Venda na Suíça de joias de milionária ligada ao nazismo gera forte polêmica
Joias pertencentes a uma milionária austríaca, cujo marido alemão fez fortuna diante o regime nazista, serão leiloadas nesta quarta-feira (10) em Genebra, apesar das críticas de organizações que lutam contra o antissemitismo e pedem a suspensão da venda.
A coleção vendida pela casa Christie's é composta por mais de 700 joias, com valor total avaliado em mais de US$ 150 milhões (R$ 750 milhões). Nesta quarta-feira, apenas 100 peças estarão à venda e outras 150 serão vendidas na sexta-feira (12). As demais peças serão vendidas online em novembro.
Esta semana, o Centro Simon Wiesenthal, ONG conhecida por rastrear criminosos de guerra nazistas foragidos, e o Comitê Judaico Americano (AJC) pediram a suspensão da venda. O Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (Crif) juntou-se à convocação na terça-feira.
A organização francesa qualificou a venda de "indecente", já que o marido de Heidi, Helmut Horten, construiu sua fortuna na Alemanha durante o governo nazista, partido do qual era filiado.
Uma das joias mais marcantes da coleção de Heidi Horten, falecida em 2022, é um anel Cartier com um rubi "sangue de pombo" de 25,59 quilates, cujo preço está avaliado entre US$ 10 milhões e US$ 20 milhões (R$ 50 milhões e R$ 100 milhões no câmbio atual).
A venda pode quebrar recordes anteriores estabelecidos pela Christie's, quando a empresa negociou a propriedade da atriz Elizabeth Taylor em 2011 e a coleção "Maharajas and Mongolian Splendor" em 2019, por mais de US$ 100 milhões (cerca de R$ 403 milhões, na cotação da época).
"Duplamente indecente"
Segundo a classificação da Forbes, a fortuna de Heidi Horten totalizava 2,9 bilhões de dólares (14,5 bilhões de reais na cotação atual). Mas a origem do dinheiro de Helmut Horten, dono de uma das maiores redes de lojas de departamentos da Alemanha, gera críticas.
Em 1936, três anos depois de Adolf Hitler chegar ao poder, Horten assumiu o comando da empresa têxtil Alsberg, após a fuga de seus proprietários judeus.
Mais tarde, ele assumiu o controle de vários negócios que pertenciam a judeus que fugiram do Reich nazista. Horten foi acusado de lucrar com o saque de propriedades de pessoas de origem judaica.
O dinheiro arrecadado com a venda será destinado à Fundação Horten, criada em 2021, e para pesquisa médica, proteção infantil e outras atividades filantrópicas.
"Este leilão é duplamente indecente: não apenas os recursos utilizados para adquirir estas joias vêm em parte da 'arianização' de propriedades judaicas da Alemanha nazista, mas a venda também pretende financiar uma fundação cuja missão é garantir que o sobrenome de um nazista passe à posteridade", denunciou o presidente do Crif, Yonathan Arfi.
O Centro Simon Wiesenthal pediu em um comunicado que as pessoas "não recompensem aqueles cujas famílias enriqueceram graças a judeus desesperados perseguidos e ameaçados pelos nazistas".
Apesar de tudo, a casa de leilões aceitou organizar o leilão "já que todo o lucro da venda irá para obras de caridade".
Além disso, a Christie's anunciou que fez, por sua conta, uma doação significativa para a pesquisa e educação sobre o Holocausto, disse à AFP Rahul Kadakia, diretor internacional de joias da casa de leilões.
Para o Comitê Judaico Americano isso não é suficiente. A organização afirmou que a venda deve ser suspensa "até que seja feito um esforço sério para determinar quanto dessa riqueza procede das vítimas dos nazistas".
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