Em ofício "romântico", artesão transforma madeira em objetos únicos
"Quando você compra uma peça de design/arte, você compra também um pouco da pessoa que fez aquela obra", explica Lucas Lopes, que tem como obras autorias na marcenaria os batizados "banco sabiá", a "cadeira caipira", o "criado cubo".
É com matéria-prima, talento, protótipos e muita intuição que nascem as peças do acervo do arquiteto. A inspiração? As miudezas da observação; "da natureza e do mundo ao redor".
Em certo dia de calmaria da casa dos pais em Jundiaí (interior de São Paulo), uma delicadeza da natureza não passou despercebida aos olhos de Lucas. Limpando o quintal, notou que havia várias sementinhas que caíam e germinavam nos pés de uma frondosa árvore.
Vi que aquilo tinha um significado e pensei em criar algo representando que tudo o que é grandioso teve um começo muito pequeno"
E fiz uma obra mostrando o início daquela planta". Uma obra interativa, que mistura partes em madeira e latão com uma lupa e um gotejador de vidro.
Trajetória "romântica"
Apesar da formação, a arquitetura não matou a fome artística de Lucas, que desde a infância reproduz figuras da flora e da fauna em papel-manteiga.
"Trabalhei em dois escritórios e ficava o dia inteiro no computador. Tinha pouco trabalho prático e manual que é o que sempre gostei. A arquitetura dá técnica e conhecimento, mas traz suas limitações", relembra. Dali em diante, fez um curso de marcenaria que veio para saciar um tanto da liberdade criativa e autoral que buscava.
Lucas se afastou das telas, ganhou o novo amor pela madeira e criou um ateliê no fundo da chácara dos pais, num terreno repleto de verde e de bichos, onde passou muito tempo dando vida aos projetos.
"Existe uma coisa até meio romântica de pensar no trabalho de artesão, onde ele faz tudo só, porque é algo bem diferenciado do esquema industrial. A humanidade foi do manual para o extremo industrial, e agora está dando valor de novo para o que é manual. Acho que é um ciclo que sempre volta atrás porque tudo se satura, né?".
Apesar da filosofia do ofício, Lucas não deixa de pensar o preço de uma obra, que tem outros valores invisíveis envolvidos — a escolha da matéria-prima, por exemplo.
"Só me frustro um pouco porque quem compra esse tipo de peça são as pessoas que tem mais poder aquisitivo. É um nicho específico que compra design".
Marcenaria para o mundo
Em setembro, Lucas encostou as portas de seu ateliê e mudou-se para Portugal para fazer mestrado na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
O apetite pela arte e pelo fazer à mão ficou ainda maior com a trajetória na marcenaria e o próximo passo dele é estudar e se aprofundar nas artes plásticas no ramo da escultura.
"Quero experimentar para ver e, quem sabe, abrir portas melhores ainda", diz o artista que já morou e fincou raízes em Belém do Pará, Costa Rica, Estados Unidos, Jundiaí e Lisboa.
"Não tem caminho fechado, não tem certo e errado, é uma caminhada constante. Quando eu parar de buscar algo mais, meio que acabou a vida para mim", explica.
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