Meu escritório é na praia, campo ou serra: os "resort office" são tendência
Após meses de pandemia, home office e ensino à distância já entraram na rotina de famílias do mundo todo. Com algumas novidades de redes hoteleiras, no entanto, é possível incorporar essa rotina a outros ambientes que não à própria casa.
Além dos "room offices", para atrair este público, muitos hotéis brasileiros começaram a oferecer um serviço conhecido como "resort office", termo que pode ser traduzido como "escritório de resort".
Os estabelecimentos criaram espaços de trabalho e estudo dentro de suas estruturas, que permitem que os hóspedes cumpram suas obrigações profissionais e escolares ao mesmo tempo em que curtem um ambiente de viagem.
Sossego em família
Além de permitir que as pessoas saiam um pouco de casa, a modalidade pode aliviar o dia a dia dos pais.
"No hotel, não há a dor de cabeça de ter que fazer comida, lavar a roupa e limpar a casa. Muitos locais também têm monitores que podem cuidar das crianças caso os pais queiram ter momentos mais privativos", Marcos Destro, diretor geral do Grupo Líder Corp, empresa turística que vende pacotes para hotéis que contam com o serviço.
Para se adaptar ao conceito de resort office, estabelecimentos hoteleiros no Brasil estão ganhando espaços com mesas e computadores, melhorando sua velocidade de internet e ampliando o alcance do wi-fi em seu interior.
Mergulho entre um e-mail e outro
Estabelecimentos de diferentes perfis estão oferecendo a modalidade. São locais que possuem, junto com os novos espaços de trabalho, áreas de lazer com piscinas, zonas de recreação infantil e locais para fazer exercício físico. Em muitos destes lugares, não há um custo extra para usufruir do serviço de resort office.
Esse é o caso do Le Canton em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro.
Mãe de uma menina de oito anos, a decoradora Ticiana Gregoris passou uma semana hospedada no hotel-fazenda e gostou tanto da experiência que voltou alguns dias depois.
"Minha filha assistiu as aulas ao vivo da escola em um antigo espaço para convenções, que o Le Cantou adaptou colocando mesas espaçadas, material escolar, impressora, lanchinhos e duas monitoras que ajudam as crianças em tudo que for necessário.
Diferente do que estava acontecendo em casa, no resort ela ficou muito estimulada a estudar porque é um ambiente escolar, em que ela vê outras crianças estudando também", relata.
Enquanto a pequena fazia suas lições, o marido de Ticiana aproveitava para colocar o trabalho em dia. "Para se concentrar melhor, ele preferia trabalhar dentro do quarto, onde ele tinha uma escrivaninha, uma cadeira confortável, um frigobar e um wi-fi ótimo, que pega em todo lugar. Além disso, é realmente maravilhoso não ter que arrumar a cama e cozinhar", completa.
A experiência do resort office também foi proveitosa para o empresário Bruno Santos, que se hospedou no Portobello Resort & Safari, em Mangaratiba (RJ), com sua esposa e seus filhos de 8 e 12 anos.
"Como eu e minha mulher estamos ficando mais tempo em casa, nossos filhos acabaram entendendo que também estamos com mais tempo livre e, por isso, começaram a cobrar mais a nossa participação nas tarefas deles. Com isso, o home office acabou gerando até um certo sentimento de culpa na gente em não poder dar tanta atenção quando eles esperavam.
Se hospedar no resort foi uma forma de fazer com que as crianças se divertissem um pouco enquanto a gente estava ocupando trabalhando", ele relata.
Apesar do hotel ter reservado uma parte do seu lobby para os hóspedes trabalharem, Bruno preferia resolver suas pendências na piscina, o que era possível graças às melhorias feitas no wi-fi. "Poder dar um mergulho entre um e-mail e outro é o melhor dos mundos. Com a cabeça mais tranquila, a produtividade só potencializa", conclui.
No interior de São Paulo, estabelecimentos como o Hotel Toriba e Hotel Vila Inglesa (em Campos do Jordão), o Hotel Fazenda Mazzaropi (em Taubaté), o Mavsa Resort (em Cesário Lange), a Villa Santo Agostinho (em Bragança Paulista) e o Tauá Resort (em Atibaia) também contam com o serviço.
