Sorte ou cilada? O que está por trás das casas à venda por 1 euro na Itália
Pelo menos 30 vilarejos italianos estão com casas à venda pelo valor simbólico de um euro. A proposta chama atenção não só pelo preço irrisório como também pela localização dos imóveis, que ficam em regiões famosas como a Toscana, a Sicília, a Sardenha, a Puglia, o Piemonte e a Lombardia.
A iniciativa visa combater o abandono dessas pequenas cidades, mas também exige uma série de compromissos por parte dos compradores. A seguir, entenda o que está por trás dessa proposta aparentemente irresistível.
A origem do problema
Não é de hoje que a Itália vive um êxodo rural. Desde o milagre econômico italiano entre as décadas de 1950 e 1960, os jovens têm se mudado para os grandes centros urbanos em busca de oportunidades de emprego.
De lá para cá, os italianos que ficaram em suas cidadezinhas de origem envelheceram e morreram, deixando vazias as emblemáticas casas de pedra que compõem a paisagem rural italiana. Os herdeiros, por sua vez, dificilmente têm interesse em manter a antiga residência da família.
Como a Itália é bastante preocupada em preservar a sua história - e também o título de maior detentora de Patrimônios da Humanidade pela Unesco -, boa parte dessas construções são tombadas e, por isso, não podem ter suas características principais alteradas.
Qualquer reforma precisa ser aprovada previamente e deve seguir uma série de regras e restrições, sendo que o país é conhecido por ser tão ou mais burocrático que o Brasil. Desestimulados a fazerem melhorias nos imóveis - seja para habitá-los ou colocá-los no mercado -, os proprietários acabam abandonando as casas e até deixando de pagar os devidos impostos à prefeitura.
O fenômeno coloca em risco a própria existência dessas vilas, que são numerosas no país. Estima-se que a Itália possua 5 600 municípios com menos de cinco mil habitantes e cerca de 6 000 municípios que já são considerados "cidades fantasmas" por estarem completamente abandonados.
Estorvo para uns, investimento para outros
Para impedir a morte das pequenas vilas, os prefeitos italianos tentam atrair novos residentes através da venda de imóveis por apenas um euro, cerca de R$ 6 na cotação atual. A iniciativa existe pelo menos desde 2014 e ficou conhecida em italiano como "Case a un euro".
Como não poderia ser diferente, o valor baixíssimo chamou a atenção de pessoas do mundo inteiro. Em 2019, o município de Sambuca, na Sicília, ganhou as manchetes de diversos países ao oferecer suas casas abandonadas pelo preço de um café expresso. Segundo o jornal italiano "Corriere della Sera", em poucos dias a prefeitura local recebeu mais de cem mil e-mails de pessoas interessadas.
Muitas devem ter desistido ao entenderem melhor os pormenores da proposta. Cada cidadezinha estabelece suas próprias regras, mas a maioria exige que o comprador faça um investimento mínimo na reestruturação do imóvel, termine a obra dentro de um certo prazo e arque com todas as despesas relacionadas à documentação. Caso o novo proprietário não cumpra com o combinado, ele deverá pagar uma multa e o imóvel será devolvido à prefeitura.
As reformas não são exatamente fáceis. Além de algumas casas estarem bastante degradadas por décadas de abandono, é preciso respeitar normas rígidas caso o imóvel seja considerado um bem arquitetônico ou cultural, como já foi mencionado acima.
Ainda assim, há quem veja nessas antigas casas um bom investimento, seja para passar a aposentadoria ou para transformar o espaço em uma pousada, hotel ou Airbnb. Segundo uma matéria do "Huffington Post Italia", a venda dos imóveis por um euro atrai principalmente norte-americanos, holandeses, alemães e ingleses.
Aceitam-se (alguns) imigrantes
As casas abandonadas podem ser vendidas para pessoas de qualquer nacionalidade. Porém, para poder viver na Itália, os cidadãos de países que não pertencem à União Europeia devem solicitar uma autorização de residência, chamado de "permesso di soggiorno".
O documento renovável pode ter até dois anos de validade, mas só é concedido a quem atender certos requisitos, como possuir uma renda estável, estar matriculado em um curso, possuir um parente que mora na Itália, ter um emprego garantido no país ou comprovar que deseja desenvolver um trabalho autônomo. São feitas exceções para os aposentados e para aqueles que possuírem um patrimônio econômico significativo.
Dessa forma, ser proprietário de um imóvel no país ajuda, mas não basta para obter o visto - o que é mais um ponto a se considerar antes de investir nas casas de um euro.
Quem ainda estiver interessado no projeto encontra algumas opções reunidas no site "Case a 1 Euro", com versões em italiano e em inglês. Porém, para encontrar informações completas e começar as negociações, é preciso escarafunchar os sites das prefeituras, que raramente fornecem informações que não sejam em italiano.
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