"Estamos desesperados": brasileiros "presos" no exterior relatam drama
Por causa do coronavírus, muitas pessoas tiveram de adiar seus planos de viagem. Alguns brasileiros, porém, estão em uma situação ainda mais complicada. Muitos que conseguiram ir a outros países agora não conseguem retornar ao Brasil.
Nossa conversou com estes turistas que revelaram estar em situações desesperadoras, sem respostas das embaixadas, companhias aéreas ou qualquer autoridade responsável.
Esta é a situação, por exemplo de Rosangela Petta, que está confinada em uma casa de Crocetta del Montellona, na Itália. "Aqui estamos fazendo muito esforço para manter a calma e evitar o pânico. Não é fácil, só tem notícias preocupantes, como o aumento de 25% dos óbitos em um dia", diz.
Sua grande preocupação no momento é o dinheiro: "Só gasto em comida, bebida e material de higiene. O lema é economizar para não ter que entrar no cartão de crédito internacional, com esse câmbio assustador", conta Rosangela.
Sem orientações
Carolina Frexeira é outra brasileira que sofre para embarcar ao Brasil. Ela está a passeio em Cabo Verde, na África, desde o dia 8 de março. No momento, se encontra no aeroporto de Praia.
Ao procurar uma agência da Cabo Verde Airlines, não teve qualquer orientação de como poderia voltar para casa. "Estamos bem perdidos. Deveríamos ir para Ilha do Sal amanhã e seguir para o Brasil à noite, mas a empresa não atende o telefone, não responde e-mails. Acreditamos que se aproveitaram do decreto governamental e cancelaram os voos de retorno, que oficialmente deveriam estar mantidos", explica.
"Temos hospedagem até o dia 18 de março. A embaixada fechou às 13 horas, segundo a página do Facebook. Se formos para Sal, onde fica a agência sede da empresa, não há embaixada. Não há possibilidade de voo de volta pela Europa", conclui.
Países fechados
Na América Latina a situação não é diferente. A mineira Fernanda Eliópoulos está em Cusco, no Peru, e tinha voo marcado para o dia 17 de março, mas este foi cancelado sem maiores explicações da companhia aérea.
"Estamos desesperados à procura de hospedagem, e nossa situação não é das piores. Tem gente sem dinheiro e completamente à deriva, não vejo a hora de voltar para a minha casa. As companhias aéreas e as embaixadas não ajudam em nada, a situação está preocupante e estamos sem recursos", diz.
É o mesmo caso de Joanna Oliveira, que está com outros quatro brasileiros em Arequipa, também no Peru:
"Estamos em um hotel onde somos os únicos hóspedes. A sorte é que os donos do estabelecimento se solidarizaram com a gente e permitiram que ficássemos", explica.
Por determinação do governo local, há proibição de transitar nas ruas e todos os serviços estão fechados. Apenas um representante de cada família pode sair do local, mas precisa de uma autorização preenchida virtualmente e aprovada pelo governo peruano.
Cenário de caos
Segundo a brasileira, no dia em que foi noticiado o bloqueio de fronteiras, e início de quarentena, foi um caos. Na ocasião, ela estava na rodoviária pronta para embarcar à cidade de Puno, quando foi informada que as fronteiras fechariam, e que nenhum serviço rodoviário funcionaria a partir do dia seguinte: "Foi então que optamos por permanecer em Arequipa, que tem maior estrutura. Tentamos comprar passagem para Lima no dia seguinte, mas o terminal rodoviário havia fechado. Tentamos entrar no aeroporto, mas fomos impedidos. O clima era de pânico geral", explica.
Ela diz que o exército está nas ruas e as viaturas policiais dizem para as pessoas permanecerem em casas ou hotéis. "No momento, estamos aguardando orientações da embaixada. Fomos notificados que os governos chegaram em acordo para liberar os brasileiros, mas não sabemos como isso irá acontecer. Por isso o sentimento de incerteza e angústia", conta Joanna.
Outro caso de desespero é de Ricardo Lisboa Martins, que está em Lisboa (Portugal) desde o dia 6 de março. Segundo o alagoano, vários brasileiros estão presos no país, e a empresa aérea que comprou suas passagens mandou procurar a embaixada brasileira, que diz não poder fazer nada: "Precisamos da ajuda e pressão dos deputados e senadores para sermos repatriados. A única empresa que opera é a TAP, com passagens em torno de R$ 10 mil", explica. Veja o depoimento:
Resposta do Itamaraty
Em resposta oficial, o Ministério das Relações Exteriores informa que os "Consulados e Embaixadas do Brasil acompanham de perto a situação gerada por eventuais fechamentos de fronteiras por conta da pandemia de coronavírus, com especial atenção ao caso de turistas brasileiros buscando retorno".
Eles recomendam a todos os cidadãos brasileiros no exterior que mantenham a serenidade e observem estritamente as medidas determinadas pelas autoridades locais, e que, se necessário, busquem contato com o Consulado ou Embaixada do Brasil responsável pela região onde se encontram.
O órgão afirma que as embaixadas e consulados do Brasil continuam em funcionamento, mesmo com os depoimentos contrariando a afirmação.
Sobre isso, o Itamaraty disse que: "Por conta das medidas determinadas por autoridades locais, no entanto, muitos Consulados e Embaixadas estão funcionando em regime de teletrabalho ou com horário especial. Com isso, sugere-se aos cidadãos brasileiros que consultem as páginas das Embaixadas e Consulados responsáveis pela região onde se encontram para averiguar qual o regime adotado em cada país".
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