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Madeiras jogadas para escanteio ganham nova vida em forma de arte curiosa

Tábua e escultura saem das mãos de Marcelo Monteiro a partir de pedaços de madeira que seriam esquecidos ou descartados - Chico Barros Estúdio/Divulgação
Tábua e escultura saem das mãos de Marcelo Monteiro a partir de pedaços de madeira que seriam esquecidos ou descartados
Imagem: Chico Barros Estúdio/Divulgação

Carol Scolforo

Colaboração para Nossa

21/07/2020 04h00

Marcelo Monteiro

Marcelo Monteiro

QUEM É

Artesão autodidata da Toko Design Utilitário, em Pernambuco.

Marcelo era um menino que amava fazer bolo e pão, decorar a casa e consertar liquidificador. Em Pernambuco, há algumas décadas, sua família era pobre e seus sonhos de servir as delícias à mesa se limitavam aos pratos simples que eles tinham.

Mas a criatividade nasce junto de cada pernambucano: "Nunca fiz curso de nada, só geografia, mas não terminei. A influência cultural, as viagens e a convivência com arquitetos me levaram à vida de artesão", conta.

Depois de ter uma marmoraria e de trabalhar com vidro, ele se encontrou ao manusear a madeira, há quatro anos. Foi como surgiu a Toko Design Utilitário, que produz manualmente tábuas, esculturas e objetos para mesa com madeira encontrada no chão ou resultante de podas.

"Fiz um curso de agroecologia e passou a me incomodar ver os troncos virarem fogueira por aí. Aquilo era vida e poderia ser reaproveitado".

Meu objetivo é dar uma vida nova a essas árvores que virariam pó".

Antes que alguém jogue uma farpa, Marcelo diz que prefere todas as árvores em pé, claro. "Se ela estiver no chão, algum motivo teve. As podas, por exemplo, precisam acontecer periodicamente e o material que resulta quase sempre é queimado", diz.

Toko - Chico Barros Estúdio/Divulgação - Chico Barros Estúdio/Divulgação
Uma das tábuas esculpidas por Marcelo
Imagem: Chico Barros Estúdio/Divulgação

Ele se lembra que às margens da rede ferroviária de onde mora, havia um tronco esquecido por muitos anos. Num belo dia, ele foi até lá e colocou na caminhonete. "Era um pinho de riga. Abri essa peça e fiz algumas coisas. Ali eu vi que pegar esse elemento que estava escanteado e dar história, vida, é uma paixão, minha missão".

Processo artesanal minucioso

Marcelo tem um estoque de madeira, formado a partir do que ele acha na rua. "Estou com um problema de coluna sério, porque se estou passando em uma poda, pego o peso que tiver. Quanto mais esquisito o formato, melhor." Toda vez que tem uma ideia, ele corre nesse estoque, fatia o tamanho da peça e espera secar. Tábuas e esculturas surgem assim, das surpresas que ele encontra ao desbastar o material.

Em vez de defeitos, vejo efeitos e os valorizo. É ali que está o detalhe. Foi assim que vi o olho de um cavalo em um nó de madeira, era igualzinho."

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Imagem: Chico Barros Estúdio/Divulgação

A partir daí, Marcelo dá formas, lixando, queimando e entalhando com grosa e tico-tico. "Nada é computadorizado, tudo na mão. Só o furo eu faço com furadeira". A peça é finalizada quando recebe óleo atóxico.

Está pronta e passa às mãos de lojistas, arquitetos e decoradores, uma parte importante desse processo. São eles que indicam e inserem o trabalho de Marcelo na casa dos clientes, nas mostras ou nas lojas.

Olha a dica!

Marcelo é um artesão cabeça aberta, com mil histórias para contar. Mas as dicas são boas também: ele ensina a manter as peças de madeira. Sabe a colheu de pau que já está seca e sem brilho aí na sua casa? "Passe um óleo como o azeite mesmo, na linha da madeira. Depois, um pano úmido e finalize secando com um pano. Fica nova", indica.

@ que me inspiram

Joaquim Tenreiro

Pra mim, Tenreiro é o cara, amo a história de vida dele. O conheci por meio de Janete Costa, com quem convivi por 20 anos.

Janete Costa e Acácio Borsoi

Esse casal foi minha faculdade. Janete me deu o norte para muita coisa e Borsoi era uma figura que me ensinava muito sobre arquitetura.