Embarcamos no primeiro ônibus adaptado para prevenir o coronavírus
É seguro viajar em tempos de pandemia? Boa pergunta. Também me questiono isso quase que diariamente. Depois de seis meses, confinado em casa e seguindo todas as orientações para prevenir a covid-19, conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), resolvi fazer um teste.
Até então saía somente para ir ao supermercado, farmácia e consultas médicas quando necessário. Também, há cerca de um mês, havia dado uma ''esticada'' de Porto Alegre até a cidade de Nova Petrópolis, na serra gaúcha por motivos profissionais sempre usando máscara, álcool em gel no carro e no bolso da jaqueta, além de manter o distanciamento social.
Na última segunda-feira (17), porém, resolvi embarcar nessa viagem e conhecer o ônibus Biosafe, o primeiro no Brasil, que promete uma plataforma de soluções de biossegurança para conter a transmissão do coronavírus. O destino escolhido foi a cidade de Santana do Livramento, a 488 quilômetros de Porto Alegre.
Na rodoviária
O embarque estava previsto para as 19 horas com previsão de chegada na cidade fronteiriça às 03h30 da madrugada de terça-feira (18).
Já na chegada da Estação Rodoviária de Porto Alegre me chamou a atenção uma nova tecnologia usada como uma das formas de combater a disseminação do novo coronavírus: todos os passageiros que se deslocam para as plataformas de embarque passam por uma câmera de leitura térmica onde é possível identificar por um monitor a temperatura corporal de várias pessoas simultaneamente.
Ao passar pelo local, minha temperatura estava em 36,2ºC. Caso o equipamento identifique a temperatura igual ou superior a 37,8ºC, ele emite um sinal a quem se refere e o passageiro é orientado por um funcionário da rodoviária a buscar um serviço de saúde e não pode embarcar.
No embarque
O ônibus possui três fileiras com 11 poltronas cada, totalizando 33 assentos de couro e reclináveis. Um coletivo normal de longa distância possui 48 lugares. Como o estado do Rio Grande do Sul estava com classificação de Bandeira Vermelha, que impõe restrições mais severas no modelo de distanciamento, a capacidade de ocupação de leito dentro do ônibus estava em 50%, ou seja, os assentos da fileira do meio não poderiam ser ocupados.
Após todos os passageiros embarcarem, foi a vez do motorista se apresentar e reforçar os procedimentos de higiene e desinfecção do Biosafe Bus. Com a ajuda de seu auxiliar, o condutor auferiu a temperatura de todos os viajantes antes de começar a viagem. O uso obrigatório de máscara a todos os passageiros durante o percurso também foi advertido pelo motorista.
O Biosafe
Por enquanto, no Brasil, são somente dois os ônibus Biosafe, ambos fabricados pela empresa Marcopolo com poltronas individuais e cortinas antimicrobianas.
As viagens tiveram início nesta semana com seis destinos pelo interior do Rio Grande do Sul: de Porto Alegre até Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, passando pelas cidades de Bagé e Dom Pedrito e para a região das Missões, nos municípios de Cruz Alta, Ijuí, Santo Ângelo e Santa Rosa, situada a 490 quilômetros ao noroeste do Estado gaúcho. Segundo a Marcopolo, o Biosafe Bus também circula pela Argentina e Angola, na África.
A diferença desse ônibus para o tipo convencional é que o Biosafe, além da distribuição em linha com 3 poltronas individuais, possui ainda esterilização do sanitário com luz UV-C, ou seja, após cada uso pelo passageiro, o processo de desinfecção com radiação ultravioleta acontece automaticamente. A radiação UV-C é emitida da mesma forma no sistema de ar-condicionado do ônibus, promovendo a desinfecção do ar e superfícies.
Há também a cortina antimicrobiana, que promete prevenir o contágio e impedir a proliferação de micro-organismos. O material da cortina é feito de laminado de PVC flexível, o que facilita a higienização.
Para acender a luz, observei que há um sensor individual automático para evitar o toque na superfície. Basta passar a mão em frente ao sensor que a luz acende rapidinho.
Se a preocupação tomar conta de sua cabeça quando o assunto é contaminação através de superfícies, o novo coletivo tem à disposição dos passageiros álcool em gel, tanto na entrada quanto na porta do banheiro.
Como me senti
No geral, os novos protocolos e tecnologias adotados me deram mais segurança para encarar a viagem de ônibus. Mas é inevitável, depois de seis meses de quarentena e tantas dúvidas, desenvolver certos receios.
Em alguns trechos da rodovia, mesmo com máscara N95 firme no rosto, era possível sentir o cheiro de zorrilho (um parente próximo do furão e que muita gente confunde com os gambás), animal comum na região, que vinha do lado de fora. Não raro eles são atropelados pelos motoristas e o odor se espalha pela rodovia. Nessas horas, vinham aquelas neuras de quem está fazendo a primeira grande viagem no tal novo normal. Como se o cheiro lembrasse que nosso atual inimigo está no ar. Um sentimento que sei que teremos que nos adaptar de agora em diante.
A viagem transcorreu bem, sem incidentes. Acredito que o vírus não me pegou, ao menos desta vez.
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