Com curadoria caprichada, brechós virtuais criam futuro do consumo de moda
A resposta para a pergunta "onde você comprou a sua roupa?" ser um brechó é cada vez mais comum.
Apoiando-se na ideia de sustentabilidade e de passar uma roupa antiga para a frente, essas lojas que já faziam parte do mundo da moda entre "garimpeiros" que batiam perna pelos estabelecimentos agora estão ainda mais populares no âmbito virtual.
Como aponta a consultora e ativista de design Kate Fletcher: "No futuro, o design de moda será liderado por impactos, não por tendências".
Quem já tinha o hábito ir às lojas atrás de itens vintage para o uso próprio agora investe nos perfis do Instagram com peças selecionadas para o seu público alvo. Na rede social, as roupas são expostas, negociadas e vendidas.
Ao Nossa, alguns dos donos de brechós de Instagram contaram um pouco sobre o que os levaram para esse mercado e suas perspectivas.
Camilla Gonçalves
Camilla encontrou o caminho pela curadoria de roupas após ter dificuldade de encontrar marcas atuais com que se identificasse e tivessem um valor acessível, durabilidade e um bom acabamento.
Criadora do @brechominante, em que faz inclusive até entregas de bicicleta aos clientes, a jovem considera o Instagram a sua "maior vitrine", desde que deu início ao brechó - há cinco anos fisicamente e um ano no mundo virtual.
"Garimpo e o upcycling representam 80% do futuro da moda", aponta. "Não acredito que as pessoas irão deixar de usufruir e abusar dos recursos naturais ou consumir de fast-shop, mas estão mais conscientes e exigem essa transparência também. Tanto com recursos naturais quanto humanos, que está incluso dentro desse efeito que o 'reusar' traz: diminuir impactos com a natureza e um trabalho em condições justas para muitas pessoas".
"Não costumo olhar etiqueta, não dou valor para marcas e tamanhos, prefiro pensar nessa peça com o conforto que ela vai trazer no corpo e, ao mesmo tempo, o quão legal ela é, na versatilidade dela para o dia a dia e a história por trás", acrescenta.
Leon Seff
Desde a adolescência, Leon já vendia roupas na sua lojinha e aposta atualmente em marcas de luxo e grife no @brechoseff.
"Tem o público que compra em brechós por ser mais barato e sustentável, mas tem também os que buscam exclusividade e itens raros", comenta.
"A questão do consumo consciente foi o que fez com que os brechós entrassem em alta. Não é sobre o quanto você paga, mas saber se a peça vale aquilo que você pagou ou não. Hoje, as pessoas estão muito mais ligadas nisso", opina.
"As pessoas estão cada vez mais com menos tempo e querem tudo rápido e pratico", diz ele sobre as compras online. "Sobre brechós, a maior vantagem, para mim, é mais pela exclusividade do que pelo valor. Eu, como colecionador, só consigo achar o que eu gosto em brechós. Além, é claro, da sustentabilidade".
Tiago e Yasmim
O @brechonofundinho nasceu a partir do desejo de Yasmim em criar o seu próprio negócio. No Instagram, a marca começou a ganhar reconhecimento, principalmente com as produções fotográficas, e surgiu a oportunidade de tornar o Fundinho Brechó uma loja física.
Foi nesta parte que entrou o sócio Tiago, que auxiliou não só nos editoriais, como na curadoria dos garimpos.
"Estamos cada vez mais focando em estratégias de marketing não apenas para vender peças retrô, mas, sim, um conceito por trás de toda produção fotográfica em nossos editoriais. Muitos de nossos clientes não vêm até o brechó apenas para comprar roupas vintage, mas para saber de onde vem esse trabalho tão minucioso para 'vender roupas usadas'".
"O jeito mais rápido de chegar até o consumidor é de maneira online. Todos estão conectados", acrescenta Tiago, "É possível usar o Instagram como uma ferramenta poderosa para convencer as pessoas de que é possível se vestir de forma barata, criando combinações incríveis com looks de brechó. Você conquista um público fiel que começa a consumir mais em brechós e a defender a ideia de sustentabilidade junto com você".
Ingrid Thainá Guimarães
As amigas de Ingrid sempre perguntavam onde ela tinha comprado suas roupas. A partir daí, ela viu a oportunidade de começar a vender as peças que encontrava em brechós pelo WhatsApp e, depois, pela melhor logística, decidiu criar o Instagram com a ajuda da irmã para administrá-lo.
"Mesmo sendo péssima com tecnologia, eu estudei muito. Depois que minha irmã arranjou um emprego e precisou se distanciar, a conta tinha 5 mil seguidores. Passei a pesquisar no Pinterest e no YouTube e foi só crescendo. Em quatro meses, eu já estava com 40 mil seguidores", conta Ingrid.
Para a dona do @melhorespanos, a alavancada desse mercado online desmistifica a ideia generalizada de que roupas de brecho são "sujas ou estragadas", além de trazer o conforto para que a pessoa possa adquiri-las em casa.
"Brechó antigamente era visto como roupa velha e estragada, com espírito ruim. Agora, essa ideia está morrendo", opina. "Não é só comprar, lavar e enviar, existe um trabalho por trás".
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