Pilar da Itália, turismo lutou para sobreviver no país em 2020
A Itália é um dos destinos mais almejados e encantadores para se visitar, com suas belas paisagens, riqueza cultural, e, claro, sua gastronomia. Acostumado a receber milhões de viajantes anualmente, o país viu suas ruas e principais pontos turísticos ficarem desertos durante 2020, em meio a uma pandemia que já dizimou dezenas de milhares de vidas em todo o mundo.
O setor do turismo foi um dos mais afetados pela crise provocada pelo novo coronavírus na Itália, já que viagens planejadas para o país tiveram de ser canceladas ou remarcadas, enquanto monumentos, museus e praias foram fechados aos visitantes.
Maria Elena Rossi, diretora de marketing da Agência Nacional de Turismo da Itália (Enit), lamenta à ANSA:
A pandemia perturbou os planos e projetos de todo o setor turístico, obrigando as operadoras e profissionais a redesenharem novas estratégias".
Hotéis, por exemplo, trocaram turistas por pessoas infectadas pelo Sars-CoV-2, em uma alternativa para reduzir a pressão sobre as enfermarias e tratar os doentes sem sintomas graves fora de hospitais. "Isso representou a solidariedade e colaboração absoluta do setor diante do drama que vive a Itália", diz o presidente da Federação das Associações Italianas de Hotéis e Turismo (Federalberghi), Bernabò Bocca.
Como muitos outros pelo mundo, o governo da Itália aprovou uma série de medidas para socorrer o setor, incluindo indenizações de até mil euros para trabalhadores temporários e créditos fiscais de até 500 euros para quem fizesse turismo interno nos meses sem lockdown.
Ainda assim, as diversas restrições de locomoção impostas para conter o Sars-CoV-2 deixaram um rombo em um dos pilares da economia italiana.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (Istat), o faturamento do setor caiu 52% de janeiro a setembro. Já a Federalberghi estima que o volume de negócios fechará 2020 com contração de 56,7% e prejuízo superior a 14 bilhões de euros.
A Enit, por sua vez, projeta que o total de viajantes internacionais e nacionais diminuirá 49% neste ano. Além disso, espera-se uma queda de 186 milhões no total de pernoites turísticas e de 71 bilhões de euros nos gastos dos viajantes.
"Muitas cidades de arte estão quase completamente ligadas ao turismo de longa distância, que gasta muito, e para elas a perda de turistas internacionais representou um duro golpe", explica Rossi. Segundo a diretora da Enit, a Itália é líder absoluta no turismo de longa distância, e um quarto dos viajantes de fora da Europa tem o "Belpaese" como destino.
Visitas guiadas
As medidas restritivas atingem sobretudo guias de turismo, que sofrem com cancelamentos em massa desde o início da pandemia e ainda não conseguem enxergar uma luz no fim do túnel.
É o caso da acompanhante turística brasileira Ester de Almeida, da empresa Guia Roma. "Não só para mim, mas para todos que trabalham comigo, a pandemia teve um impacto grande no turismo na Itália. O verão foi melhorzinho para os motoristas, marinheiros, hoteleiros, porque tinham os turistas italianos e europeus, mas para mim, que trabalho especificamente com brasileiros, foi uma grande queda com o fechamento das fronteiras", conta Almeida em entrevista à ANSA.
A acompanhante registra perdas de 70% em 2020 e tenta minimizar o prejuízo fornecendo serviços de consultoria pelo WhatsApp e preparando roteiros personalizados para quem planeja uma viagem no futuro. Ainda assim, ela não acredita em uma volta à normalidade em 2021.
Já a guia de turismo Maria Arruda, também blogueira do "Viagem na Itália", relata à ANSA que a pandemia zerou todos os seus serviços, sendo que seus únicos tours de 2020 foram realizados no início de janeiro.
Apesar de ter recebido o auxílio do governo italiano para o setor, a brasileira sofreu um "prejuízo enorme, considerando que o confinamento nacional começou em março, no início da alta temporada". "Com as fronteiras fechadas para os brasileiros, não tenho nem a chance de driblar as restrições impostas, pois o que falta é a própria presença física dos turistas", lamenta.
A guia Leda Pinheiro, credenciada em Roma, Florença e no Vaticano, diz que "nem dá para falar propriamente em prejuízo, porque tudo é prejuízo, já que não teve entrada". "Nós tivemos que usar nossos recursos próprios, as nossas economias dos outros anos ou de familiares", conta.
Segundo Gerardo Landulfo, diretor da Polvani Turismo e delegado da Accademia Italiana della Cucina em São Paulo, sua empresa não organiza viagens para a Europa desde fevereiro, o que representa uma redução de quase 100% em relação ao ano passado.
Landulfo afirma:
Na Itália, é estimada uma queda de mais de 90% nos movimentos de turistas. E o turismo na Itália representa 13% do PIB. E se não tem turista, afeta obviamente também a parte cultural".
Sua agência, que trabalha com viagens personalizadas, não teve receitas nesses meses todos e ainda precisou cancelar reservas e devolver o dinheiro para as pessoas que não puderam viajar.
Futuro do turismo
Enquanto a pandemia de Covid-19 barra a retomada, a Enit tem feito campanhas direcionadas com foco no turismo de valor e buscando distribuir o contingente de viajantes por diferentes épocas do ano e áreas menos conhecidas, e não apenas na alta temporada das cidades mais famosas.
Além disso, a agência organizou eventos multissensoriais, inaugurações de museus e locais de arte em diferentes horários, investiu em merchandising e lançou um aplicativo gratuito que apresenta os "sabores da Itália". Em breve, será inaugurado também o primeiro arquivo histórico do turismo italiano, com mais de 100 mil itens para garantir uma experiência online.
Já o presidente da Federalberghi acredita que tem sido muito difícil para os estrangeiros ficarem longe da Itália por todo esse tempo. "E por isso não haverá problemas em fazê-los felizes assim que ocorrer uma normalização. Recomeçaremos com todo o nosso patrimônio de excelência e qualidade em todos os campos, da hotelaria aos restaurantes, do cinema à moda, dos grandes eventos aos tours gastronômicos", concluiu Bocca.
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