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Corpo de escalador é achado após 37 anos: por que há tantos casos assim?

Restos humanos e equipamentos foram encontrados em 12 de julho e levados para análise, que comprovou ligação com alpinista desaparecido - Valais Cantonal Police/Handout via REUTERS
Restos humanos e equipamentos foram encontrados em 12 de julho e levados para análise, que comprovou ligação com alpinista desaparecido Imagem: Valais Cantonal Police/Handout via REUTERS

29/07/2023 11h08

Consequência da crise climática, o derretimento acelerado dos Alpes trouxe à tona neste mês os restos mortais de um alpinista alemão dado como desaparecido desde 1986 e encontrado por um grupo de desportistas que cruzava a geleira de Theodul, ao sul de Zermatt, na Suíça, próximo à icônica montanha de Matterhorn.

Na época, buscas pelo homem, então com 38 anos, foram empreendidas sem sucesso — a região fica coberta de neve o ano inteiro e faz parte de uma rota famosa entre esquiadores, a mais alta da Europa.

A polícia suíça, que reportou o caso nesta quinta-feira (27/07), não deu outros detalhes sobre a identidade da vítima, confirmada a partir de uma análise de DNA.

O degelo acelerado da cadeia montanhosa dos Alpes, que cruza nove países europeus, tem feito emergir nos últimos anos restos mortais de pessoas que eram dadas como desaparecidas há décadas — a lista inclui de soldados da Primeira Guerra Mundial a alpinistas, mas também destroços de acidentes aéreos. As autoridades suíças mantêm uma lista com mais de 300 desaparecidos desde 1925.

No ano passado, os restos de um acidente aéreo ocorrido em 1968 reemergiram na geleira Aletsch. Em 2015, foram encontrados os corpos de dois jovens alpinistas japoneses desaparecidos no Matterhorn durante uma tempestade de neve em 1970.

No ano anterior, cadáveres de soldados austríacos mortos na Primeira Guerra Mundial foram descobertos relativamente bem conservados no lado italiano da cadeia montanhosa, próximo à cidade de Peio.

Explorador na geleira de Theodul - Ted Levine/Getty Images - Ted Levine/Getty Images
Escalador na geleira de Theodul
Imagem: Ted Levine/Getty Images

Alpes estão desaparecendo

Os Alpes Suíços tiveram em 2022 a maior taxa de derretimento da história desde o início das medições, mais de uma centena de anos atrás, com perda de 6% da cobertura — quase o dobro do recorde anterior, de 2003.

O degelo chegou a tal ponto que, no ano passado, mudou a fronteira que divide Suíça e Itália — cujo traçado original seguia um curso d'água que se formava quando as temperaturas subiam.

A diminuição da geleira mudou o curso dessa água de degelo alterando também, na prática, o limite entre os dois países, que agora discutem como redesenhá-lo.

Cientistas apontam que a região já perdeu mais da metade da massa de gelo que tinha desde 1931, e alertam que a camada restante pode desaparecer completamente até o final deste século — prognóstico que deve piorar diante dos novos recordes de calor registrados em 2023 e a perspectiva de temperaturas globais ainda mais altas sob o efeito do El Niño.

A região do Mont Blanc, nos Alpes Franceses, é sujeita a mudanças climáticas bruscas - Reprodução/Wikipedia/Tinelot Wittermans - Reprodução/Wikipedia/Tinelot Wittermans
A região do Mont Blanc, nos Alpes Franceses, é sujeita a mudanças climáticas bruscas
Imagem: Reprodução/Wikipedia/Tinelot Wittermans

Mais do que paisagens estonteantes, glaciares alpinos são essenciais para o equilíbrio dos recursos hídricos na Europa e para o ecossistema. Artérias fluviais importantes do continente, como os rios Reno e Danúbio, dependem da neve que cai no inverno sobre essas montanhas.

A falta d'água afeta a agricultura e a indústria, além de se refletir no abastecimento ao cidadão comum e no transporte de cargas. Alterações na temperatura das águas também podem ser fatais para os peixes.