Máscaras de pano viram fonte de renda e podem se tornar item fashion
Desde março, a Organização Mundial de Saúde recomenda que as pessoas usem máscaras em lugares públicos. Diante da escassez ou altos preços das máscaras descartáveis, o item feito de pano, chamado de máscara social, se tornou comum.
Marcas e pequenos empreendedores viram, então, no acessório uma forma de gerar caixa durante a pandemia de covid-19, infecção causada pelo novo coronavírus, e de contribuir para que o surto acabe o quanto antes.
Carlos Cuorini, CEO da Elo7, plataforma de vendas para pequenos empreendedores e artesãos, conta que, em abril, haviam por volta de 10 mil máscaras sociais disponíveis no site. "Porém, com a recomendação da OMS, esse número triplicou", diz em entrevista para Nossa. Atualmente, há por volta de 30 mil itens à venda e 4 mil vendedores com máscaras disponíveis.
Antes da pandemia, a costureira Rosimeire Sumaqueiro trabalhava com costura criativa, fazendo brinquedos e bonecos de tecido, na marca Meu Universo. Com a quarentena decretada, as feiras que ela participava pararam de acontecer e os pedidos não chegavam mais. "Fiquei zerada, não tinha mais dinheiro para pagar minhas contas básicas e precisava ter a ajuda de minhas filhas", fala. Ao longo do surto, ela voltou para a máquina de costura para fazer máscaras para seus familiares. "Quando vi, tinha vários pedidos de pessoas querendo o acessório."
De acordo com Rosimeire, desde março, ela já vendeu por volta de 3 mil máscaras. Cada uma delas custa R$ 12 no varejo ou R$ 5 nos pedidos acima das 30 unidades. "Foi sem pretensão nenhuma, mas foi o que me salvou", fala a costureira.
Máscaras sociais
Por mais que tivesse um trabalho social importante com egressos do sistema prisional, a Estamparia Social viu, com a chegada da pandemia ao Brasil, suas atividades pararem por tempo indeterminado. "Não podemos dar cursos nesse momento e ninguém está estampando camiseta com tudo isso acontecendo", fala Robson Matheus Sanches Arruda, fundador e gestor da marca.
Ainda assim, eles tiveram uma crise de consciência antes de começar a vender máscaras sociais, mesmo esta sendo a única forma que eles encontraram de ter caixa durante a pandemia.
Ficamos nos perguntando se gostaríamos de vender lenços para quem está chorando"
A saída foi fazer a venda casada com uma iniciativa para fazer doações para egressos em situação de vulnerabilidade venderem e terem uma renda. "Cada unidade que vendemos, nós doamos outras quatro", fala. A máscara sai, cada uma, por R$ 5. "A gente vendeu, no último mês, por volta de 500 itens e doamos 2 mil." A previsão de Robson é que essa quantidade dobre no próximo período de 30 dias. "Já tivemos, até agora, um aumento de 43% nas vendas".
Comprar = doar
Isaac Silva, designer cuja marca faz parte do calendário de moda de São Paulo, também encontrou na venda casada com doação uma maneira de prover máscaras. "Muitas pessoas não conseguem comprar o item, então a moda entra nesse papel", diz o estilista.
Assim, o artista pegou insumos retalhos de sua produção de roupas e, uma parte, doou para costureiras da Brasilândia e, com a outra, fez máscaras para serem vendidas sob sua etiqueta. "Elas têm um valor acessível: o pacote de seis unidades custa R$ 49. O comprador recebe quatro e duas são doadas para refugiados", afirma em entrevista por telefone.
Acessório fashion?
Assim, é comum as iniciativas que transformam as máscaras em uma maneira de retribuir e ajudar a sociedade. Porém, como qualquer acessório que se torna indispensável no vestuário, o item tem ganhado ares fashion.
A etiqueta carioca Osklen foi criticada por vender um conjunto com duas máscaras por cerca de R$ 140, enquanto a presidente da Eslováquia, Zuzana Caputova, viralizou nas redes sociais, em março, por combinar a máscara social com o casaco. Isso abre o debate sobre se é justo o item, até então de segurança sanitária, entrar para o look do dia como uma bolsa ou um chapéu.
Rosimeire comenta que, no início, os pedidos por máscaras vinham acompanhados de muita preocupação sobre segurança. "As pessoas as queriam mais justinhas, que ficassem certinhas no queixo e no nariz", diz a costureira. Nas últimas semanas, no entanto, a natureza das exigências mudou.
Agora elas estão pedindo máscaras de personagens, com estilizações. Eu não as faço porque esses tecidos costumam ser sintéticos e eu uso apenas os de 100% algodão, mais recomendado para a confecção de máscaras"
Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção, percebe que a popularização da máscara pode não recuperar o prejuízo causado pela pandemia no setor, mas que deve entrar, sim, para o guarda-roupa das pessoas e no repertório das confecções.
"Ainda não temos nenhum tratamento eficaz contra o novo coronavírus, então temos uma vida longa para esse tipo de acessório pela frente". O empresário acredita que a máscara deve fazer parte do nosso cotidiano até, pelo menos, meados de 2021. "Assim como já acontece em países como Japão, China e Coreia".
Máscara como hábito
Nesses países asiáticos, a máscara realmente já faz parte do repertório de seus habitantes. Ela é o acessório favorito de celebridades que querem se camuflar em lugares públicos e aparece até em looks do dia no Instagram.
Na série "Itaewon Class", uma das apostas da Netflix em dramas coreanos, há, inclusive, inserção de marca de uma fabricante de máscaras sociais. Mas, para Robson Arruda e Isaac Silva, não devemos comparar um aspecto cultural de países asiáticos com o contexto brasileiro, onde a máscara se tornou item essencial por conta de uma pandemia.
"É claro que ela se tornar um acessório é inevitável, mas não acho que este é o momento para isso", diz o estilista Isaac Silva. Para o artista, em um país que muitas pessoas não têm a possibilidade de comprar uma para se precaver, é insensibilidade torná-la um item de consumo. "Ela, neste momento, é um item básico."
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