"Comer fora" ganha sentido literal durante pandemia com ações de SP a NY
Com as práticas de distanciamento social ainda em vigor, empresas e organizações buscam redesenhar seus serviços para priorizar o espaço ao ar livre. Se o novo coronavírus é transmitido por suspensão aérea, melhor evitar lugares fechados.
Bares e restaurantes também estão reimaginando seus espaços para aproveitar ao máximo as áreas externas como uma tábua salvação, de forma a atrair clientes desesperados por algum sopro de normalidade.
Em São Francisco, uma força-tarefa da prefeitura para acudir a economia local aprovou opções para restaurantes expandirem para calçadas e praças, mas garantindo ainda que boa parte das ruas fiquem livres para as pessoas poderem se locomover.
Em Liverpool, na Inglaterra, a empresa de design e arquitetura Arup criou um projeto para os restaurantes como parte do Liverpool Without Walls. O programa foi construído em torno de unidades modulares adaptáveis
Realidade brasileira
Se no Brasil a ocupação de multidões nas calçadas do Rio de Janeiro assustou muita gente na reabertura dos bares e restaurantes da cidade, muitas prefeituras e empresários do país estão tomando atitudes mais comedidas para evitar a repetição das cenas.
Em São Paulo, o Ocupa Rua, projeto de ocupação das vias públicas que tem como piloto o centro, tem a proposta de englobar diversos estabelecimentos da região.
O projeto, uma parceria que reúne profissionais do setor, como os chefs Janaína e Jefferson Rueda (casal a frente de A Casa do Porco Bar e Bar da Dona Onça), e a Metro Arquitetos, foi autorizada em publicação no Diário Oficial de São Paulo no início de agosto e gerou polêmica entre donos de restaurantes, agora está prestes a ser inaugurado.
Com a abertura d'A Casa do Porco no próximo dia 1 de setembro, os clientes vão poder sentar nos "terraços ajardinados" (como explica o projeto) desenvolvidos especialmente para ajudar o restaurante — e os outros 30 estabelecimentos do entorno — a receber seus clientes.
A ideia é que o projeto seja expandido depois para outros bairros da cidade, como Vila Olímpia e Pinheiros, onde as negociações já estão avançadas, chegando a dezenas deles.
Protocolos seguidos
Além das mesas e cadeiras, o projeto conta com árvores frutíferas nativas e guarda-corpos para proteger os clientes e criar fluxos guiados das pessoas, assim evitando aglomerações, seguindo os protocolos dos agentes de saúde e da OMS.
"Foi uma solução para que os restaurantes possam atender pessoas ao ar livre, já estamos restritos em nossa capacidade, é uma alternativa", diz Janaína Rueda. E completa:
É algo que já está acontecendo em diversas cidades do mundo, e que São Paulo agora também faz"
Ela ressalta que a ocupação é da rua, como diz o nome do projeto, o que significa que as calçadas seguem livres para os pedestres. A Prefeitura cedeu o uso de parte do asfalto e os restaurantes e apoiadores fazem as benfeitorias.
"Procuramos empresas para custear tudo, o dinheiro não vem do poder público, mas de marcas parceiras que acreditam que podem ajudar os moradores a terem um melhor aproveitamento da cidade nesses tempos difíceis", afirma.
Exemplo luso
Em outras cidades do mundo, o próprio governo decidiu fechar a circulação de carros para permitir que as ruas fossem ocupadas apenas com mesas e pessoas.
É o caso de Lisboa, que teve três de suas ruas (em regiões como o Chiado e a Baixa) convertidas em espaços sem tráfego, para ajudar os comerciantes locais.
Entre elas está a famosa Rua dos Bacalhoeiros, onde estão restaurantes mais novos, como o SáLa, do chef João Sá, até casas com comidas mais tradicionais, como Maria Catita,e do mundo, como o peruano Qosco.
Pintadas de azul, as ruas indicam que são livres de automóveis e podem ser usadas por donos de restaurantes, cafeterias e outros comércios. O projeto A Rua é Sua, da câmara local, agora estuda proibir o tráfego de até 100 vias da cidade, de forma temporária ou permanente.
É uma oportunidade para aumentar as áreas externas, transformar mais ruas pedonais, dar espaço ao restaurantes, bares, comércio... ligar a cidade aos seus espaços"
O depoimento é do chef José Avillez, mais conhecido no Brasil pelo programa Mestres do Sabor, cujo complexo de restaurantes Bairro do Avillez foi beneficiado com a conversão da rua.
Ele defende que, ao criar o programa, a Câmara de Lisboa foi solidária com os restaurantes nesta altura mais complicada por conta da pandemia. "Somos uma cidade com tão bom tempo mas as pessoas não tem muito hábito de ficar na rua. Esta é uma grande oportunidade para os cidadãos e para os comerciantes", diz.
Restaurantes reinventam espaços
Mesmo aqueles que não utilizam as ruas, precisam se reinventar para ocupar seus espaços de forma diferente. Também em Lisboa, o chef Vítor Adão voltou a servir as refeições do seu aclamado restaurante, Plano, no quintal do edifício em que está localizado, no bairro da Graça, e que também abriga um hotel.
No início do projeto, há menos de um ano, ele fez alguns almoços e jantares ali até que a construção do espaço interno ficasse pronta. Mas agora, com a pandemia, tem voltado os serviços sempre que pode para a área externa, em um gramado ao lado da piscina.
Nos dias que há mau tempo, e que precisamos servir lá dentro, temos muitas desistências. Os clientes gostam de comer aqui por saberem que atendemos em uma área aberta, ficam mais seguros com isso"
Chef Vítor Adão, do Plano
Embora as refeições ao ar livre sejam um sucesso entre os comensais, muitos donos de restaurantes reportam que elas costumam representar apenas uma fração da capacidade normal de assentos — que, em muitas cidades, ainda estão condicionados pelos governos para evitar a propagação da doença.
Em Nova York, por exemplo, quase 10.000 mil estabelecimentos montaram mesas ao ar livre desde julho. Muitos deles precisaram investir na compra de mobiliários e outros equipamentos para se adaptar ao serviço na calçada ou na rua, mesmo em tempos em que o caixa já não vai bem.
Mas diante de um cenário tão instável, este tende a ser o melhor (e às vezes único) atrativo de que podem dispor para trazer os clientes que ainda querem comer fora. Nesse caso, literalmente.
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