Beirute devastada: o que o turismo perdeu nas explosões
A vida corria fervilhante em regiões próximas ao porto em Beirute, onde ocorreram duas grandes explosões na terça-feira (4), atingindo áreas inteiras da capital libanesa e matando mais de 100 pessoas.
Discotecas, bares ao ar livre, restaurantes da moda, cafeterias e lojas descoladas faziam do distrito de Mar Mikhael, praticamente ao lado do porto, o coração pulsante da cidade. Principalmente nas noites de fim de semana, era nessa região que libaneses e turistas iam em busca de festa — Beirute possui um ambiente liberal pouco visto em outras capitais do Oriente Médio.
Agora, o polo de boemia tem um aspecto de pós-guerra. As explosões destruíram as fachadas e os interiores de diversos estabelecimentos, galerias de arte foram aniquiladas e a região de bares e discotecas virou uma massa de ruínas.
Nas ruas, o ir-e-vir de jovens produzidos para a balada e de turistas apontando a câmera para as charmosas casas centenárias deu lugar ao tráfego de ambulâncias. E de guinchos: as calçadas estão cobertas de vidro quebrado e carros em ruínas, com airbags saindo das janelas, bloqueando a entrada nos carros enquanto seus donos esperam o reboque.
Nos arredores de Mar Mikhael, começa a rua Gouraud, destino obrigatório dos roteiros turísticos na cidade. Não por acaso: além de ótimos restaurantes de culinária libanesa, italiana e francesa, a via é rodeada por importantes templos religiosos de Beirute — testemunhos da diversidade religiosa do Líbano, um país que abriga grandes comunidades de muçulmanos sunitas, muçulmanos xiitas e cristãos maronitas.
Estes templos também não foram poupados. A Catedral Maronita de São Jorge — uma linda construção do século 19, com fachada neoclássica e interior inspirado na basílica romana de Santa Maria Maggiore — sofreu danos severos por causa das explosões. Vidro e concreto quebrados estão caídos sobre os bancos de orações, como se uma bomba tivesse sido jogada sobre o teto da edificação.
A Mesquita Mohammad Al-Amin, localizada a poucos metros da Catedral de São Jorge, também foi danificada, com vidros destruídos e parte de sua estrutura avariada. Cacos e pesados pedaços de concreto cobriram os tapetes sobre os quais os fiéis costumam se ajoelhar para rezar.
Ainda é preciso avaliar os estragos estruturais em seus minaretes com cerca de 70 metros de altura. Por conta da imponência que eles conferem ao templo muçulmano, a mesquita transformou-se em um dos principais cartões-postais de Beirute desde sua inauguração, em 2008.
Centro reconstruído depois da guerra -- e agora danificado
Boa parte das atrações turísticas de Beirute — como a Catedral de São Jorge, a Mesquita Mohammad Al-Amin e um sítio arqueológico com ruínas romanas — encontram-se em uma área que foi devastada durante a guerra civil que assolou o Líbano entre 1975 e 1990.
Na frente da mesquita, inclusive, na Praça dos Mártires, até hoje existe uma escultura de figuras humanas que ainda exibem buracos de balas originários do conflito. O monumento virou um ponto muito retratado por turistas.
Depois do término da guerra, esta região da capital libanesa passou por um amplo processo de reconstrução, ganhando ruas e edifícios novos e bem cuidados que começaram a abrigar hotéis, restaurantes luxuosos, joalherias e butiques.
O impacto da explosão nesta área foi violento: um vídeo compartilhado nas redes sociais mostra uma noiva sendo filmada em uma praça ao lado da rua Said Akel, célebre por reunir lojas de grife frequentadas pela classe alta local e por viajantes abastados.
Subitamente, o estouro vindo do porto (que fica a cerca de 2 quilômetros dali) acontece, destruindo fachadas e jogando uma nuvem de poeira sobre a noiva e todos os outros presentes. Veja no vídeo:
Edifícios governamentais que existem nesta parte de Beirute tampouco foram poupados. Chamado de Grand Serail e ocupando uma imponente edificação otomana, o local de trabalho do primeiro ministro-libanês também teria sofrido danos por causa da explosão. Uma imagem da rede CNN mostra o interior do edifício coberto com o que parecem ser pedaços de janela caídos no chão.
Perto do Grand Serail estão o edifício do Parlamento libanês e o luxuoso hotel Le Gray, que amanheceram danificados nesta quarta-feira. No Le Gray, todas as janelas dos quartos foram estilhaçadas.
Além disso, este eixo entre Mar Mikhael e a área da Mesquita Mohammad Al-Amin é famosa por abrigar pequenas galerias de arte e museus como o Sursock, dono de uma importante coleção de obras de arte contemporânea, que foi gravemente danificado pela explosão.
* Com informações da AFP
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