Topo

Plataformas criam ações de ajuda a bares e bartenders durante a crise

Engarrafados ou prontos para montar em casa, os drinques para delivery são o presente - e talvez o futuro - de muitos bares na pandemia - Divulgação
Engarrafados ou prontos para montar em casa, os drinques para delivery são o presente - e talvez o futuro - de muitos bares na pandemia Imagem: Divulgação

Rafael Tonon

Colaboração para Nossa

20/08/2020 04h00

Tudo começou em um grupo de WhatsApp, batizado de Sip Lovers, para reunir seis conhecidos com uma paixão em comum pela coquetelaria. Do digital, os novos amigos passaram a se encontrar semanalmente em estabelecimentos de São Paulo para compartilhar uns copos e suas impressões sobre os coquetéis.

Quando o alerta da pandemia soou no Brasil, o jeito foi levar o happy hour e os encontros de novo pro mundo virtual — tendência que se tornou popular no "novo normal".

Mas o que era pra ser um clima de descontração, se tornou preocupação: não dava para bebericar drinques feitos em casa fingindo não enxergar a realidade que estava afetando os bares e os bartenders que eles tanto admiravam.

Socorro engarrafado

Uma das criações do Sip Lovers - Divulgação - Divulgação
Uma das criações do Sip Lovers
Imagem: Divulgação

Os amigos decidiram, então, criar alguma ação concreta para socorrer o segmento: doar garrafas para que bartenders pudessem criar suas versões engarrafadas para drinques com menor custo (já que a embalagem é uma parte cara da equação) e distribuir como preferissem: retirada diretamente nos bares ou delivery.

Nos primeiros dez dias da iniciativa, 12 bares parceiros do projeto (entre eles, Lupe e Guarita, por exemplo) conseguiram vender mais de 500 garrafinhas de coquetéis.

"Percebemos que era uma ação representativa e que poderíamos ajudar mais pessoas", diz Michel Berndt, um dos fundadores.

"No começo, os investimentos para a compra das garrafas vieram do nosso bolso, depois pensamos em criar uma plataforma que pudéssemos arrecadar dinheiro para seguir com a ajuda", conta.

Das mãos de bartenders famosos para casa: ideia quer salvar quem vive de drinques - Divulgação - Divulgação
Das mãos de bartenders famosos para casa: ideia quer salvar quem vive de drinques
Imagem: Divulgação

No começo de julho, a iniciativa se tornou uma plataforma para venda direta de coquetéis que conta com bartenders renomados (Jean Ponce, Marcelo Serrano e Adriana Pino) que criaram suas versões para as garrafinhas de 100 ml, o equivalente a uma dose.

Estão a venda também três receitas dos próprios "sip lovers" para clássicos antigos e modernos, como o Vesper Martini e o Negroni, que ganhou óleo de coco na mistura. Com lucro, mais garrafas são doadas para 25 bares já cadastrados. Até agora, já foram mais de 5 mil unidades.

Ajuda necessária por algum tempo

A caixa do Drinks on the Rocks, para fazer em casa - Divulgação - Divulgação
A caixa do Drinks on the Rocks, para fazer em casa
Imagem: Divulgação

Mesmo agora, com a reabertura de bares em São Paulo, Berndt acredita a demanda por coquetéis para beber em casa deve seguir crescente. "Muitos bares e bartenders vão manter o delivery, porque eles dizem que vai ser uma força extra", ele diz.

A retomada do setor deve demorar meses e que iniciativas de ajuda continuarão a ser necessárias. Empresas que atuam na área também anunciaram pacotes de incentivo e ajuda. É o caso da Diageo, que deve oferecer 100 milhões de dólares a bares de todo mundo através do Movimento Pró-Bar.

No final de março o e-commerce de coquetéis em casa Drinks on The Rocks Club criou uma linha especial que tem parte da venda (50%) revertida para ajudar os bartenders que os criaram.

Batizada de Bartender All Stars, reúne 9 profissionais (com nomes reconhecidos do circuito como Marquinhos Felix, Stephanie Mairink e Zulu), para criar drinques especialmente para a plataforma, que entrega para todo o Brasil, para clientes que querem ter a experiência de preparar seu próprio drinque.

Criação de Zulu para o Drinks on the Rocks - Divulgação - Divulgação
Criação de Zulu para o Drinks on the Rocks
Imagem: Divulgação

"Achamos que ter uma linha de bartenders poderia ser uma forma de mantê-los com gás em um momento tão difícil além de ajudá-los com uma compensação financeira, já que muitos ficaram e ainda estão longe de seus balcões", explica Herbie Ramos, um dos criadores do projeto, que faz parte de um grupo que promove eventos de coquetelaria (como o famoso World Class) e catering.

Segundo ele, é uma forma de colaborar no enfrentamento da crise que a categoria tem passado. Ramos explica que, assim como as outras linhas da Drinks on The Rocks, os coquetéis assinados pelos bartenders têm tido uma ótima procura dos clientes que, em seis capitais (entre São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia), podem receber os coquetéis em 90 minutos.

"Ainda que a plataforma seja para democratizar os coquetéis, com os kits todos pré-montados para o cliente só finalizar em casa, queremos ressaltar a figura do bartender como autor, por em evidência sua criatividade", detalha Ramos.

Não basta misturar ingredientes, é preciso conceber uma boa fórmula, testar a receita, algo que só os profissionais fazem bem", completa.

Nas próximas semanas, a Drinks on The Rock deve lançar novos coquetéis em parceria com bartenders do Rio de Janeiro. "A ideia é expandir o projeto e a ajuda para outras cidades", diz.

Oportunidade para cultura coqueteleira

A motivação para o At Home Speakeasy, um serviço de delivery focado em coquetéis engarrafados com cachaça, veio de uma crônica publicada n'O Estado de S. Paulo em que o autor previa um cenário catastrófico de um mundo sem bares.

"Pensando naquilo, queríamos pensar numa experiência de bar que pudesse ir para a casa de nossos clientes neste momento caótico", diz Adriana Teodoro, uma das criadoras do projeto, com o bartender Rafael Domingues.

Coquetel do At Home Speakeasy - Divulgação - Divulgação
Coquetel do At Home Speakeasy
Imagem: Divulgação
Garrafinhas do At Home Speakeasy - Divulgação - Divulgação
Garrafinhas do At Home Speakeasy
Imagem: Divulgação

Desde o princípio, o objetivo era trabalhar somente com produtos e insumos brasileiros. Os três coquetéis desenvolvidos no momento são feitos com a cachaça Arbórea, de Pirapetinga (MG), enquanto os outros insumos vêm de produtores locais, como o licor de lúpulo, feito pela San Basile.

Outros ingredientes são feitos artesanalmente pelos sócios, como o xarope de banana, a tintura de pimenta rabo de macaco e o orgeat de amendoim (um tipo de licor muito usado na coquetelaria tiki, geralmente com amêndoa).

"É um jeito de impulsionar o mercado local nesse momento", Adriana acredita, já que a cadeia de coquetelaria vai dos bares aos ingredientes e produtos que são usados pelos bartenders. Os fornecedores, portanto, também estão sofrendo pelo fato do ritmo não ter voltado ao normal.

Os clientes têm respondido bem aos coquetéis em casa, ela conta, o que tem sido uma forma de aproveitar o momento para criar uma cultura ainda mais arraigada de coquetelaria, especialmente brasileira. "E ainda dar um fôlego para quem trabalha nesse setor pelo menos nesse momento", conclui.