Como tantas outras comemorações, quermesses e festas juninas chegaram ao Brasil junto com os portugueses há muito tempo - numa época em que até fazia frio na maior parte do país durante os meses de inverno e acender fogueiras e tomar um trago eram essenciais para aquecer o corpo.
Em Portugal (e boa parte da Europa), a bebida dessas ocasiões era o "mulled wine", feito com várias especiarias e mel e já era conhecida desde a época do Império Romano.
Nascimento pelo "jeitinho"
Reproduzir a receita por aqui, no entanto, era complicado para os portugueses. Havia as especiarias, trazidas da Ásia, e o açúcar entrava no lugar do mel. Mas faltava o vinho e, sem opção, a sempre presente cachaça foi parar na panela.
Surgiu assim, de improviso, o brasileiríssimo quentão, provavelmente criado nos estados do Sudeste. Segundo explicou o folclorista Amadeu Amaral em "O dialeto caipira", livro de 1920, a palavra foi criada pelos moradores do interior de Minas Gerais ou São Paulo.
O segredo da bebida
"Quentão é cachaça, açúcar, água, gengibre e especiarias. O gengibre tem que pegar na garganta, de uma maneira pontual, e a cachaça tem que aparecer de uma maneira sutil. O teor alcoólico é diluído porque tem a água presente. Ele aquece, mas não embriaga", ensina Jean Ponce, sócio e chefe de bar do Guarita, em Pinheiros (São Paulo).
Claro, é sempre possível acrescentar outras coisas à receita. "A gente chama a receita do Guarita de quentão de vinho quente, porque a nossa também tem um toque de maçã, um pouco de cravo, e um pouco de canela, ingredientes mais usados no vinho quente", conta Ponce.
Quentão x vinho quente
Aliás, o vinho quente, outro clássico das festas juninas, é chamado de quentão no Sul do Brasil. É fácil entender o motivo: a produção de vinho é muito mais importante para a região, que recebeu milhares de imigrantes italianos no fim do século 19. A receita é praticamente igual a de "mulled wine", só que a nossa tem açúcar no lugar do mel.
Isso não impede que se tome por lá quentão de cachaça, pelo contrário. O frio mais intenso nesses estados faz com que as duas versões sejam apreciadas e ainda abriu espaço para invenções. No ano passado, por exemplo, o Shopping Hauer, em Curitiba, fez um festival dedicado à bebida, em que foram servidas releituras com saquê e vinho do Porto e até com gemada e marshmallow.
E mais variações também são encontradas Brasil afora, afirma Ponce. "Tem algumas feitas com catuaba, outras temperadas com semente de umburana, cardamomo, erva-cidreira... o povo brasileiro é muito criativo e usa os temperos de suas regiões ", relata o chefe de bar do Guarita. Independentemente da receita, o importante é ter quentão, obrigatório em qualquer festa junina que se preze - e que nesse ano será comemorada em casa
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