Durante pandemia, piloto e comissários relembram crises do 11/09 e H1N1
Na manhã do dia 11 de setembro de 2001, a comissária de bordo Andreia Costacurta havia acabado de chegar aos Estados Unidos, depois de trabalhar em um voo da companhia TAM entre o Brasil e a cidade de Miami, na Flórida.
O telefone do seu quarto de hotel tocou e, do outro lado da linha, estava sua supervisora, que lhe contou sobre os ataques às Torres Gêmeas de Nova York. "O espaço aéreo norte-americano foi fechado e, de repente, havia aviões de caça passando no céu", lembra ela.
O clima de guerra deixou Andreia e seus colegas em uma espécie de quarentena. "Por dois dias, não pudemos sair do hotel. Parecia que todo mundo era suspeito [de ser terrorista]".
Como a comissária, outros profissionais das companhias aéreas que ainda estão na ativa viram de perto as consequências dos ataques orquestrados por Osama bin Laden contra os Estados Unidos e outras crises mundiais que impactaram o setor aéreo, como a pandemia de H1N1, em 2009.
Apesar da experiência, Andreia e outros profissionais afirmam nunca ter visto algo parecido com os atuais efeitos do coronavírus.
Crise do Covid-19 é sem precedentes
Como Andreia, o comissário Sergio Dias também vivenciou as duas crises.
Trabalhando no setor aéreo desde os anos 80, o comissário diz que se sentiu impactado ao realizar seu primeiro voo para Nova York após o 11 de setembro. "Ali foi o epicentro da coisa toda. E ver de perto os escombros das Torres Gêmeas [causados por ataques feitos com aeronaves] foi bem assustador. Era um cenário de pós-guerra".
E os atentados acabaram afetando psicologicamente alguns viajantes. Em um voo, um passageiro abordou Sergio e lhe expressou uma inquietação: no avião, havia um homem abraçado a uma mochila [poderia ser uma bomba?]. "A gente foi verificar o que estava acontecendo, mas não era nada. Ele só estava carregando objetos para a família dele na mochila".
Já durante a pandemia de H1N1, ele conta que, no serviço de bordo da companhia em que trabalhava, os tripulantes começaram a utilizar luvas descartáveis. "Até então, não usávamos estes equipamentos de proteção. E, nos aeroportos, começamos a passar por procedimentos de assepsia, para evitar o contágio da doença".
Dias, entretanto, afirma que é muito mais grave o que está acontecendo neste momento. "O índice de letalidade [do H1N1] não era tão alto", lembra ele. "Naquela ocasião, a gente não percebia um grande temor entre os passageiros e os tripulantes. Era muito diferente do que estamos vivendo agora", diz ele, ressaltando que, atualmente, há um clima de medo maior dentro dos aviões.
"Entre tudo o que vivi na aviação, não há nada parecido com a atual crise", conta ele.
O comandante Roger Piani, da Latam, tem a mesma opinião.
Isolamento do piloto e impacto em Nova York
Atualmente piloto da companhia Latam, Piani também estava voando na época dos ataques terroristas e presenciou, em primeira mão, como os esquemas de segurança do setor aéreo mudaram por causa dos atentados.
"Até hoje, sentimos os efeitos com uma segurança mais rígida em aeroportos do mundo inteiro", avalia ele, dizendo, também, que dentro dos aviões mudou muita coisa. "Antes dos atentados, a porta da cabine dos pilotos na maioria dos aviões era de baixa resistência. Atualmente, elas são blindadas. Nós precisamos passar por curso para operá-las".
Piani lembra do tempo em que era comum ter passageiros visitando a cabine do comandante no meio de um voo. Atualmente, principalmente por causa dos ataques aéreos contra os Estados Unidos, isso não acontece mais.
E ele ainda relata que, hoje, existe um cuidadoso protocolo na hora em que os comissários precisam entrar na cabine do piloto. Em aviões que opera na Latam, Piani conta com um sistema de câmeras para verificar se o comissário realmente está sozinho no momento de ingressar na cabine.
Segurança a bordo
"Quando cheguei ao aeroporto de Miami para pegar o avião [após o 11 de setembro], os saguões estavam lotados de passageiros, pois todo mundo queria voltar para casa. Parecia o final dos tempos", relembra Andreia. "Era algo completamente diferente do que ocorre hoje, com os aeroportos vazios por causa do coronavírus".
Os primeiros impactos dos atentados terroristas contra os Estados Unidos foram sentidos logo de cara. A comissária relata que, naquele voo, os talheres de metal foram substituídos por talheres de plástico, inclusive na primeira classe, em uma tendência que iria se estender até os dias de hoje, com um controle muito maior da presença de objetos pontiagudos e cortantes no interior das aeronaves.
Porém, ela diz que não notou um sentimento de pânico entre os passageiros do voo - apesar de os ataques do 11 de setembro terem sido realizados com aeronaves sequestradas. "As pessoas estavam, na verdade, aliviadas e felizes com o retorno ao Brasil. E eu também não tive medo de voar naquele momento. Nós, comissários, somos preparados para manter a calma nestas horas".
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