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Filme "Gucci", sobre assassinato do herdeiro da marca, começa a ser gravado

Maurizio Gucci, ainda jovem: crime foi a mando da ex-mulher -  Erin Combs/Toronto Star via Getty Images
Maurizio Gucci, ainda jovem: crime foi a mando da ex-mulher Imagem: Erin Combs/Toronto Star via Getty Images

Luciana Ribeiro

08/03/2021 17h13

Apesar de o mundo da moda ser famoso pelo glamour, existem tramas por trás dos holofotes repletas de intrigas, ganância e até morte. Este é o caso de uma das grifes italianas mais importantes do setor fashion em todos os tempos: a Gucci.

A parte sombria da história da família é o enredo do filme "Gucci", dirigido por Ridley Scott e que tem a cantora Lady Gaga como protagonista. A trama começou a ser gravada e, na semana passada, Lady Gaga chegou à Itália, para as filmagens. Gaga tem ascendência italiana e vai dividir o set com atores como Robert De Niro, Al Pacino, Jared Leto, Adam Driver e Jeremy Irons, entre outros.

O longa, que chegará aos cinemas mundiais em novembro de 2021, é baseado na biografia "The House of Gucci - A Sensational Story of Murder, Madness, Glamour and Greed" ("A casa dos Gucci - Uma Sensacional História de Assassinato, Loucura, Glamour e Ganância", em tradução livre), de Sara Gay Forden.

A história do "clã" vai além de uma marca que começou como uma modesta loja de bolsas em Florença e se transformou em uma lucrativa maison. Desentendimentos e brigas entre os familiares marcaram a trajetória da grife, principalmente o assassinato do herdeiro Maurizio Gucci.

Lady Gaga - Inez and Vinoodh/Vogue - Inez and Vinoodh/Vogue
Lady Gaga interpreterá a "viúva negra", Patrízia Reggiani
Imagem: Inez and Vinoodh/Vogue

Gaga, que nunca escondeu seu desejo de seguir carreira como atriz, principalmente depois do elogiado papel em "Nasce uma Estrela", interpretará a socialite italiana Patrizia Reggiani, ex-esposa do herdeiro da grife e que mandou matá-lo em 27 de março de 1995.

Presidente da marca entre 1983 e 1993, Maurizio foi executado enquanto chegava ao seu escritório na via Palestro, em Milão, por um homem que disparou três tiros pelas suas costas e um na têmpora.

A tragédia ocorreu quando ele e Reggiani já estavam divorciados, após 15 anos de relacionamento, e ganhou as manchetes de jornais do mundo inteiro.

A audácia do crime, ocorrido em um dos endereços mais chiques da capital da moda, fez a polícia italiana abrir uma investigação não apenas contra os membros da família Gucci, mas sobre as conexões de Maurizio no mundo dos negócios.

Patrízia Reggiani em seu julgamento, em 1998 - EPA - EPA
Patrízia Reggiani em seu julgamento, em 1998
Imagem: EPA

Na ocasião, os investigadores descobriram que a ex-esposa do executivo tinha suas diferenças com ele, mas não havia nenhuma evidência de seu envolvimento no homicídio. Com isso, a suspeita chegou a cair sobre a máfia e outros familiares, já que Maurizio articulara para tirar parentes da jogada e assumira o controle completo da empresa no início da década de 1990.

O executivo foi o último Gucci a ter ações da grife, comprada em 1993 pelo grupo árabe Investcorp. O caso ficou sem solução por cerca de dois anos. Após chorar e consolar suas duas filhas - Alessandra e Alexia - diante do túmulo de Maurizio, Reggiani foi apelidada pela imprensa italiana de "viúva negra".

A mulher, que sempre se disse inocente, só foi considerada culpada e presa em 1997. Ela acabou condenada a 26 anos de prisão como mandante do assassinato, junto com outras quatro pessoas, incluindo o atirador Benedetto Ceraulo, sentenciado à prisão perpétua.

Também foram sentenciados o motorista do veículo da fuga, Orazio Cicala (29 anos de prisão), o intermediário nas negociações que envolveram o crime, Ivano Savioni (26 anos), e Pina Auriemma, conselheira espiritual e amiga de Reggiani (25 anos).

Segundo a acusação, a mandante teria pagado US$ 300 mil pelo assassinato. Ela tinha a guarda das duas filhas do casal, porém discordava da pensão recebida de Maurizio e temia que o ex-marido destruísse o patrimônio que um dia pertenceria às herdeiras. O executivo tinha acabado de receber US$ 120 milhões após ser afastado da direção da Gucci, o que também teria despertado a ganância da ex-cônjuge.

Jogo

Maurizio Gucci - Louis Hollingsbee - PA Images/PA Images via Getty Images - Louis Hollingsbee - PA Images/PA Images via Getty Images
Maurizio Gucci
Imagem: Louis Hollingsbee - PA Images/PA Images via Getty Images

A trama foi descoberta graças a uma brincadeira insólita: o intermediário Savioni participou de uma "competição" para ver quem tinha mais contatos no mundo do crime e detalhou o plano da execução para seu amigo Gabriele Carpanese, que chamou a polícia e delatou todo o esquema.

Reggiani cumpriu sua sentença na penitenciária de San Vittore, em Milão, mas teve a pena reduzida por bom comportamento e saiu da cadeia em fevereiro de 2017.

Até hoje os motivos pelos quais a "viúva negra" ordenou o assassinato de Maurizio são obscuros. Considerada uma mulher irritadiça, Reggiani teria se revoltado com o herdeiro da Gucci após ele pedir o divórcio depois de tê-la abandonado na década de 1980, quando saiu de casa para fazer uma viagem e nunca mais voltou.

A separação oficial ocorreu em 1994 e, na época, os dois estavam em momentos distintos da vida: Maurizio havia se envolvido e morava com uma jovem, enquanto a ex-esposa tratava um câncer no cérebro, precisando ser submetida a uma cirurgia.

De acordo com a mídia italiana, Reggiani ficou furiosa ao descobrir o novo romance do executivo logo depois que se recuperou da doença. Foi aí que ela teria planejado seu assassinato e recebido o aval da vidente Auriemma, responsável pela contratação da equipe.