Diário de férias frustradas: há uma semana "presa" no Peru e sem respostas
LEIA O PRIMEIRO, SEGUNDO, TERCEIRO E QUARTO DEPOIMENTO DA REPÓRTER
Faz uma semana que o presidente do Peru, Martín Vizcarra, anunciou o fechamento das fronteiras do país. Já são sete dias tentando voltar ao Brasil, e aqui continuamos presos e sem saber quando haverá mais voos de repatriação.
Estamos dependendo de negociações entre a Embaixada do Brasil e o governo peruano. Não há outra forma de deixar o país que não seja via embaixada.
Sabemos que há voos da Latam habilitados para ir a Cusco e Lima retirar os mais de 600 brasileiros que ainda estão aqui. O que ocorre, segundo fontes no governo brasileiro e em cias aéreas, é que o Peru não está autorizando as decolagens. A saída é a conta-gotas, e não sabemos por que mantêm os estrangeiros aqui.
Até o momento, Cusco registra seis casos confirmados de covid-19, a maioria de estrangeiros, segundo as autoridades peruanas. Se for uma questão sanitária, não seria melhor tirar todos daqui logo de uma vez?
Sem assistência
Conforme o tempo passa, não somos só nós que ficamos aflitos. Nossos familiares e amigos também se angustiam com a demora nas negociações. Muitos nos sugerem pegar um ônibus até o Acre ou um carro até Lima. A via terrestre está bloqueada pela polícia nacional, não dá para ir até a fronteira sem um salvo-conduto. Ou nos perguntam se tentaremos ir até o aeroporto, quem sabe conseguir uma passagem. Nós não conseguimos sequer chegar até lá, não transitamos livremente.
Se tem uma coisa que aprendemos aqui no Peru em tempos de covid-19 é que tudo pode mudar muito rápido. Mesmo. Naquele domingo (15), às 20 horas, o presidente anunciou não apenas o fechamento das fronteiras, mas de todo o comércio exceto os serviços essenciais, como mercados e farmácias, a partir de 0 hora. Em pouco tempo, fomos de uma situação de quase normalidade para correria aos supermercados e, no caso de estrangeiros, aeroportos.
Dia-a-dia de tensão
As medidas peruanas são duras, e levadas muitíssimo a sério não apenas pelas autoridades policiais como também pela população. Quase ninguém circula nas ruas, seja a pé, seja de carro, que também estão proibidos de transitar sem liberação das autoridades. Não há táxis, muito menos Uber. Apenas caminhões transportando alimentos, carros da polícia, ambulâncias e, raramente, um ônibus municipal. O aeroporto é bloqueado por policiais. Só é possível entrar lá com autorização, quando há um voo previsto e, para isto, toda uma operação do exército é montada.
Nada, absolutamente nada além de mercados e farmácias está aberto. A maioria das pessoas, sejam peruanos ou estrangeiros, usa máscaras. O item é obrigatório para quem quiser entrar no mercado San Blas, onde os alimentos são vendidos em barracas. Para isso, dois oficiais controlam a entrada.
Fazemos as nossas compras para cada dois dias, mais ou menos. Quando eu e meu namorado chegamos ao mercado, só eu tenho máscara. Então, ele é impedido de entrar. A solução é amarrar ao rosto um lenço que eu usava no pescoço. Com isso, os oficiais na porta o deixam entrar.
O mercado está abastecido. Há de tudo: legumes, verduras, frutas, carnes, cereais e até alguns produtos de higiene e limpeza. Nós fazemos as nossas compras dando preferência aos alimentos mais nutritivos. Uma coisa que não nos pode acontecer aqui no Peru é ficarmos doentes, seja covid-19, seja qualquer virose ou uma gripezinha.
Do mercado vamos até uma padaria. A porta está fechada. Uma senhora de máscara nos atende da janela. Pedimos quatro pães, e eu estico a mão para entregar as moedas a ela, que me pede para deixar o dinheiro em cima do balcão. Ela não quer ter contato físico.
Caminhamos no meio da rua mesmo, afinal, não há carros. Quando um dos raros veículos circulando passa, subo na calçada. Ao fazer o movimento, me ponho no caminho de um peruano que vem da outra direção e me diz: "Un metro de distancia". Há pessoas que se afastam quando nos veem. Outras apenas nos cumprimentam e conversam normalmente.
Enquanto ficamos aqui, à espera de uma solução, tentamos criar uma rotina que nos ajude a manter firmes até a hora de irmos embora. A hora é de cuidar da saúde mental.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.