De mala e máscara: como é viajar pela Flórida, nos EUA, no pós-quarentena
"Há três caixas trancadas à direita do portão da frente. Sua chave estará na caixa número 1. Utilize o código de acesso enviado mais cedo. Seu quarto é o número 4. Prossiga pelos degraus da frente, vire à esquerda, atravesse a varanda da frente sentido lado esquerdo do prédio. O quarto fica na segunda porta".
Parece até instrução de caça ao tesouro ou missão secreta, mas, na verdade, essas são as orientações para fazer o check-in em um hotel em tempos de pandemia. O destino escolhido foi a ilha de Key West, na Flórida, nos Estados Unidos.
Hospedagem
Fechada para visitantes desde 22 de março, a ilha reabriu no início de junho. Hotéis, bares, restaurantes e demais estabelecimentos estão operando com no máximo 50% da capacidade, segundo regulamentação local.
No hotel em que fiquei hospedada, não tive contato algum com funcionários. Depois de seguir as instruções enviadas por celular para entrar na pousada e encontrar meu quarto, preenchi os formulários do check-in e depositei os papéis em uma caixa ao lado do que normalmente seria a recepção. Em vez de um acalorado "bem-vindo", havia no quarto uma carta de boas-vindas com dicas da cidade e um mapa.
Para se servir no buffet do café da manhã, era obrigatório o uso de luvas e máscara. Utensílios e pratos eram descartáveis e o fluxo era de no máximo seis hóspedes por vez. O serviço de quarto não existiu. Para preservar os funcionários, o hotel optou por minimizar a entrada deles nos quartos ocupados. Foram duas diárias e o serviço não fez falta.
Turismo de máscara e sem muvuca
Participei de dois tours tradicionais para quem visita a ilha pela primeira vez: o da Hemingway House e um passeio de barco com mergulho. No museu, que reúne a história do escritor norte-americano Ernest Hemingway, o tour foi de máscara e em um grupo com menos de dez pessoas. Conforme avançávamos pela casa, o guia ia desinfetando o corrimão das escadas e controlando o fluxo de visitantes por ambiente.
Já no barco, que saiu com metade da capacidade — que sorte a nossa, segundo o operador de turismo — ninguém usava máscara, a não ser a de mergulho (quando dentro da água!). Na proa do barco, o vento levou embora qualquer vestígio de pandemia. Ficaram apenas sol, um mar com águas cristalinas e muita vida marinha no único recife de corais próximo à costa norte-americana.
Outra atração imperdível de Key West é assistir ao por-do-sol na Mallory Square. Os turistas se reúnem, com distanciamento social de 1,5 metro demarcado por vários "X" no chão, no local para curtir o fim de tarde. Apresentações de artistas locais embalam a caída do sol e há opção de acompanhar tudo em um passeio de barco regado a champanhe.
No meu primeiro fim de tarde na ilha, as demarcações estavam sendo seguidas. Já no segundo dia, com a cidade mais movimentada, a aglomeração só não se deu por conta das nuvens no céu, que atrapalharam o cenário e dispersaram os turistas.
Primeiro estranhamento: refeições em restaurantes
Apesar do clima turístico no ar, a pandemia não dá trégua. Você se lembra que nada está "normal" quando existe um estranhamento ao fazer refeições em um restaurante depois de tanto tempo comendo apenas em casa. Por mais que haja medição de temperatura na entrada, álcool gel para todo lado, ambiente aberto e ventilado, máscara em todos os atendentes e até cardápios descartáveis, a desconfiança em comer em público paira sobre a mesa.
Fica ainda pior quando trazem o pedido com luvas. Ou quando você vai ao banheiro de máscara e lava as mãos pelo menos três vezes, além de passar álcool em gel na saída. Ou quando a mesa ao lado está interditada com faixas amarelas e um "X" vermelho. Ou quando alguém se levanta sem máscara e é abordado por um segurança: ou anda de máscara ou volta para a mesa. A fiscalização não está a passeio.
Segundo estranhamento: hino nacional no bar
Nas ruas o clima é de festa, praticamente uma New Orleans com ares de praia: bares, música ao vivo e gente se movimentado com copos coloridos nas mãos. Em um bar localizado na varanda de um hotel na Duval Street, a rua mais agitada da ilha, pude ouvir uma cantora e seu violão puxando um coro, não do hit do verão, mas do hino nacional dos Estados Unidos.
Pode parecer totalmente inusitado, mas foi altamente cantado e celebrado, com direito a gritos de U-S-A no final. A "canção" parou até quem passava do outro lado da rua. Com a mão no peito, todos pediam para ficarmos fortes e unidos. A artista aproveitou e lembrou o público de que as gorjetas eram apreciadas, principalmente para o pessoal do bar que ficou mais de dois meses sem trabalho.
Relaxar é possível
Relaxar e aproveitar a viagem é possível, mas não cem por cento do tempo. Junto com a máscara e o álcool em gel, a "noia" também veio na mala. Na primeira noite no hotel, acordei no meio da madrugada pensando na loucura e no risco disso tudo. Por sorte e sono, logo voltei a dormir. Para uma viagem no pós-quarentena, um final de semana foi suficiente.
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