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Passeios turísticos revelam a história de negros em São Paulo

Passeios por São Paulo mostram a presença negra foi apagada ou minimizada - Reprodução/Guia Negro
Passeios por São Paulo mostram a presença negra foi apagada ou minimizada Imagem: Reprodução/Guia Negro

Gonçalo Junior

São Paulo

21/11/2021 14h33

Organizados por empreendedores e ativistas, passeios turísticos mostram como a presença negra foi apagada ou minimizada em vários locais históricos de São Paulo. Os roteiros incluem lugares de resistência, venda, tortura ou execuções de escravizados, indicados com sinalizações discretas ou nem isso.

Sob a curadoria da plataforma de afroturismo Guia Negro, o Estadão fez uma caminhada pelo centro da capital no dia 15, seguindo os pontos pretos do mapa. O encontro é na Praça da Liberdade. Nos séculos 18 e 19, o local era o Largo da Forca, onde negros e indígenas eram castigados. Isso está sinalizado com uma placa de 35 centímetros de diâmetro na saída lateral do metrô.

O marco cita as execuções, entre elas a de Francisco José das Chagas, o Chaguinhas, cabo negro condenado por liderar um motim pela falta de soldo. Após a corda arrebentar duas vezes, as pessoas passaram a gritar "Liberdade".

"Guia Negro": caminhadas com aprendizado por São Paulo - Reprodução/Guia Negro - Reprodução/Guia Negro
"Guia Negro": caminhadas com aprendizado por São Paulo
Imagem: Reprodução/Guia Negro

Descendo a Rua dos Estudantes, está a Capela de Nossa Senhora dos Aflitos. Ela é o que restou do local que recebeu indigentes e condenados à forca, a maioria escravizados fugitivos entre 1775 a 1858. É ali que está enterrado Chaguinhas, que virou santo popular e ainda atrai visitantes.

Outro passeio na cidade é o "Volta Negra", do coletivo Cartografia Negra. O início da caminhada de nove pontos é o Largo da Memória, no Anhangabaú. Ali, no Obelisco de Piques, funcionavam feiras e leilões para vender pessoas escravizadas até o fim do século 19. Há uma placa de identificação, que não cita o leilão. Outro ponto é o Largo da Misericórdia. Construído pelo arquiteto e engenheiro negro Joaquim Pinto de Oliveira, o Tebas, em 1792, o largo era um lugar onde mulheres e homens negros se reuniam para conversar e organizar maneiras de resistir à escravidão.

MINORIA

Menos de 3% das estátuas de SP são de pessoas negras - Reprodução/Guia Negro - Reprodução/Guia Negro
Menos de 3% das estátuas de SP são de pessoas negras
Imagem: Reprodução/Guia Negro

As estátuas recebem atenção especial nos roteiros. Segundo a pesquisa "A presença negra nos espaços públicos de São Paulo", do Instituto Pólis, a cidade tem 367. Delas, só 6 são de figuras negras, menos de 3% do total.

A estátua de Zumbi dos Palmares tem 1,67 m (2,2 m, considerando o punho erguido). Ela divide o espaço com o coreto da Praça Antonio Prado e está ao lado das mesas do bar e restaurante Salve Jorge. Já a estátua de Borba Gato, em Santo Amaro, tem 10 metros (13 m com o pedestal).

Em outros casos, as estátuas são controversas, como uma "mãe preta" do Largo do Paiçandu, referência às amas de leite. É a única estátua de uma mulher negra em São Paulo. "Essa representação reforça a ideia de subalternidade das mulheres negras", explica o produtor cultural e guia turístico Heitor Salatiel, do Guia Negro. Para os pesquisadores, a sub-representação de negros e indígenas evidencia o racismo estrutural.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.