O Hotel Fazenda Mazzaropi transformou seu centro de convenções em área de trabalho, com novas mesas e computadores de uso gratuito.
O Tauá Resort tem salas onde o hóspede pode montar seu próprio escritório.
Já o Hotel Toriba ampliou o alcance do seu wi-fi para permitir que as pessoas pudessem trabalhar ao ar livre, em contato com a natureza. A nova possibilidade encantou a psicanalista Cintia Buschinelli, que está realizando todos os seus atendimentos pela internet desde o início da pandemia.
"Conversei com colegas de trabalho e eles também estão sentindo que trabalhar com a tela exige muito de nós. Eu sempre terminava o dia muito cansada", ela conta.
A situação mudou drasticamente durante sua hospedagem. "No hotel, eu pegava o meu notebook, sentava em baixo de uma árvore e atendia os pacientes ao ar livre.
É bem diferente de passar o dia todo em um escritório. Dá um suporte emocional, você não tem a sensação de estar fechado, enclausurado", finaliza Cintia.
A vista também é um dos diferenciais do luxuoso resort Ponta dos Ganchos, em Santa Catarina. Nos bangalôs, os hóspedes podem trabalhar em escrivaninhas de frente para o mar, sendo que o hotel se dispõe a instalar uma impressora no quarto e a levar um chá da tarde com direito a quiches, cookies e petit fours até o "escritório".
Redes hoteleiras adotam o conceito
Na capital paulista, o Renaissance São Paulo Hotel, por exemplo, ganhou recentemente o Renaissance Studio, um ambiente onde os hóspedes podem gravar lives e podcasts com a ajuda de equipamentos de última geração. A utilização do espaço custa a partir de R$ 1.200. Além disso, conta com hospedagens ao estilo "room office".
Algo similar está disponível no hotel JW Marriott Rio, no Rio de Janeiro, que está oferecendo, para não-hóspedes, quartos equipados com mesa de trabalho, wi-fi de alta velocidade, máquina Nespresso, cesta de frutas e canais de notícias (como Bloomberg) abertos.
E a rede Accor também possui diversos estabelecimentos no Brasil fazendo parte desta tendência: um deles é o Novotel Itu Golf & Resort, que abriga salas de eventos onde o hóspede pode montar seu escritório. Lá, há ainda locais chamados "Cantinhos do Estudo", para crianças que precisam acompanhar aulas à distância e fazer atividades escolares.
Já o Ibis Recife Boa Viagem, o Mercure Belo Horizonte Savassi , o Mercure Brasília Líder Hotel e o Novotel Rio de Janeiro Porto Atlântico estão entre os hotéis da rede Accor que começaram a oferecer "room office".
Mudança de vida
Tem gente que gostou tanto das comodidades do "room office" que decidiu transformá-lo em sua morada permanente, mesmo depois que a pandemia acabar. Quando o contrato do seu antigo aluguel venceu, o empresário Beto Siqueira decidiu realizar o sonho de infância de morar em um hotel - mais especificamente, o Guest Urban, em São Paulo.
"Depois de quatro meses sem sair do apartamento, onde eu morava sozinho, pensei na possibilidade de morar em um local em que eu pudesse estar isolado, mas também visse uma certa movimentação de pessoas. Além disso, o hotel tem a vantagem de eu não ter que pensar em limpeza ou no café da manhã. Essas facilidades me fazer ganhar tempo e eu posso focar mais no trabalho", ele conta.
Beto afirma que o esquema também compensa financeiramente: as despesas com o hotel são equivalentes às do apartamento alugado. O diferencial, segundo ele, é não ter que se preocupar com os vencimentos dos inúmeros boletos de luz, água e internet: basta pagar as diárias e pronto.
"Foi uma experiência que a pandemia me proporcionou, mas que eu vi ganhos na qualidade de vida.
Aqui eu consigo fazer uma separação mental melhor entre o meu quarto, que é o espaço do meu lazer e descanso, e o escritório montado pelo hotel, que é onde eu trabalho", explica.
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