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'Tesouros da Mesopotâmia' destruídos pelo Estado Islâmico são reconstituídos no Iraque

Arqueólogo cataloga artefatos destruídos no sítio arqueológico de Nimrud, ao sul de Mosul Imagem: Zaid Al-Obeidi/AFP 3.jan.2025

10/01/2025 05h30

Uma década depois que combatentes jihadistas saquearam as ruínas de Nimrud, no Iraque, arqueólogos lutam para reconstituir seus tesouros antigos, agora convertidos em milhares de fragmentos.

O sítio arqueológico, que já foi a joia da coroa do antigo império assírio, foi arrasado pelos combatentes do EI (Estado Islâmico) depois que eles tomaram grande parte do Iraque e da vizinha Síria em 2014.

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As preciosas obras pré-islâmicas destruídas pelos jihadistas estão em pedaços, mas os arqueólogos não temem a tarefa colossal de remontá-las.

"Toda vez que encontramos uma peça e a colocamos de volta em seu lugar original, é como uma nova descoberta", disse à AFP Abdel Ghani Ghadi, um especialista de 47 anos que trabalha no local.

Mais de 500 peças foram encontradas despedaçadas na área, a cerca de 30 quilômetros de Mosul, cidade do norte do Iraque onde o EI estabeleceu a capital de seu autoproclamado "califado".

Uma escavação minuciosa feita por arqueólogos iraquianos recuperou mais de 35.000 fragmentos.

Os cientistas remontaram cuidadosamente os baixos-relevos, esculturas e placas decoradas representando criaturas míticas, que adornavam o palácio do rei assírio Ashurnasirpal II há quase 3.000 anos.

Gradualmente, as peças do quebra-cabeça são montadas, cobertas por uma lona verde.

Outra peça mostra prisioneiros algemados de territórios que se rebelaram contra o poderoso exército assírio.

Deitados de lado estão lamassus (retratos de divindades assírias com cabeças humanas, corpos de touro ou leão e asas de pássaros) perto de tábuas com textos em escrita cuneiforme.

"Estas esculturas são o tesouro da Mesopotâmia. Nimrud é patrimônio de toda a humanidade, uma história que remonta a 3.000 anos", diz Ghadi.

Operação complexa

Artefato danificado no sítio arqueológico de Nimrud, ao sul de Mossul Imagem: Zaid Al-Obeidi/AFP 3.jan.2025

Fundada no século 13 a.C., Nimrud atingiu seu apogeu no século 9 a.C. e foi a segunda capital do império assírio.

Vídeos de propaganda do EI em 2015 mostraram jihadistas destruindo monumentos com escavadeiras, golpeando-os com picaretas ou dinamitando-os. Um destes artefatos era o templo de Nabu, o deus mesopotâmico da sabedoria e da escrita, de 2.800 anos.

Os combatentes do EI também destruíram o Museu de Mosul e a antiga cidade de Palmyra, na Síria.

O grupo jihadista foi derrotado em 2017 no Iraque e o projeto de restauração de Nimrud começou no ano seguinte, sendo interrompido pela pandemia de covid-19, mas retomado em 2023.

"Até agora tem sido um processo de coleta, classificação e identificação", conta Mohamed Kasim, do Instituto de Pesquisa Acadêmica do Iraque.

Segundo ele, 70% do trabalho foi concluído no local do palácio assírio, e ainda resta um ano de trabalho de campo antes que a restauração comece a todo vapor, advertindo que se trata de uma "operação complexa".

Sua organização trabalha em estreita colaboração com arqueólogos iraquianos, apoiando seus esforços para "resgatar" Nimrud e preservar sua riqueza cultural.

Segundo o ministro da Cultura do Iraque, Ahmed Fakak al Badrani, a destruição maciça no local tornou impossível, pelo menos por enquanto, determinar quais antiguidades foram roubadas pelo EI.

De acordo com o ministro, serão necessários 10 anos de trabalho árduo para que as maravilhas do palácio do rei Ashurnasirpal II possam ser vistas novamente em sua totalidade.

O sítio de Nimrud foi escavado pela primeira vez por arqueólogos no século 19 e ganhou reconhecimento internacional pelas imensas figuras de lamassus que foram exibidas no Museu Britânico de Londres e no Louvre em Paris.

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