"A xilogravura é formada por três artes em uma só. A primeira é o desenho, a segunda é a habilidade do entalhe e depois vem a pintura", explica Pablo Borges, filho de José Francisco Borges, que, há mais de 64 anos produz xilogravuras e cordéis em seu ateliê no município de Bezerros (PE).
Pablo é um dos herdeiros de sangue e do trabalho consolidado pelo patriarca de 85 anos. "Não há como negar, ele é o meu grande mestre", conta. "Desde pequeno sinto que minha missão é dar continuidade à arte de meu querido pai. E ele disse que eu sou a segunda pessoa dele", explica.
Menino xilógrafo
Observador astuto do que J. Borges produzia, Pablo menino notou sem demora o interesse pelo ofício. Conta que desde os quatro anos, os brinquedos favoritos sempre foram os papéis e os lápis. "Quando não estava na escola, estava vendo meu pai debruçado da feitura da xilogravura".
"Eu logo me apaixonei e decidi seguir os passos dele. Com sete anos, fiz minha primeira. E logo no dia seguinte, vendi a matriz, ganhei meu dinheirinho e isso foi um grande incentivo para eu começar a participar do meio artístico", relembra.
O primeiro desenho de Pablo foi carregado de simplicidade, uma marca delicada que os xilógrafos de grande categoria carregam: estampou em preto e branco uma mulher regando flores. Era apenas o início do que se transformou em carreira e no propósito respeitoso junto ao pai.
Arte sertaneja
No Brasil e mais firme no Nordeste, a xilogravura despontou integrada às capas e páginas dos cordéis, uma literatura em versos que ganhou esse nome por seus folhetos serem vendidos pendurados em cordas e barbantes em feiras livres.
Hoje, os desenhos brilham sozinhos, se tornaram objeto de desejo de galeristas colecionadores e compõem a decoração de ambientes como quadros, ornamentando casas e escritórios.
As obras de Pablo, por exemplo, conquistam pela variedade de cores e padrões: Maria Bonita e Lampião, São Francisco rodeado de animais, uma revoada de pássaros em uma paisagem do sertão, a cena clássica de retirantes inspirada na obra de Portinari e outras marcantes com o traço típico.
Processo cuidadoso
Até ela chegar às mãos dos apreciadores da arte, Pablo explica o processo de produção artesanal da xilogravura. "O primeiro passo é desenhar diretamente na madeira. Depois, é entalhar e, por último, realizar a pintura".
Instruído com o talento do pai, Pablo faz o esboço das obras com lápis, esculpe com goivas, marca o traço com rolo com tinta e transfere o desenho em folhas grandes folhas brancas.
Legado de família
"Eu era louco para fazer uma faculdade, ser engenheiro civil. Eu desisti de tudo para ficar ao lado de meu pai. Decidi me dedicar totalmente à arte e hoje não vejo fazendo outra coisa", afirma.
J. Borges é pai de 18 filhos. De todos eles, cinco se envolveram com a xilogravura. "Um morreu e seguimos em quatro. Eu e o Jaquim Bacaro, que assina as obras como Bacaro Borges, tocamos mais presentemente a produção de xilogravuras e o ateliê em Bezerros", conta Pablo.
"Eu acho que meu pai está bem tranquilo com o legado que nos deixou. Ele diz que está muito orgulhoso e realizado por darmos continuidade ao trabalho que ele tanto se dedicou na vida. Hoje ele tem certeza que será eternizado pela gente, cada vez mais".
"Eu também pretendo ensinar meus filhos a fazer xilogravura, por mais que não sigam como carreira, pretendo ensiná-los a levar esse valor cultural na vida deles", completa.
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