Gravidez, fuga de casa e 1ª viagem "adulta" em NY: esse casaco tem história
Pâmela Carbonari
Minha mãe estava gravidíssima de mim no inverno de 1992 — nasci em agosto. Somos do Rio Grande do Sul, onde as temperaturas podem chegar próximas a 0ºC, então ela precisava de um casaco mais soltinho, que fechasse na barriga.
Encontrou esse vermelho, de lã, em uma loja no centro de Porto Alegre, feito em uma malharia de Nova Petrópolis, uma cidade na serra gaúcha. Ele tem um cordão e pode ser acinturado, mas ela conta que quando usava solto, mal percebiam que ela estava grávida.
O casaco sempre foi bem marcante na minha infância. Lembro que minha mãe usava ele para levar eu e meu irmão ao parque, para andar de bicicleta. E, em um acesso de rebeldia infantil em que resolvi fugir de casa, fiz uma mala com uma escova de dente, um pacote de bolachas e o casaco vermelho, para ter o que vestir quando crescesse. Acho que essa foi a primeira vez que pensei no casaco como meu.
Isso só aconteceu de verdade muito anos depois, eu já estava com 24 anos e morando sozinha, em São Paulo. Pouco antes de ir viajar para Nova York no que seriam as minhas primeiras férias remuneradas da vida, fui visitar meus pais. Ela me ofereceu o casaco e passei a usá-lo imediatamente — é claro que levei também na viagem.
Mesmo sendo de lã, ele é relativamente leve, e dá para usar sozinho ou com mais camadas embaixo. Era perfeito para encarar o outono em Nova York e, apesar de ter outras opções de casaco, escolhi este para ter uma maneira de ter minha mãe comigo naquela comemoração: a viagem representou a conquista da minha independência, o que só foi possível graças ao incentivo que ela sempre me deu.
Além de achá-lo bonito (vermelho é a cor preferida da minha mãe, e minha também), me sinto segura com esse casaco, me deixa confiante. Talvez isso seja perceptível para as pessoas ao meu redor, porque recebo elogios sempre que estou vestida com ele. E agora, parando pra pensar sobre a história dessa peça, percebo que é minha capa protetora desde quando eu ainda estava na barriga da minha mãe.
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