Brasileiro faz sucesso na web com cozinha da vida real durante quarentena
Em meio à uma pandemia, cozinhar pode ser terapêutico, um momento de prazer enquanto o caos toma conta do mundo lá fora. De fato, são tempos desesperadores. E sabemos bem que a cozinha da vida real — agora mais frequentada por nós durante a quarentena — é bem diferente da que vemos no Instagram.
E um brasileiro que mora em Viena tem bombado na rede social com a página Cozinha Desesperada, mostrando com agilidade e bom humor como é cozinhar em tempos de, bem, desespero.
De um arroz com ovo feito com ingredientes velhos -- mas ainda bons para consumo -- e waffles que dão errado e são prontamente substituídos por um croissant de padaria, o brasileiro de 27 anos que usa o pseudônimo "Caio van Caarven" ensina seus mais de 230 mil seguidores a fazerem vários tipos de receitas enquanto busca nos ajudar a passar por isso tudo com mais leveza.
"O desespero faz parte da vida e, independente da situação, você tendo uma comidinha boa, uma pitadinha de humor, fica tudo mais suportável", diz Caio. "Quero mostrar que para todo prato que dá certo, tem 38 que dão errado", completa o chef ocasional, que fez especialmente para o Instagram de Nossa uma receita inédita no seu canal, a salada de lentilhas:
Culinária trilingue
O embrião do Cozinha Desesperada é a versão em alemão do canal, em que Caio misturava receitas com piadas de nicho sobre a política austríaca e até mostrava o rosto. A página passou por uma reformulação até o brasileiro dar o ponto na massa — o uso do TikTok ajudou nisso, com o uso do formato ligeiro de até um minuto.
A primeira receita postada nessa nova fase é a de espaguete à bolonhesa vegana, e partir daí, o número de seguidores só tem crescido. Em seguida, vieram os canais em português e em inglês.
Política à mesa
As piadas políticas continuam. Na página dedicada ao público brasileiro, Caio chama alho de "espanta Michel", em referência ao ex-presidente Michel Temer, e regadas de azeite de "chuva dourada", mencionando a infame ocasião em que Jair Bolsonaro perguntou o que é "golden shower" no Twitter, durante o Carnaval de 2019.
Outros elementos que compõem a "mitologia" do Cozinha Desesperada são as essenciais falas "vai a tábua" e "vai a cuia" no início dos vídeos, e a vigorosa "delllíiicia!" no fim deles; as cebolas apelidadas de "sadbois" (expressão em inglês para se referir a um garoto chorão); a pronúncia de "caju" com a última sílaba generosamente exclamada e estendida; e ervas apelidadas como "Neide".
Aí está uma piada autorreferente da página que os seguidores adoram: Caio tem dezenas de plantas no apartamento em que mora e todas se chamam Neide. Assim fica mais fácil de não errar o nome de nenhuma delas.
Cozinha teatral
Dois outros queridos personagens da página são a "vovó" traficante de drogas (geralmente mencionada por Caio quando ele usa sal) e a netinha que faz brigadeiro (ele faz uma voz ridícula de menina nesses casos).
Alguns momentos são particularmente pitorescos, como a receita de yakissoba com linguagem que remete a de videogames, e a de tarte, em que o influenciador usa filtro em preto e branco e sotaque francês na narração. O vídeo com receita de pão de banana tem uma hilária carga sexual — bem como quando um utensílio precisa ser untado com manteiga ou óleo.
Receitas apimentadas
Quando Caio faz lives, os comentários dos seguidores mostram que eles não ficam para trás nas piadas de sexo ou humor negro, bem como eles se unem em grupos de WhatsApp para discutir a experiência de fazer os pratos do canal. Ambas as partes têm se divertido.
"O pessoal inventa umas coisas completamente sem noção. Fiz uma live esses dias e o povo inventou que ouviu 'baralho' e 'maçã' na música [que tocava ao fundo] e até hoje eles fazem piadas com baralho e maçã em praticamente todo vídeo", conta.
A quarentena cria esse clima de que todo mundo meio que está junto nessa sofrência. Então as pessoas se identificam muito mais. É muito essa coisa de piada de nicho — e agora o nicho é o mundo inteiro, que está trancado em casa."
Vida de quarentener
Não diferente dos seguidores, Caio também ficou isolado em casa cozinhando — o lockdown tem sido progressivamente suspenso em Viena, com os cidadãos ainda usando máscaras ao saírem às ruas —, período em que produziu grande parte dos vídeos. E durante a hora de almoço, o que foi desafiador.
"Eu cozinhava só uma vez por semana, tirava horas e horas, mas agora não tenho mais tempo. A vida em home office acabou ficando até mais corrida. Não tem essa de você tirar uma hora de almoço numa boa", diz.
Você tem que cozinhar e comer nesse tempo. E esse desespero se reflete nos vídeos — as receitas que faço ficam todas prontas em meia hora ou 45 minutos"
Independente disso, Caio tem se aventurado mais no fogão. Ficar em casa o encorajou a reduzir o consumo de carne — o primeiro mês de quarentena foi todo vegano. "Vale a pena, comi muito mais legumes. E é divertido também, porque você experimenta muito com substituições na cozinha, usando soja em vez de carne e outros tipos de leite. Agora, como carne só de vez em quando", relata.
Desespero na panela
A febre do pão caseiro durante a quarentena também chegou aos vienenses. Em quase todas as ocasiões em que Caio foi ao mercado, não encontrou fermento biológico para a massa que sabe fazer. "Só fui conseguir na semana passada ou retrasada. Acabei não fazendo mesmo, comprei pronto."
Lá em Viena, assim como aqui no Brasil, de uma hora para outra, estávamos todos em casa, isolados com o necessário após uma ida ao mercado. Cozinhar, então, tornou-se a única alternativa para muitos de nós.
"Desespero é um estado de vida permanente, com ou sem coronavírus", diz Caio. "A quarentena me forçou a cozinhar muito mais." Estamos juntos nisso.
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