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Idosos brasileiros ficam presos na Ucrânia após conhecerem primeira neta

João e Marilena foram à Ucrânia visitar a netinha Sofia, que havia acabado de nascer - Arquivo Pessoal
João e Marilena foram à Ucrânia visitar a netinha Sofia, que havia acabado de nascer Imagem: Arquivo Pessoal

26/02/2022 18h02

O brasileiro Guilherme Palma Donadio, de 34 anos, mora há 5 anos em Lviv (540 km da capital, Kiev), e tem uma filha recém-nascida com sua esposa Oksana, que é ucraniana. Na madrugada do dia 24 de fevereiro, Guilherme acordou enquanto Oksana amamentava a bebê e acompanhava a notícia de que a Ucrânia estava sendo invadida pela Rússia.

Além da segurança da esposa, da filha, e do cãozinho da família, Guilherme tem uma preocupação extra: seus pais, os brasileiros João Batista e Marilena, também estão no país. O casal havia viajado para a Ucrânia há cerca de um mês para visitar o filho e conhecer a primeira netinha, que havia acabado de nascer.

Agora, enquanto fortes bombardeios atingem a capital, ambos estão presos na Ucrânia sem saber como voltar para casa. O casal não fala inglês nem ucraniano e, segundo Guilherme, não recebeu quase nenhum apoio da embaixada.

Há aglomeração em estação de trem em Lviv - muitas pessoas querem embarcar para a Polônia - BBC - BBC
Há aglomeração em estação de trem em Lviv - muitas pessoas querem embarcar para a Polônia
Imagem: BBC

Ataque por todos os lados

"Eu tinha certeza que alguma coisa ia acontecer, mas foi uma surpresa o tamanho desse ataque, por todos os flancos possíveis", conta o brasileiro, que tem cidadania ucraniana e mora perto da fronteira com a Polônia, no oeste do país.

"É uma desgraça", desabafa.

"Eu achava que seria nas regiões de Luhansk e Donetsk (no leste do país) e na Crimeia (no sul). Não em Kiev. (Um país) atacar a capital (de outro país europeu) era algo que não acontecia desde a Segunda Guerra Mundial."

"Meus pais estavam com muito medo, claro. Apesar de morarem em São Paulo com toda a violência que tem aí, bombardeio de avião, de míssil é outra conversa", diz Guilherme.

Por enquanto, Lviv ainda não foi atingida por conflito direto - mas a população aumentou muito, com milhares de pessoas fugindo de regiões onde está havendo bombardeio. A venda de gasolina está limitada, há toque de recolher durante a noite, filas enormes nos mercados e congestionamento nas estradas que levam à cidade.

Com o conflito, os pais de Guilherme - João Batista e Marilena - acabaram ficando presos na cidade, impedidos de voltar ao Brasil. O espaço aéreo está fechado, as estradas estão congestionadas e há uma espera de três dias na fronteira com a Polônia para atravessar.

Os trens que ainda estão fazendo trajeto para a Polônia estão lotados e é muito difícil conseguir vaga - mesmo assim, Guilherme vai tentar conseguir lugares para os pais amanhã.

Eles diz que não quer tentar levar os pais nem pela Hungria nem pela a Romênia pois a rota não é mais segura, devido a conflitos no caminho.

Guilherme mora há 5 anos em Lviv - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Guilherme mora há 5 anos em Lviv
Imagem: Arquivo Pessoal

Presos em Lviv

"Ainda temos internet e eletricidade, estamos seguros na medida do possível, mas não sabemos o que vai acontecer", relata o brasileiro.

"Isso pode acabar a qualquer minuto, pode tocar uma sirene aqui e termos um bombardeio."

Segundo Guilherme, a embaixada brasileira entrou em contato, mas seus pais não tiveram nenhum apoio na tentativa de voltar para casa.

"O trem que foi disponibilizado saindo de Kiev é um absurdo. Funciona assim: vocês entram no trem, aí chega na Romênia e é cada um por si só. Não ia ter suporte nenhum", afirma.

"Eu não tenho esperança nenhuma de que a embaixada vá ajudar."

Enquanto tenta encontrar uma solução para o retorno seus pais, Guilherme está separado de sua filha recém-nascida e da esposa - ele as levou para um vilarejo no interior onde a família dela mora.

"Se houver algum tipo de bombardeio ou conflito armado em Lviv, levo meus pais para o vilarejo e ficamos lá", diz. "Mas eles querem voltar para o Brasil."

Oksana, Guilherme, Sofia (no colo) e o cãozinho Rocky: família vai ficar em vilarejo no interior onde esperam que o conflito armado não chegue - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Oksana, Guilherme, Sofia (no colo) e o cãozinho Rocky: família vai ficar em vilarejo no interior onde esperam que o conflito armado não chegue
Imagem: Arquivo Pessoal

"Estou apreensivo, mas não tem que entrar em pânico", pontua. "Agora é esperar, manter a calma. Não adianta desesperar."

Embora tente encontrar saída para os pais, Guilherme não tem intenção de voltar para o Brasil por enquanto - sua esposa é ucraniana, sua filha acabou de nascer e ele havia acabado de comprar uma casa.

"Os ucranianos estão resistindo", diz ele. "Vi muita gente se voluntariando para lutar."

A Embaixada do Brasil em Kiev diz em nota que tem trabalhado, desde o agravamento das tensões, para a proteção dos cerca de 500 cidadãos brasileiros na Ucrânia. Diz também que "orienta os brasileiros a seguir as instruções das autoridades locais e acompanhar as notícias."

"Em Kiev, a recomendação para o momento é de se ficar em casa, exceto se houver ativação de sirenes", descreve a embaixada. O posto diplomático declarou também que transmitirá mais orientações ao longo do tempo.