A chef Tânea Romão, de 53 anos, nasceu no interior de São Paulo e chegou à capital paulista ainda criança, mas herdou da mãe e da avó, ambas mineiras, o gosto pela cozinha e pelas "receitas de quintal", pratos substanciosos que reuniam a família em volta da mesa.
Depois de passar uma temporada em Gonçalves e em Tiradentes (Minas Gerais), Tânea voltou para suas origens, no bairro da Lapa, zona oeste da capital paulista, e reabriu seu restaurante. Antes chamado de Kitanda Brasil, uma referência às origens africanas de sua família, hoje o espaço foi rebatizado de Casa da Tânea.
Ainda fechado por conta da pandemia de covid-19, a chef opera com delivery do que mais tem gostado de cozinhar: receitas de família, de raízes mineiras, como o arroz de suã que ela ensina aos leitores de Nossa.
De vergonha a sucesso
"Passei muitos anos da minha vida sem comer arroz de suã, pois ele me lembrava um passado, que antigamente, me causava vergonha. É que esse prato é feito com ossos de porco e, como nossa família era muito pobre, minha avó pegava esses ossos que o açougueiro guardava para a gente", diz ela. "Meus amigos achavam o máximo, eu tinha vergonha", ri ela, lembrando do passado. Quem diria que esse prato viraria um hit na história da chef?
Hoje, eu sinto muito orgulho. E sempre adorei comer arroz de suã, a gente costumava sentar no quintal e o bom mesmo era ficar chupando os ossinhos", lembra ela.
"Aprendi essa receita com minha avó. Ela e minha mãe são supercozinheiras, de cozinha bem mineira, familiar. Quando eu era criança, minha avó fazia de tudo em casa, queijo, linguiça, chegou até a criar galinhas. Só fui conhecer frango de granja quando tinha 13 anos, quando minha avó morreu", conta Tânea.
"Minha avó chamava de arroz de osso. É um prato que adoro, acho saborosíssimo. Em Gonçalves e em Tiradentes, eu preparava a receita, mas servia com a carne separada. Agora, não. Nas marmitas, já aviso que vi com osso e tudo, que é a melhor parte", diz ela.
Casa de coração mineiro
A Casa da Tânea era para ser reaberta em março. Mas, quando finalmente a reforma terminou no casarão de 1929, a pandemia do novo coronavírus chegou e a chef teve de ser reinventar. Sozinha, ela mesma faz as compras, higieniza tudo, prepara marmitas e as entrega pela região, de clientela fiel. Dentre os pratos, o arroz de suã fez tanto sucesso que acabou entrando como fixo às sextas-feiras.
"O restaurante tem um significado muito grande na minha vida. Quando abri o Kitanda, em Gonçalves, no primeiro dia me tornei cozinheira de verdade. A ideia era servir as 'kitandas', ou seja, tudo aquilo que é servido com o café, como pão de queijo e broas, menos o pão francês, ou de sal. Mas, ao inaugurar a casa, as pessoas queriam almoçar mesmo e eu me virei para preparar as refeições para todo mundo. Naquele dia, servimos das 13h até as 21h", recorda.
"O mais legal é que, hoje, eu fico pensando que é isso que eu quero fazer, levar a cozinha dos quintais, do dia a dia, para as pessoas, como rabada, dobradinha, língua. Isso é muito gostoso e tenho tido um retorno muito bom", finaliza.
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