A vida sem abraços não seria possível. Uma amizade começa a criar raízes a partir deste gesto, pode reparar. E foi justamente quando Yran Palmeira, 46, e Emeton Kroll, 43, ganharam um abraço de Cleto, há cinco anos, que tudo começou. A dupla, que tem uma produtora musical em Caruaru (PE), naquela época vivia estressada com o volume de trabalho.
A sugestão veio de Cleto: "Façam arte". Lá se foram eles comprar materiais. Nas primeiras tentativas de telas, nada feito. "Uma delas Emeton escondeu debaixo da cama de tão horrível", ri Yran. Cleto, gentilmente elogiou, estimulando os amigos a continuarem. Diz se isso não é um abraço?
Daí em diante, eles aprimoraram. Veio a oportunidade de fazer uma exposição. "A dona do lugar me ligou depois de 15 dias dizendo que tinha vendido tudo", ri Yran. Cleto assistia a tudo animado, era um padrinho da nova aventura deles. Só que o destino interrompeu essa história com o infarto de Cleto. O luto de Yran e Emeton tirou a vontade de pintar. Quando resolveram que deveriam renascer e se recriar, resgataram a arte.
Emeton pensou em fazer peças com sentimentos. Lembrou-se de uma pequena escultura de cerâmica que havia feito e trouxe à luz um boneco, que passou dois meses sem nome. Caberia a Yran batizar. "Lembrei de uma época no interior em que muita gente passava pedindo esmola. Meu pai dava comida e as pessoas agradeciam pelo afeto recebido com um abraço. Logo veio o nome dos bonecos pedidores de abraços", lembra.
De casa abandonada a lar cheio de energia
Com o tempo, a mídia e exposições, a repercussão teve uma escalada. "Ficamos abismados". Agora, eles recebiam várias encomendas dos bonecos e precisavam sair do apartamento para um lugar maior. Essa casa estava abandonada quando a encontraram.
Entre as mudanças, a piscina deu lugar ao jardim, todo repaginado por eles. São sete quartos: um é da produtora, dois deles acomodam Yran e Emeton, em outro estão os fornos de queima da cerâmica. A garagem tornou-se ateliê, ou melhor, o berçário dos pedidores de abraços, de onde saem até 25 esculturas por mês.
Na companhia da natureza e de bons brasileiros
A rotina de trabalho é de domingo a domingo, afinal, a fila de espera dos bonecos, no momento, é de 180 dias. O ateliê Armoriarte toma 80% do tempo: Emeton esculpe, Yran lixa, pinta e enverniza.
O processo de fazer os bonecos é longo e a casa dá um suporte absurdo a isso e à nossa vida. Queríamos nos conectar com a natureza e os passarinhos vêm todos os dias cedo"
Na cozinha e na sala, muita arte popular e simplicidade — é uma casa bem brasileira. Mestre Galdino, Mestre Eudócio, Cida Lima, Brennand e tantos outros nomes potentes há por ali. "Nós mesmos limpamos tudo e cuidamos do jardim", diz Yran, citando jabuticabeira, pitanga e acerola no quintal.
Também pela casa estão os bonecos, claro, com seus bracinhos abertos e a ingenuidade encantadora. "É uma arte não apenas decorativa, mas que traz energia, boas lembranças, coisas positivas. Eles nos lembram o quanto é importante abraçar", diz ele.
Em cinco anos, a vida da dupla mudou para melhor, com independência financeira e sem o estresse do trabalho de antes. Ah, se Cleto visse agora... bem, e quem diz que não vê?
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