Basta andar pelas ruas de São Paulo e olhar pra cima: o Brasil vê a efervescência da street art como nunca. Há menos de cinco anos, o colorido passou a cobrir prédios em grandes empenas admiráveis. "São Paulo está se transformando na meca do grafite", conta Speto.
Artista plástico e grafiteiro, ele vive pendurado com seu time, transformando o skyline paulistano - passe pela região do Mercado Central nesse mês e veja João Gilberto ganhando contornos, em traço inconfundível. Segundo ele, esta é apenas uma das 40 empenas previstas para esse 2020, assinadas por nomes diversos.
Não só o grafite, mas o lambe-lambe, as colagens e intervenções em fotografias fazem parte da arte de rua que transforma São Paulo. Daí começa o movimento. Ver a cidade ganhando cores, provocações e traços fortes gera o desejo de ter uma obra em casa. "Isso tem reflexo também no mercado de arte", explica Speto.
Mas que fique claro, há uma diferença: nas ruas, as obras se tornam pontos turísticos, referências de localização, mantêm-se em cena como patrimônio cultural imutável. Transpostas ao décor, a ideia é que sejam flexíveis e possam acompanhar o morador pelas casas em que morar - afinal, nunca se sabe quando o artista que assina uma obra vai "estourar".
Kobra na parede de casa
Nesse caso, ponto para a designer de interiores Maria Di Pace, no projeto assinado ao lado do arquiteto e irmão Raul Di Pace. Na grande reforma de um apartamento, várias paredes foram demolidas. Restou um pilar em frente à porta de entrada. O que fazer?
"Resolvemos assumir. O cliente tinha uma fotografia maravilhosa dos avós passeando pela Paulista e o Kobra fez essa intervenção", ela conta. Só que em vez de pintar diretamente no concreto, o artista fez uma tela que cobria perfeitamente altura e largura do pilar. "Caso os moradores se mudassem, poderiam levar a obra".
Lambes na cozinha
Quando a street art se une à pop art no décor, o ambiente entra em um contexto irreverente, bem-humorado. O arquiteto Guilherme Torres é mestre em conectar as duas: veja esses lambe-lambes que revestem os armários da cozinha de sua casa, criados pelo SHN. O entorno colorido reforça a linguagem urbana do projeto.
Pelé Beijoqueiro: no prédio e no lavabo
Com o lambe-lambe é mais difícil "levar a obra para a próxima casa", aponta o artista Luís Bueno, o Bueno Caos. Seu Pelé Beijoqueiro precisa de cola e paredes para existir ao lado de ícones mundiais. "A arte urbana se multiplicou muito com as mídias sociais. É legal ver as pessoas se apropriarem disso em casa, é um reflexo positivo do trabalho", diz ele.
Bueno faz uma dessas intervenções em projeto residencial por mês - veja aqui um trabalho dele no projeto do Studio Arquiteturas, com execução da gráfica Fidalga - nome para anotar caso você queira um lambe-lambe em casa.
Entrevista: Speto, um autodidata
Ele é um dos nomes mais importantes na arte de rua do Brasil e se orgulha de fazer parte da primeira geração de grafiteiros do país - seus desenhos inspirados na xilogravura já ganharam foco até em clipe da cantora Beyoncé. Conheça o autodidata Paulo César Silva, o Speto.
Qual foi o grafite mais difícil até hoje?
O mais demorado foi em Fortaleza, no Festival Concreto: media 33 x 92 metros. Fiz mais de 70% dele sozinho e levei um mês, trabalhando 14 horas sem parar com a mão direita.
O que um bom grafiteiro precisa ter para "estourar" e vender suas obras?
Antes de tudo, entender os mecanismos do mercado de arte é importante. O que diferencia um artista de outro é o profissionalismo, a dedicação. Isso determina bastante uma carreira. Também é preciso ter uma boa equipe e lidar bem com as pessoas, fazer treinamentos, ser um bom empreendedor.
Você diz que esse ano será efervescente para a arte de rua em São Paulo. Como isso chega ao mercado de arte?
Nesse mercado existe o colecionador de obras, o consumidor que quer apenas um quadro para colocar em casa ou um mural que tenha a ver com o estilo dele e os novos colecionadores. Todos eles consomem e movimentam a arte. O artista que estiver focado será favorecido por esse momento.
Como um cliente te procura para grafitar a casa dele?
Há uns três anos aumentou bastante essa procura. Hoje não consigo mais tempo pra fazer isso. Mas é algo que pode acontecer de diversas formas. Uma vez estava pintando na Vila Madalena e uma pessoa parou e ficou olhando. Começamos a conversar, ficamos amigos. Virou meu cliente e quis levar meu desenho para Miami. Era o [colecionador de arte] David Grutman.
O grafite valioso de Basquiat e Banksy
Quando o quadro Untitled de Jean-Michel Basquiat foi vendido por mais de 110 milhões de dólares para um bilionário, em 2017, a arte contemporânea arregalou os olhos ao grafite. Basquiat incorporava formas vibrantes em uma profusão única de cores. Seu nome vale ouro desde então.
De lá pra cá, o grafite ganha cada vez mais espaço. Doze milhões de dólares é o valor que uma das obras de Banksy alcançou em um leilão em outubro de 2019. Ninguém sabe exatamente quem é esse artista por trás do spray, o que gera ainda mais especulação em torno das obras. A questão é que suas críticas sociais poéticas ganharam projeção - tudo por meio do grafite.
"Quando vemos um trabalho bem feito e empreendido com dedicação e profissionalismo, temos algo que pode custar caro no mercado de arte", diz Speto. Nomes como Osgemeos, Crânio e Kobra estouraram assim. Mas muitos outros continuam a surgir. Encontre o melhor traço para apostar.
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