Como nasce uma coleção de moda? O Cerrado e a Amazônia inspiram estilista
Foi na sua própria conexão com o Brasil, redescoberta nas poesias do livro "Menino do Mato", de Manoel de Barros, que Rafaella Caniello, diretora criativa da Neriage, desenvolveu a nova coleção de sua marca.
Intitulada Trilha, o nome reflete à trajetória de amadurecimento da Neriage desde seu lançamento, em 2017, e aos caminhos traçados pela estilista, em especial pelo Alto Paraíso, em Goiás, e por Manaus.
Destas viagens, o estudo das referências e suas possibilidades definiram um mood abrasileirado. Para criar algo prático de vestir, foi preciso interpretar o que Rafaella viu e sentiu.
Como reflexo das paisagens fotografadas, surgiu uma paleta de cores com tons sóbrios como areia, ferrugem, terra e ocre, dos planaltos do cerrado e cores mais concentradas como verde escuro e roxo do reflexo dos rios ao entardecer.
Para a construção das roupas, tecidos combinados como uma leve brincadeira de texturas no corpo das peças. Inspirado nas sobreposições da própria natureza, os plissados dos vestidos e o mix de texturas da lã e da seda de casacos e calças moldam a composição de looks alongados e monocromáticos.
Dos artesãos visitados nas comunidades locais, vieram os acessórios da coleção. Em especial a Associação da Mulheres Indígenas do Alto Negro (AMARAN), com sede em Manaus, que funciona como uma rede de apoio para mulheres indígenas que buscam por emprego, fonte de renda um espaço confortável para discussões de pautas do dia a dia.
Em um processo que durou cerca de dois meses, a estilista desenvolveu, ao lado de oito artesãs mulheres, os modelos das bolsas desfilados no SPFW. A elaboração das peças aconteceu em conjunto desde os primeiros esboços e desenhos ao trabalho árduo manual em palha seca microtrançada para construção de cestarias com franjas despojadas.
No universo da Neriage? O resultado é uma imagem exuberante, espelho do tradicional cerrado brasileiro e das maravilhas da Amazônia, combinada com as palavras livres e inocentes do poeta Manoel de Barros e sua instintiva ligação com a natureza:
Desde o começo do mundo água e chão se amam
e se entram amorosamente
e se fecundam.
Nascem peixes para habitar os rios
E nascem pássaros para habitar as árvores.
As águas ainda ajudam na formação dos caracóis e das
suas lesmas.
As águas são a epifania da criação.
Agora eu penso nas águas do Pantanal.
Penso nos rios infantis que ainda procuram declives
para escorrer.
Porque as águas deste lugar ainda são espraiadas para
alegria das garças.
Estes pequenos corixos ainda precisam de formar
barrancos para se comportarem em seus leitos.
Penso com humildade que fui convidado para o
banquete destas águas.
Porque sou de bugre.
Porque sou de brejo.
Acho agora que estas águas que bem conhecem a
inocência de seus pássaros e de suas árvores.
Que elas pertencem também de nossas origens.
Louvo portanto esta fonte de todos os seres e de todas
as plantas.
Vez que todos somos devedores destas águas.
Louvo ainda as vozes dos habitantes deste lugar que
trazem para nós, na umidez de suas palavras, a boa
inocência de nossas origens".
Manoel de Barros
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