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Seria a pandemia do coronavírus o marco para "cancelamento" do salto alto?

Salto alto - Reprodução/Unsplash
Salto alto
Imagem: Reprodução/Unsplash

Gustavo Frank

De Nossa

06/08/2020 04h00

Os sons de dedos digitando no computador e do salto alto batendo no chão disputam qual se fazem mais presentes nos escritórios. No "novo normal" da pandemia do coronavírus, o silêncio se faz mais presente e levanta a questão: estaríamos prestes a ver o fim dos sapatos de salto alto?

A resposta pode ainda não ser absoluta, já que a certeza nós só teremos nos próximos meses, quando vivermos, de fato, uma rotina mais normal. No entanto, enquanto o conforto é predileção no home office, mesmo enquanto algumas pessoas ainda insistam em arrumar-se em casa para estabelecer uma rotina, o sapato em questão já não se faz mais necessário.

Símbolo de poder

A história do salto alto é antiga, mas sua popularização aconteceu no século 17, quando o rei Luís 14 passou a usá-lo para parecer mais alto. O acessório funcionava como uma ferramenta de status para engrandecê-lo — seja no sentido de reconhecimento ou literal, para simplesmente parecer mais alto.

Nos tempos atuais, não é diferente. O sapato é aquela peça que faz com que o visual, como um todo, pareça mais formal. Serve para ser "levada a sério" — o que, não só a pandemia, mas também pensamentos mais estruturados sobre gênero, já tornam esse uso descartável.

Eu sempre carregava comigo um sapato de salto alto e deixava embaixo da mesa do escritório. Agora, eu vivo de chinelo e alpargatas", conta a advogada Heloísa Noronha ao Nossa.

Cena do filme "Uma Secretária de Futuro" (1988) - Reprodução - Reprodução
Cena do filme "Uma Secretária de Futuro" (1988)
Imagem: Reprodução

Quando questionada se acredita que, ao retornar ao escritório e a rotina diária, o salto alto vai ser reinserido, a resposta é vaga: "Não gostaria, mas como estou tão acostumada, acho que vai ser algo automático para voltar a usar".

Assim como Heloisa, a cientista agrônoma Silvia Valentini reforçou que, se pudesse escolher, não usaria o salto alto de novo; pelo menos não com a mesma frequência.

Eu tinha até esquecido como era confortável ficar de tênis mais vezes na semana", acrescenta.

Fica a lição de moda: partir do pressuposto do que cada indivíduo identifica como próprio do seu estilo, sem "forçação de barra", e respeitando o conforto. Até porque tem quem se sinta bem com eles e nada melhor do que ganhar alguns centímetros e manter a postura para um catwalk na vida cotidiana.

Podemos ter priorizado o conforto para trabalhar em casa, mas ainda sairemos para lugares que exigem essa sofisticação.

Nada "cancelado", apenas revisto

O impacto do coronavírus no setor calçadista não foi muito diferente do restante. No Brasil, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a produção deve diminuir em 30% até o final do ano, em comparação ao ano anterior.

Fenty - gladiadora - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Gladiadora criada por Rihanna com a colaboração da designer Amina Muaddi
Imagem: Reprodução/Instagram

O que se opõe a um dos lançamentos mais hypados do ano, no mercado internacional. Quem segue a Rihanna nas redes sociais, provavelmente se deparou com a cantora e empresária anunciando um lançamento das sandálias gladiadoras para a marca Fenty, com colaboração da designer Amina Muaddi.

Junto a ela, a Bottega Veneta lançou uma linha colorida de sapatos de salto. Os lançamentos somaram um aumento de 70% nas vendas dos sapatos, que agora criam um novo visual mais colorido e menos preto e marrom.

O que devemos ver nos próximos tempos não é o "cancelamento" do salto alto, mas uma reinvenção de como eles aparentam ser e quando serão utilizados.