Médico troca mochilão na Ásia por hospital no Nordeste durante a pandemia
"Estamos sempre procurando o olho do furacão." Assim o casal Pedro e Raissa Borges define sua jornada pelo mundo desde o início da pandemia de coronavírus. Eles faziam um mochilão pelo Sudeste Asiático havia nove meses e estavam na Índia quando começaram as medidas de restrição de deslocamento.
A volta para o Brasil foi uma verdadeira saga, que incluiu muita desinformação, gastos não programados e um pernoite no aeroporto de Dubai, já que a entrada de estrangeiros nos Emirados Árabes foi proibida no dia em que eles desembarcaram lá. Chegando em casa, e após cumprir a quarentena de 14 dias, Pedro, que é ginecologista e obstetra, foi chamado para trabalhar em um hospital de São Luís (MA) para substituir colegas médicos que estavam com covid-19.
Depois de enfrentar dias de lockdown pesado na capital maranhense, agora eles estão de mudança para Aracaju, onde receberam propostas de trabalho melhores. "Nas primeiras semanas, foi difícil a adaptação. A gente estava numa liberdade tremenda, cada dia conhecendo um lugar diferente e, do nada, tivemos que ficar trancados. 'Bugou' minha cabeça", diz Raissa.
Planos frustrados
Pedro e Raissa sempre foram apaixonados por viajar. Eles decidiram aproveitar o período após a conclusão dos estudos para realizar o sonho de um mochilão pelo mundo. Ela, advogada, tinha acabado de passar na prova na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ele tinha recém concluído a residência médica quando embarcaram para o Japão, em setembro de 2019.
"Eu sempre quis ser nômade digital, mas a minha profissão não permite. Agora que está começando a questão da telemedicina", diz Pedro.
Foram três anos economizando e planejando a viagem dos sonhos, que, além da Ásia, incluiria o Egito e a Europa. O plano era passar um ano na estrada, mas, por causa da pandemia, a viagem durou "apenas" nove meses e não deu tempo de fazer os últimos destinos.
Ao todo, foram nove países visitados - Japão, Coreia do Sul, China, Tailândia, Malásia, Singapura, Indonésia, Vietnã e Índia - e incontáveis aventuras, como a escalada do Monte Fuji no Japão, os protestos pró-democracia em Hong Kong (território autônomo chinês) e o Holi Festival em Udaipur, na Índia.
Chega o coronavírus
Eles contam que a família no Brasil estava o tempo todo apreensiva com as notícias sobre o coronavírus, mas, na rotina de passeios, eles não acompanhavam muito. Foi depois do Holi Festival, que aconteceu no dia 10 de março, que eles começaram a se dar conta da gravidade da situação.
Ao chegar na cidade seguinte, Jaisalmer, não puderam fazer check-in no hotel sem antes seguir um novo protocolo de saúde: tiveram que ir a um hospital, onde foram examinados e responderam a uma série de perguntas. Notaram que o número de turistas diminuiu drasticamente e a população local mudou a forma de tratar os turistas internacionais. Surgiram as primeiras notícias sobre o fechamento do país e o número de contaminações explodiu.
"A gente ainda pretendia fazer um curso de ioga, mas não estavam mais aceitando alunos. Foi quando caiu a ficha de que estava ficando perigoso viajar por lá. Mesmo com seguro-viagem, a estrutura de saúde na Índia não é boa", diz Pedro.
Barrados no aeroporto
Eles até cogitaram ir para outros países, como Tailândia ou Egito, mas as fronteiras estavam fechando e decidiram que era melhor voltar para casa. Compraram a passagem para o Brasil via Dubai, onde pretendiam passar quatro dias, mas foram impedidos de entrar por causa do decreto que entrou em vigor no dia de sua chegada, 19 de março.
"Chegamos lá sem saber do novo decreto e ninguém nos dava informação, só diziam que não podíamos entrar. Tentamos argumentar, falamos com vários funcionários no aeroporto, ligamos para a embaixada brasileira, passamos no atendimento de saúde, fizemos o teste de coronavírus, levaram nossos passaportes de um lado para o outro e nada. Deu muito medo. A gente não tinha a quem recorrer, estava num lugar estranho, onde não falam nosso idioma, não nos trataram bem, era tudo muito intimidador", conta Raissa.
Eles encontraram estrangeiros de outras nacionalidades que estavam presos no aeroporto há cinco dias, por causa das restrições diferentes para cada país. Mesmo tendo passagem comprada para dali a quatro dias, decidiram comprar uma nova para o dia seguinte por medo de ter o voo cancelado. "Gastamos o equivalente ao orçamento de três meses de viagem", afirma a advogada.
Meta é voltar a viajar assim que possível
"Assim que isso passar, a gente quer continuar viajando", diz Pedro. O casal, que criou o perfil no Instagram @viajarcomfelicidade para compartilhar suas aventuras e dicas, já sonha com uma longa viagem pelo Brasil.
"Nosso plano inicial era viajar de carro pelo Brasil para decidir onde a gente ia morar. Mas fomos crescendo o olho e acabamos parando na Ásia!", diz Raissa.
Enquanto isso não é possível, eles se esforçam para adaptar o espírito livre de viajantes ao estilo de vida recluso imposto pelo coronavírus.
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