Uísque da coquetelaria, bourbon tem tradição de sobra e conquista novos fãs
Uísque é praticamente sinônimo de Escócia, maior produtor do mundo da bebida. Nem toda garrafa que leva a palavra uísque escrita no rótulo, no entanto, tem um destilado à base de malte de cevada e envelhecido por anos em barril de carvalho, como fazem os escoceses.
O diferentão do rolê é o bourbon whiskey (escreve assim mesmo), criado por imigrantes europeus que se fixaram na parte sul dos Estados Unidos por volta do século 18, e que vem ganhando espaço nos bares profissionais e caseiros do Brasil.
Scotch whisky e bourbon: pouco em comum
"Tirando o fato de serem produzidos com grãos, eles são muito distintos", explica Maurício Porto, autor do blog "O Cão Engarrafado" e sócio do Caledônia Whisky & Co, em São Paulo - como o nome sugere (Caledônia é o antigo nome da Escócia), a casa oferece coquetéis e centenas de rótulos do destilado, vindos de vários países.
Por sinal, os destilados nem são feitos com os mesmos ingredientes. Como não havia muita cevada à disposição nos EUA quando os imigrantes chegaram por lá, o jeito foi usar milho, nativo da América. Hoje, a lei norte-americana inclusive determina que a bebida seja feita com 51% do grão.
Cereais como centeio, trigo e cevada também fazem parte da receita, em quantidades menores. "Cada um traz uma característica: o dulçor vem do milho, o centeio traz o apimentado, o trigo dá suavidade e a cevada acrescenta toques tostados", diz.
Outra diferença importante é a maturação. "O uísque escocês é envelhecido por pelo menos três anos em barril usado em outras bebidas, como vinho do Porto ou Jerez. Já o bourbon tem que descansar em barril de carvalho novo e previamente tostado, mas o tempo não é definido, podem ser dias ou anos", afirma Porto.
E isso faz bastante diferença.
A madeira traz notas de baunilha, caramelo e mel e, em geral, o destilado norte-americano é mais doce e intenso que um scotch."
Carvão e centeio
Além do bourbon, há mais dois tipos de uísques norte-americanos:
Sucesso nos drinques - e no Brasil
Toda essa intensidade casou perfeitamente com a coquetelaria que estava nascendo nos EUA. "O bourbon é mais fácil de usar em drinques por causa desses sabores estourados. Se fosse muito suave, ele poderia desparecer na hora de fazer um coquetel", explica Porto.
Desse casório de sucesso surgiram "filhos" famosos até hoje, como os clássicos Old Fashioned, Manhattan e Whiskey Sour.
Também por causa dos drinques, o bourbon passa por uma "redescoberta" aqui no Brasil, por assim dizer. Embora os brasileiros conheçam há décadas marcas como Jack Daniel's e Jim Beam, a variedade não passava muito disso até pouco tempo.
Mas como o destilado é essencial para preparar os coquetéis e, pelo menos antes da pandemia, havia mais bares dedicados às misturas, outras marcas desembarcaram por aqui.
Quanto mais o público conhecer sobre o bourbon e usar em coquetéis em casa, mais novidades vão surgir", diz Maurício.
"O mercado de bourbon ainda está muito ligado à coquetelaria e aos bares. Hoje a gente tem mais opções, mas sinto falta de produtos premium", avalia o sócio do Caledônia. Esses rótulos com mais qualidade, porém, não devem aparecer tão cedo nas prateleiras. "A demanda é pequena e seria muito caro trazer marcas mais sofisticadas, que chegariam aqui na faixa dos R$ 400."
Não que a situação esteja ruim. "Temos boas opções de preço e uma variedade de sabores razoável, já que cada marca tem suas características. Poderia ser melhor", opina. Para Porto, aos poucos as coisas vão se acertando. De exemplo, ele menciona a chegada do rótulo Buffalo Trace às lojas, algo impensável há alguns anos.
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