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A vida em família na Antártida, o único continente sem o novo coronavírus

Normal Walter Nahueltripay, chefe da estação de pesquisa argentina Base Esperanza, vive na região com outras 62 pessoas, incluindo a esposa e dois filhos, todos espectadores à distância da pandemia que paralisou o resto do mundo - Reprodução/Facebook
Normal Walter Nahueltripay, chefe da estação de pesquisa argentina Base Esperanza, vive na região com outras 62 pessoas, incluindo a esposa e dois filhos, todos espectadores à distância da pandemia que paralisou o resto do mundo Imagem: Reprodução/Facebook

Da EFE

13/04/2020 09h22

Há um lugar no mundo onde nada mudou durante a pandemia de Covid-19, com as crianças indo à escola e sem perigo ao sair de casa. Devido ao frio, o isolamento já é de costume, mas dificilmente há um lugar mais seguro que a Antártida atualmente.

Essas palavras foram ditas à Agência Efe pelo tenente-coronel Normal Walter Nahueltripay, chefe da estação de pesquisa argentina Base Esperanza, onde vive com outras 62 pessoas, incluindo a esposa e dois filhos, todos espectadores à distância da pandemia que paralisou o resto do mundo.

Trabalho e escola inalterados

"Pode-se dizer que estamos naturalmente isolados na Antártida", comentou Nahueltripay, líder desta expedição durante 12 meses. A equipe será substituída por outra após o período.

Esta é a única base argentina que se assemelha a um povoado. Os militares se mudam com as famílias durante um ano, e o local conta com um colégio público para as crianças estudem normalmente.

Os habitantes da Base Esperanza, situada na península Trinity, que por sua vez é uma extensão da península Antártica, continuam a levar a vida normalmente, enquanto o resto do mundo vive uma indefinição.

"Estamos fazendo exatamente as mesmas atividades que vínhamos fazendo habitualmente", disse Nahueltripay, ao explicar que a quarentena não é obrigatória nesta base científica.

Entre as atividades mencionadas estão trabalhos de sismografia e biologia - os pinguins fazem parte do meio ambiente na base -, assim como a manutenção dos diversos edifícios que compõem o local e uma pequena rádio que transmite com regularidade.

As crianças que estão na escola primária continuam em aulas presenciais com dois professores que também vivem na base durante um ano inteiro.

Os alunos de ensino fundamental e médio estudam a distância, pela internet. Ou seja, há algumas semanas estão exatamente nas mesmas condições que o resto dos estudantes argentinos. Ao todo, 15 menores em idade escolar vivem na base de pesquisa argentina.

As crianças gostam de sair para brincar na neve, segundo Nahueltripay, e essas são as únicas crianças argentinas que podem sair para brincar na rua, mesmo que não por muito tempo devido às baixas temperaturas.

Ano perfeito para viver na Antártica

"Se eu tivesse que escolher um ano em que gostaria de viver com a minha família na Antártica, seria agora", analisou o chefe da missão, de 43 anos e natural da província de Chubut, que durante a conversa com a Efe realiza uma guarda longe da base, em meio a ventos de 120 quilômetros por hora que fazem tremer as paredes da instalação onde trabalha.

Literalmente isolado desde dezembro do ano passado, Nahueltripay deu conselhos especializados para que o restante do mundo supere o confinamento em casa.

"O segredo está em programar absolutamente todas as atividades que podem ser feitas durante o dia, e tentar variar essas atividades caso a quarentena seja prolongada", explicou.

Para quem tem filhos, a recomendação é fazer o mesmo que ele começou a fazer quando chegou com a família à Antártica: "aproveitar o tempo em família que é perdido quando trabalhamos fora de casa o dia todo".

Nahueltripay disse que todos na Base Esperanza estão preocupados com os entes queridos no continente sul-americano, mas que felizmente não tem parentes infectados com Covid-19.

Embora o clima na Antártica fique ainda pior em abril, motivo pelo qual o continente não costuma receber visitantes, durante os meses de verão no hemisfério Sul houve algumas chegadas, como carregamentos de abastecimentos e turistas, pouco antes da propagação global do coronavírus SARS-CoV-2.

Esses foram os meses mais perigosos para os habitantes locais, que adotaram as medidas que o Ministério da Defesa argentino considerou adequadas no momento.

"Quando este problema surgiu em Wuhan (China), todos tiveram de pedir uma declaração juramentada a todos os navios que vinham para a Antártica", relembrou.

Após o verão, o contato com o mundo exterior é praticamente inexistente.

"Não há nenhum outro continente onde o vírus não tenha chegado. Até nas Ilhas Malvinas, chegou", declarou o tenente-coronel.