E com os personagens do sertão nasceu seu acervo: a família de retirantes nordestinos, um pai que olha para o céu à procura de chuva, uma mãe que amamenta um bebê enquanto carrega um balde d'água na cabeça, uma criança ressequida e... um cão. "As famílias de retirantes sempre se completam com um cachorro ao lado".
O cão de madeira foi popularizado como uma representação da cachorra Baleia, do prestigiado livro "Vidas Secas". A morte trágica do animal em meio ao flagelo na vida no sertão é um dos ápices da obra de Graciliano Ramos. "Meus avôs e meu pai eram vaqueiros e também mexiam com a lavoura. Vi de perto eles perderem muita coisa por causa da seca", conta.
Tem gente que vê minha obra em feiras que participo pelo Brasil e se comove, tem quem chega a chorar"
Estilo marcante
Entre as figuras alongadas de sua obra, ganhou fama o cachorro belo e magrelo, esguio e com as costelas à mostra, tronco mirrado e patas finíssimas - que nem sempre fez sucesso.
"Eu fazia experimento se minhas ficavam compridas, não ficavam com a forma perfeita. No começo, as pessoas aqui de Sertânia me criticavam, achavam feio o que eu fazia. Tinha gente que falava: mas esse boi mais parece uma girafa! Mas, com o tempo, eu entendi que estava no caminho certo e que emagrecê-las, dava uma certa leveza", revela Marcos.
Até nas mãos do papa
Os pouco mais de dois mil quilômetros de área de extensão da cidade de Sertânia não comportaram a arte de Marcos.
Pelas feiras e galerias, as esculturas passearam pelo Brasil e chegaram a lugares como o Canadá, Bélgica e Israel. Ambientaram cena de novela da Globo ("A Lei do Amor", em 2017), e decoração de Maurício Arruda, no "Decora" (GNT).
Até nas mãos do papa Francisco chegou. "Teve uma peça minha que foi dada a ele por um arcebispo da igreja católica", relembra.
Atualmente, Marcos tem uma oficina em conjunto com familiares e vizinhos que aprenderam a técnica das peças do artesão. "Cada um faz uma parte das peças e eu participo dos processos e faço a finalização. É assim que, hoje, conseguimos fazer umas 200 peças por mês para vender", descreve.
O artesão conta que essa é uma de suas maiores realizações até aqui: ter espalhado o amor que vive de sua arte para outras mãos: "Hoje tem umas 12 pessoas que sobrevivem com o trabalho que ensinei. É bem compensador. Dá uma massageada no ego", relata Marcos.
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