Francês com sotaque cearense: ele mostra Paris com senso de humor na web
O primeiro vídeo de Max Petterson, 26, a viralizar foi um que ele gravou em 2017, enquanto esperava o ônibus, e discorria sobre como é Paris, capital da França, durante o verão europeu. "É um negócio para lhe matar, para lhe esturricar, a não ser que você seja que nem Joana D'Arc e ache bom morrer queimada", o ator comenta.
Já durante a quarentena, em julho, ele mostrou a comoção que foi o resgate de um gato que ficou preso no telhado do prédio em frente à casa dele. "Está todo mundo aqui vendo. Moça nova, moça velha. A gente não tem mais o que fazer", brincou.
Max também fala como é o atendimento ao cliente francês, mostra receitas de pratos do país e curiosidades da cidade onde mora há seis anos. Tudo com muito bom humor e muitas gírias da região do Cariri, onde cresceu no Ceará.
Percebi que as pessoas riam do que eu falava. Foi quando decidi falar de história da arte, de cultura, da língua com esse senso de humor"
Adquirindo um novo sonho
Morar fora do país é o sonho de muita gente, mas não era o de Max. Até ele receber um e-mail da conceituada Universidade Sorbonne, na França. Oriundo de uma família de classe média de Farias Brito, uma cidade de 8 mil habitantes, o jovem estava estudando teatro no Ceará, quando ficou em dúvida entre se mudar para São Paulo, Rio de Janeiro ou para alguma faculdade fora do país.
"Mandei e-mail para algumas instituições do Sudeste, mas ninguém me respondeu. O meu orientador me disse para enviar também para a Sorbonne e eu, que não sabia falar francês, usei o Google Tradutor para pedir informações. Eles responderam no mesmo dia. A partir desse e-mail, vir morar na França se tornou um sonho", narra.
Ele chegou na capital francesa cerca de 10 meses depois da troca de mensagens, com um francês básico. "Porém, como estudava em francês, morava e trabalhava com pessoas que falavam a língua, logo eu absorvi o idioma", afirma.
Inicialmente, ele trabalhou com "ménage". "Falo assim e o povo já fica todo assustado, mas ménage aqui é limpeza. Eu fazia limpeza", brinca. Depois, foi para o varejo, trabalhando em butiques de grife, até que, em 2017, quando o vídeo do ponto de ônibus viralizar.
Um YouTuber em Paris (de quarentena)
Após Max ficar conhecido por conta dos seus comentários em relação ao calor de Paris, o artista percebeu que as pessoas gostavam de ouvi-lo falar. "Foi quando eu dei o salto no escuro. Larguei tudo e decidi que ia viver do YouTube", conta.
Enquanto fazia os vídeos sobre a cultura, recebia muitas mensagens de pessoas perguntando quais pontos turísticos ele sugeria. A partir daí veio a ideia de criar a Descobrindo Paris, em que Max oferece o serviço de guia pela cidade, que se tornou sua principal fonte de renda. Até que veio a quarentena.
"Eu me vi do dia para noite praticamente sem nada. Tive que fazer vários reembolsos, foram muitos cancelamentos. Não sabia quando eu poderia voltar a trabalhar", conta Max. Foram dias que ele refletiu muito e, a partir disso, começou a criar outros tipos de conteúdo.
"Comecei a produzir mais para os stories, por exemplo". Foi dali que saiu o vídeo do resgato, a operação para salvar o gato do telhado parisiense. "Foram 55 dias de muita reflexão até eu entender o que poderia fazer".
Ele também faz lives no Instagram andando pela cidade, como uma forma de pessoas conhecerem, mesmo que virtualmente, um pouquinho da cidade. "Foi uma maneira de consolar quem viria para cá e não pôde por conta dos voos cancelados", fala.
Max cearense x Max francês
Por estar há tanto tempo na França, Max já se considera um parisiense. "Eu me sinto um cidadão, entendo como a cidade funciona e a tenho como a minha casa". Isso não quer dizer, no entanto, que o artista deixou de ser brasileiro. "A gente só descobre a nossa ancestralidade, quem somos, quando estamos longe de casa."
Por isso, por mais que tenha se adaptado bem à cultura local, Max não esquece sua origem e sua terra-natal.
Falo que existem dois Max: o cearense, que fala alto, que às vezes se empolga e até grita, que faz amizade com todo mundo. E o francês, que é mais reservado que fala mais baixo"
Quem costuma falar com os seguidores brasileiros é o Max cearense. Ele já mostrou o piscinão de Ramos parisiense, no caso, o chafariz do Jardim do Trocadero, em frente à Torre Eiffel.
Ficou, com seus espectadores, na fila para ver a Mona Lisa de pertinho e contou um pouco sobre a história da pintura. E interpretou as esculturas no Museu do Rodin. "Gosto de usar o YouTube para informar", diz Max.
O conforto que o artista sente ao mostrar a cidade sob esse ponto de vista humorístico pode ser, também, fruto de uma relação positiva que ele criou com a cultura francesa em geral.
Como eu não tinha expectativas, nunca idealizei Paris, não tive decepções com a cidade"
Max diz, ainda, que nunca passou por nenhuma situação discriminatória. "Essa é uma experiência apenas minha, mas tive sorte de não ter sofrido preconceito por ser brasileiro."
As chances de sofrer preconceito, na realidade, foi um ponto decisivo na hora de Max decidir ir para Paris. "Estudar teatro no Sudeste sendo cearense não é fácil. A gente ouve muita coisa por conta do nosso sotaque. Como eu sabia que ia sofrer preconceito indo para São Paulo ou Rio de Janeiro, vim para a França porque, pelo menos, passaria por isso por causa de pessoas de outro país, não meus próprios conterrâneos", diz.
Essa dura verdade não o impede de sentir falta do Brasil, de onde mata as saudades pelo menos uma vez por ano. "Falo que este foi o melhor presente que meus seguidores me deram, a possibilidade de ver com regularidade a minha família."
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