Lieg, o vilarejo sem nenhuma infecção por coronavírus
Lieg, com seus 400 habitantes, fica em uma região pitoresca do estado da Renânia-Palatinado, no oeste da Alemanha. A apenas seis quilômetros a leste do belo rio Mosela, o vilarejo abriga diversas casas de estilo enxaimel cuidadosamente restauradas, um serviço voluntário de bombeiros - algo que é encontrado na maioria dos pequenos povoados alemães —, uma escola e, bem no coração do vilarejo, uma charmosa igreja.
Os habitantes deste povoado se encontram no centro de uma história tão incrível que já está se falando do "milagre de Lieg". Desde o início da pandemia, 3,25 milhões de pessoas em toda a Alemanha foram infectadas com o coronavírus e, na maior parte do país, as altas taxas de incidência levaram a rígidos lockdowns e toques de recolher.
Enquanto isso, em Lieg, o número de novas infecções é atualmente zero. Desde o início da pandemia, há 14 meses, o vilarejo não registrou nenhum caso de covid-19. É como se o vírus se chocasse contra uma parede de vidro imaginária ao atingir os limites do povoado.
Heinz Zilles, o prefeito local, mostra-se tão surpreso quanto todos os outros: "Tivemos uma sorte inacreditável até agora. Claro, não há garantias, mas talvez, em algum lugar lá no céu, haja um anjo da guarda cuidando de nós."
O 'milagre de Lieg' - um exagero da mídia?
Para Zilles, de 57 anos, o telefone não parou de tocar nas últimas duas semanas. Quando o jornal local divulgou a história pela primeira vez, ele não tinha ideia da avalanche midiática que ela iria provocar. Desde então, todos os repórteres querem saber onde Lieg está acertando. Então, qual é a fórmula mágica?
"Em meio a todas as notícias chocantes que ouvimos, nossa história envia uma mensagem positiva", avalia Heinz Zilles.
"Há muito espírito comunitário por aqui, muitas pessoas envolvidas em trabalho voluntário, sempre dispostas a ajudar e a fazer o que precisa que ser feito. Todos se veem como parte de uma equipe e cumprem o seu papel", diz Zilles. Os jovens do vilarejo também se uniram e criaram um serviço de compras de "jovens para idosos". Já outro grupo se encarrega de visitas os mais velhos - sempre com um pequeno presente à mão. Os pais, por sua vez, têm recolhido dinheiro para comprar filtros de ar para a escola de Lieg.
Sem negacionismo
"Aquilo que os políticos geralmente prometem, mas não cumprem - é aqui que nós assumimos o controle", diz o prefeito, visivelmente orgulhoso. Ele acrescenta que Lieg serve assim de exemplo vivo do que distingue a maioria de pequenas comunidades semelhantes na Alemanha: as pessoas se conhecem e cuidam umas das outras.
E nem mesmo uma incidência zero de infecções faz os habitantes se perguntarem se o vírus realmente existe. "Não há um único negacionista do coronavírus em Lieg", garante Zilles. "As pessoas aderem às regras, são sensatas e disciplinadas e aceitam que estamos lidando com uma pandemia mundial com consequências muito grandes".
O fato de não ter ocorrido nenhum caso de covid-19 em Lieg é ainda mais notável visto que 90% da população ativa viaja diariamente para o trabalho. "É preciso manter o zero" - eis um velho ditado do mundo do futebol que chama a atenção para o fato de que só se pode vencer sem levar gol. Os habitantes de Lieg fizeram disso o seu lema.
Sem sair da metáfora esportiva, pode-se dizer que Heinz Zilles está jogando um jogo cauteloso e no qual espera que todos sejam vencedores. "Isso não é uma competição — Deus me livre! E também sempre há o risco de não conseguirmos manter o nosso zero. Neste caso, saberíamos que não é culpa de ninguém e que todos nós fizemos o nosso melhor."
Apartamentos de férias fechados
Martin Weil poderia apontar para a taxa de infecção zero de seu vilarejo para atrair futuros negócios para os quatro apartamentos de férias que ele aluga. Não que isso o ajudasse agora, com as rígidas restrições impostas em todo o país.
Em circunstâncias normais, os apartamentos estariam lotados. Seu "Landhof Lieg" é popular para passeios a pé, pela possibilidade de se cavalgar em éguas islandesas e pela mais bela ponte de corda suspensa da Alemanha. Mas desde 2 de novembro, Weil não tem mais permissão para alugar para turistas: regras da covid-19. E isso apesar da taxa zero.
"Eu realmente não consigo me decidir. Por um lado, apartamentos de férias são ideais, porque reduzem o contato e mantêm as pessoas isoladas. Mas também entra a questão: nós realmente queremos que pessoas de regiões com altas taxas de infecção passem suas férias aqui?"
Outro fator no "milagre de Lieg" é que ninguém quer ser o primeiro a trazer o vírus para o vilarejo. Martin Weil, obviamente, tampouco — ainda que a pandemia coloque em risco a existência de seu modelo de negócio mesmo com o auxílio emergencial recebido. Mas toda a atenção da mídia sobre Lieg também pode ter algo de bom. "Talvez algo fique na memória das pessoas e isso atraia novos visitantes."
O primeiro centro de testes de covid-19 de Lieg
A poucos passos dos apartamentos de férias de Martin Weil está um pequeno centro comunitário chamado Hunsrück Hall. Ele é o foco dos esforços mais recentes para garantir que o zero seja mantido. Todas as tardes de sábado, o local é transformado em um centro de testes para os residentes de Lieg. No último fim de semana, quando foi inaugurado, 80 pessoas de todas as faixas etárias compareceram. Eles obtiveram seus resultados em apenas alguns minutos - todos negativos.
A iniciativa é organizada pela unidade de bombeiros voluntários e sob a liderança do bombeiro chefe Daniel Platten.
"Quando as pessoas souberam dos nossos planos, a resposta foi totalmente positiva. Ninguém disse que não iria participar. Pelo contrário: as pessoas estão felizes por ter um centro de testes por perto", diz Platten. Todo fim de semana, oito bombeiros trabalham lado a lado com a Cruz Vermelha para garantir que a história inspiradora de Lieg tenha continuidade.
E para onde essa história vai seguir? Heinz Zilles já tem um plano: se Lieg sobreviver ao verão sem nenhuma infecção, então é hora de fazer algo especial. "Se realmente conseguirmos sobreviver à pandemia sem registrar nenhuma infecção, então teremos uma grande festa no povoado."
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