas mais ativas do mundo, e que se ergueu como uma fênix de catástrofes semelhantes ao longo dos séculos.

Se isso acontecer novamente, será em grande parte graças à perseverança de moradores como Serkan Sincan. Sentado em uma das duas poltronas estofadas que colocou na calçada ao lado de uma mesa de café, o homem de 51 anos personifica a resiliência da Turquia à pior catástrofe natural dos tempos modernos.

O Alcorão nos braços de Sincan foi encontrado nos escombros de um prédio vizinho - OZAN KOSE/AFP - OZAN KOSE/AFP
O Alcorão nos braços de Sincan foi encontrado nos escombros de um prédio vizinho à sua loja
Imagem: OZAN KOSE/AFP

Quando o chão começou a tremer às 04h17, Sincan conseguiu tirar sua mãe e seu pai de seu apartamento e depois ajudou os vizinhos a saírem de suas casas.

"No terceiro dia, vim aqui e desfraldei a grande bandeira", disse Sincan à AFP. "Enquanto caminhava para chegar lá, vi que a mesquita de Ulu havia desabado, assim como a igreja protestante", lembra. "Aí eu vi o meu prédio...", continua.

Ainda estava de pé, com apenas algumas rachaduras nas paredes. Algumas das louças da loja estavam quebradas e alguns livros espalhados pelo chão. "Mas a casa ainda estava de pé e eu disse a mim mesmo: 'Allahu akbar' (Deus é o maior)", conta.

Sincan, que deixou seu emprego na prefeitura há quase cinco anos porque "não gostava do sistema", se descreve como um "socialista islâmico".

Esperança

Na semana passada, trabalhadores locais instalaram uma linha elétrica de emergência em sua loja para que ele pudesse continuar compartilhando sua música — de ópera e baladas turcas a antigas músicas do Pink Floyd.

"É a nossa rotina. Antes, meus clientes sabiam que eu tocava fitas cassete e discos. É assim que minha loja funciona", diz.

Serkan Sincan, de 51 anos, sorri junto a um retrato do fundador da República da Turquia, Mustafa Kemal Ataturk, e de uma reprodução do quadro "O Grito" de Edvard Münch em frente à sua loja de antiguidades em Antakya - OZAN KOSE/AFP - OZAN KOSE/AFP
Sincan, de 51 anos, sorri junto a um retrato do fundador da República da Turquia, Mustafa Kemal Ataturk, e de uma reprodução do quadro "O Grito" de Edvard Münch em frente à sua loja de antiguidades em Antakya
Imagem: OZAN KOSE/AFP

Agora, depois de limpar a rua e arrumar suas poltronas, ele serve café e doces para quem vem à sua loja, principalmente voluntários, funcionários municipais e membros de organizações beneficentes que foram para Antakya após o terremoto.

Ozge Eser, uma professora cujo prédio desabou no terremoto, disse que ver a loja de Sincan aberta a deixou muito feliz. "Me deu muita esperança", afirmou.

Ecoando a promessa do presidente Recept Tayyip Erdogan de reconstruir toda a região atingida pelo terremoto dentro de um ano, Sincan está confiante de que Antakya logo retornará ao que era. "Em um ano ou um ano e meio, a velha Antakya estará ainda mais bonita", diz ele.