Tem café no bule... e na coqueteleira, em drinques clássicos e novidades
Terceira bebida mais consumida do mundo, atrás apenas da água (por razões óbvias) e do chá, o café só recentemente vem sendo explorado na coquetelaria. Essa demora em misturar álcool e café não deixa de ser curiosa, já que as duas bebidas são consumidas há mais de milênio pelos seres humanos.
O primeiro drinque com a bebida amarga e negra, por exemplo, é o Irish Coffee, criado nos anos 1940. Leva uísque irlandês, creme de leite, espresso e açúcar — combinação um tiquinho mais elaborada que a xícara com cachaça que aquele tio animadão toma de vez em quando.
Foi só depois de 40 anos que o café voltou a entrar na coqueteleira, quando o bartender Dick Bradsell criou, em 1983, o Espresso Martini, com licor de café, espresso e vodca. O licor de café, aliás, aparece em algumas outras misturas, mas não traz toda a intensidade da bebida.
Para o barista e barman Chris Carijó, à frente do balcão do bar Belle Époque, em São Paulo, ainda há uma resistência em combinar o café com bebidas alcoólicas. "Ele é tão complexo que, quem não conhece o ingrediente, fica com medo de usar", opina.
Carijó, no entanto, vê essa resistência diminuindo nos últimos tempos. "A vida de quem gosta de um bom café no drinque está muito mais fácil, seja pela oferta de máquinas ou pela qualidade dos grãos que estão chegando às prateleiras", diz.
Não é preciso mais ser um barista para fazer um Espresso Martini em casa. Uma cafeteira de cápsula é acessível hoje em dia"
Sabor encorpado
Mesmo assim, é preciso tomar alguns cuidados na hora de usar a bebida que tem sua origem no continente africano (ela é nativa da Etiópia). "O café é muito forte e por isso precisa ser bem dosado para não dominar o sabor de um coquetel", explica.
Tendo isso em mente, porém, Carijó garante que a bebida é versátil e funciona para elaborar tanto drinques mais refrescantes quanto mais encorpados.
O segredo, ensina o barista/barman, é o método de extração. "Cada forma de extrair a bebida vai dar um resultado diferente", diz. "Se quero um drinque em que o café vai aparecer de forma sutil, o ideal é fazer uma infusão com os grãos de café dentro da bebida alcoólica, como uma cachaça, uísque ou vodca. Vai ficar presente, mas sem se sobrepor aos outros sabores", indica.
Para um coquetel mais refrescante, sugiro um café coado"
Carijó também recomenda o cold brew, método de extração a frio, que é super simples - mas exige paciência. "Você coloca 250 g de café em uma garrafa com 1 litro de água e deixa na geladeira por 24 horas. Depois, basta coar e beber", afirma. No caso de combinações mais marcantes, a recomendação é usar o espresso.
Outra vantagem da bebida, afirma Carijó, é que ela combina com vários licores e destilados, como conhaque, uísque e vodca. "Se você gosta de tomar um café bem doce, aconselho misturar com licores. Licor de laranja, por exemplo, fica muito bom". "Só não gosto muito de tequila, que tem notas mais salgadas. Gim também é complicado, tem que usar pouco café, senão o gosto fica estranho", orienta.
Na opinião do barman, porém, é com a cachaça que o café faz a melhor harmonização. "Combina muito, até pelo fato de a gente estar acostumado a tomar café com açúcar. É como se a gente estivesse adoçando a bebida, mas com pinga", diz. Viu como o tio animadão não estava errado em colocar caninha na xícara?
Carijó ensina ainda dois jeitos mais interessantes de aproveitar a bebida. "Uma receita simples e mais leve é fazer um café coado e adoçar. Depois, coloca meia dose de cachaça e completa com água com gás. De preferência, use uma caninha envelhecida em madeira, mas com sabor não tão forte", recomenda.
Se você busca um coquetel mais forte, a sugestão é misturar 30 ml de espresso frio com 15 ml de cachaça bem forte e amadeirada em um copo baixo com gelo. "É um drinque sensacional para encerrar o dia", diz o bartender.
Para quem quiser fazer uma mistura ainda mais elaborada, Carijó compartilha a seguir a receita do seu drinque mais conhecido, o Rabo de Galo Carijó, com cachaça infusionada com café e laranja.
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