Repórter prova o "novo normal" da mesa de bar em centro boêmio de São Paulo
Sábado passado deu para perceber o quanto os paulistanos estavam com saudade de ir às ruas para tomar uma gelada e petiscar. Com céu de brigadeiro e temperatura aprazível, os bares da Vila Madalena, por exemplo, estavam cheios - menos que antes da quarentena, claro, afinal a capacidade dos estabelecimentos foi reduzida.
Foi algo que não se viu durante a semana, por causa do novo horário de funcionamento dos estabelecimentos, agora obrigados a fechar às 17h. Tirando o entorno desanimado, quase dava para dizer que o cruzamento das ruas Aspicuelta e Fradique Coutinho, ao qual costumava chamar de "quadrilátero do inferno" em tempos pré-pandemia, por causa da muvuca, havia voltado ao normal.
Como saí para sentir a experiência de um bar no "novo anormal", mas sem necessariamente voltar para a casa corongado, preferi procurar outro lugar, de preferência um pouco mais tranquilo. Algumas quadras dali fica o Astor, em uma simpática praça do bairro e, imaginei, deveria estar menos animado.
Muvuca, álcool e uma gelada
Chegando lá, por volta das 16h, a surpresa: fila de espera para sentar. E nada de mesas ou chopinhos na calçada, proibidos pela prefeitura.
Levou uns 10 minutos para vagar uma mesa só para mim e bem afastada dos outros clientes - algo que poderia virar regra daqui para frente, na minha modesta opinião.
Enquanto esperava, observava o movimento: em geral, a clientela estava sentada, respeitando as regras e animada, como se a covid-19 fosse algo distante no tempo. Não dá para julgar: já que a prefeitura liberou o funcionamento dos bares, mesmo com restrições, a mensagem sinalizada é que esses estabelecimentos são seguros, desde que as regras sejam respeitadas.
Mesa liberada, hora de sentir como as coisas estavam por lá. Para entrar, só tendo a temperatura medida antes e passando álcool gel na mão (e nos braços e no rosto, pra garantir). "Tá 36ºC, tem que tomar uma gelada para melhorar isso aí", disse o simpático gerente que me recebeu na porta. De fato, dois chopes desceram como água, em partes pelo calor, em partes pelo desconforto.
Apesar de a mesa em que sentei estar longe de outras pessoas, ter um vidro bem servido de álcool gel, e ter sido coberta com um jogo americano descartável, com talheres e guardanapos bem embalados, ela não me parecia assim tão limpa. Pode ser neura, mas nesses tempos, qualquer cuidado parece pouco.
Clima de bar - mas não muito
Já um pouco amaciado pelos chopes, a preocupação foi dando uma folga: o clima de bar estava lá, com falatório alto e música idem. O cardápio podia ser consultado por meio de um QR Code e toda a equipe do salão usava máscara e viseira plástica (mas poderiam usar luvas, mas talvez não sejam tão práticas para trabalhar), enquanto a cozinha estava só de máscara, o que é compreensível. Deve ser uma desgraça ficar na frente de um fogão quente de máscara E viseira. Bem abertas, as janelas ajudavam a trazer mais um pouco de tranquilidade.
O momento relax foi quebrado com a necessidade de tirar água do joelho. Segundo os especialistas, banheiros públicos são os piores lugares para ir durante a pandemia. Ao dar descarga, eles dizem, você pode liberar um turbilhão de partículas com o novo coronavírus. Que bênção! E não, não ia dar tempo de voltar para casa.
O jeito foi colocar a máscara, evitar os mictórios abertos, mirar direitinho, não dar descarga e lavar bem as mãos. Aliás, a higiene não estava tão boa: o lixo, por exemplo estava cheio de papel usado e não havia sinal de alguém a postos para fazer a limpeza.
No caminho de volta para mesa, encontro um rapaz sem máscara indo ao banheiro (o que não deveria acontecer) e pergunto a ele o que está achando de poder voltar ao bar.
Me sinto tranquilo, não está abarrotado como vi em outros lugares", disse, que reconheceu que deveria estar de máscara. "Sabe como é, depois de uns chopinhos."
Saideira adiantada
Para relaxar de novo, peço um Gin Gin Mule e desencano da cozinha, que recebeu os últimos pedidos às 16h45. Faltando cinco minutos para fechar, o garçom passa oferecendo a saideira, devidamente aceita. Para pagar, maquininhas de cartão corretamente higienizadas a cada uso e portas fechadas às 17h, mas com gente dentro.
Fazer os clientes irem embora do bar na hora, porém, continua sendo um desafio para garçons e gerentes. Os clientes que ficaram terminavam tranquilamente suas bebidas antes de levantar, como duas garotas, que estavam saindo de casa pela primeira vez em muito tempo.
"Sei que é complicado, mas não estou no grupo de risco e moro sozinha, então acho que não tem problema", disse uma. "Estava mesmo precisando sair depois de tanto tempo. Não é o ideal, mas já fazia muito tempo que estava em casa", justificava outra. Do lado de fora, do outro lado da rua, alguns clientes seguravam bebidas em copos descartáveis e papeavam antes de ir embora.
Voltando para casa, pensei que a experiência foi menos caótica do que imaginava e não me senti tão em risco.
Não pretendo voltar tão cedo, claro. Mas se a vida tiver que seguir assim, a gente vai ter que se acostumar.
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