À medida que o mundo lentamente reabre para as viagens, é um bom momento para lembrar que estamos emergindo de um período sem precedentes na história humana: nunca tanta gente esteve proibida de ir a tantos lugares, todos ao mesmo tempo.
Para o setor mundial de viagens e turismo, que movimenta 8,9 trilhões de dólares, os 330 milhões de empregos que ele cria, e o 1,4 bilhão de nós que participamos como viajantes em 2019, as grandes questões são: as coisas vão algum dia retornar ao normal? Como será esse "novo normal"?
A Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas calcula que o número de viajantes internacionais poderá cair até 80%. Então, a outra grande questão é se ter uns 3 milhões de pessoas a menos trafegando pelo mundo, todo dia, é tão ruim assim, afinal de contas. Quem sabe, poderia ser até uma coisa boa?
Há muito o setor turístico tem sido atacado por seu impacto imensamente negativo sobre o meio ambiente, a forma como transforma a cultura em bem de consumo, expulsa os residentes de lugares onde têm vivido há gerações, e rouba as almas dos que permanecem.
Os defensores, contudo, sempre alegam que os benefícios econômicos superam as desvantagens, sendo as viagens e turismo atualmente responsáveis por quase 11% dos empregos de todo o mundo. O argumento comercial parece inatacável, tratando-se de um setor que contribuiu para quase 10% do PIB mundial em 2019.
Aí veio a covid-19. E súbito se constata que, afinal, essa atividade não é tão boa assim para os negócios: foi o turismo da China continental, onde os especialistas creem que o surto se originou, o responsável por a doença alcançar proporções de pandemia dentro de poucas semanas.
A Universidade de Cambridge calcula que, no pior dos casos, a economia global possa perder até 82 trilhões de dólares nos próximos cinco anos, devido aos danos da pandemia. Mesmo a "projeção consensual" do estudo, prevendo um prejuízo de 27 trilhões de dólares em cinco anos, continua sendo prova de que não há mais argumento comercial pelo turismo.
Visto por esse ângulo, o setor se revela como o maior conto do vigário da história da globalização. Ainda assim, uma maioria insiste em acreditar que ele é uma boa coisa, apesar de todas esmagadoras provas em contrário.
Como Dorothy no início do filme O Mágico de Oz, de 1939, continuamos acreditando que felicidade é viajar para distantes locais exóticos, "para além do arco-íris", onde os céus são azuis e os sonhos se tornam realidade. Acreditamos nisso, embora raramente seja o que vivenciamos.
Aí viajamos para novos lugares, procurando mais felicidade, maior realização. Essa é a dinâmica mortal que está propelindo o turismo em todo o mundo. A menos que escapemos dela, nunca estaremos seguros, sustentáveis ou econômicos.
Com a Europa reavivando sua indústria turística, muitos se preparam para encarar esperas mais longas nos aeroportos, preços mais altos de passagens e acomodação, serviços reduzidos e acesso restrito a resorts e atrações culturais. Já outros preferirão cortar seus planos de férias, em vez de participar da restauração de um turismo que tenta se reinventar como setor mais seguro, mais sustentável.
Isso quer dizer: passar mais tempo em casa e na própria localidade. E para quem vive em metrópoles, como eu, haverá mais de nossas cidades para aproveitar, sem os turistas.
Quando Dorothy finalmente acorda de seu sonho, lá no Kansas, ela revela uma lição aprendida em Oz que também poderia nos ajudar a formar expectativas mais realistas sobre o turismo, nesse momento em que se tenta reavivá-lo: "Não há lugar como nosso lar."
Kevin Cote é produtor de TV do Departamento de Economia da DW.
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