Que tal nadar na casa de estranhos? 'Airbnb' de piscinas é sucesso nos EUA
As piscinas de Los Angeles fazem parte do imaginário da cidade, assim como as palmeiras de Beverly Hills ou as mansões nos desfiladeiros de Hollywood. Com a ajuda de um aplicativo, agora é possível dar um mergulho em residências cinematográficas e fazer sua própria versão de "A Bigger Splash" (1967), pintura do inglês David Hockney, que ficou obcecado com as piscinas ao se apaixonar pelo estilo de vida angeleno.
O designer Gus Oenning, 32 anos, descobriu o aplicativo após sofrer com o calor de 40 graus deste verão na cidade. Sem poder usar a piscina da academia, fechada por conta do novo coronavírus, ele chegou a alugar uma casa com piscina para satisfazer a vontade de nadar.
Mas logo percebeu que não precisava tanto. O aplicativo do verão da pandemia norte-americano é uma espécie de Airbnb das piscinas, chamado Swimply. "Escape localmente", diz o site. "Reserve por hora piscinas particulares do bairro".
Criada há pouco menos de dois anos, a plataforma quase foi à falência com a chegada do coronavírus, mas explodiu em demanda com a chegada do calor nos EUA. Foi de 2 mil piscinas registradas na pré-pandemia para cerca de 8 mil em setembro em todo o país, com 250 mil downloads, segundo dados da empresa.
Oenning, curitibano que mora na Califórnia há sete anos, alugou uma piscina a 20 minutos de sua casa por US$ 35 por hora (R$ 185) e foi com três amigos: o namorado, o amigo com quem mora junto e o namorado dele. "Fiquei receoso de usar o aplicativo, e meus amigos estavam bem apreensivos também. Não sabíamos se teríamos privacidade ou como seria o esquema", disse.
Ao chegar, a porta já estava aberta, e a turma não cruzou com ninguém. "Falei com a dona pelo aplicativo e ela disse para ficarmos à vontade. O estranhamento passou rápido", disse.
Curtimos tanto que vamos voltar amanhã. É mais barato que ir à praia e pagar estacionamento e ainda correr risco com a muvuca de pessoas"
O condado de Los Angeles administra cerca de 50 piscinas públicas, algumas abertas apenas no verão e com entrada de US$ 1 a US$ 4. Com a pandemia, todas fecharam. Acredita-se que o novo coronavírus não sobrevive em piscinas tratadas com soluções desinfetantes, como cloro, mas aglomerações dentro e fora da água trazem riscos de contaminação.
Como funciona?
Os preços da Swimply variam de US$ 30 a US$ 60 por hora. A plataforma cobra 15% dos donos de piscina e 10% dos usuários em cada reserva. Ao contrário do Airbnb, a plataforma ainda não oferece seguro aos anfitriões, apenas um termo de responsabilidade que todos assinam ao entrar no aplicativo.
Uma piscina para chamar de sua: elas estão para alugar
Os donos precisam deixar um intervalo de uma hora entre reservas para evitar que grupos se cruzem na chegada e na saída, além de dar tempo para limpeza. Ao final, usuários e anfitriões podem deixar resenhas e dar notas às experiências.
A reportagem reservou uma piscina em agosto. O perfil dizia: "Piscina boa para crianças, com trampolim", máximo de cinco convidados, profundidade de 2,7 metros, tamanho de 10 por 4,2 metros e tratada com cloro. Há alguns brinquedos infláveis disponíveis, aquecimento solar e banheiro para emergências.
A dona conversou com a repórter pelo telefone e contou que perdeu o emprego recentemente. "Achei que o aplicativo podia ser uma maneira de fazer algum dinheiro", disse Mela Ziebell, terapeuta ocupacional australiana, que vive em Los Angeles há dois anos com o marido e três filhas pequenas.
"Usamos a piscina todos os dias e nossos amigos também. Por isso só aceitamos cinco reservas por semana. Todo mundo tem sido muito simpático, as crianças adoram o trampolim", continuou Ziebell, que aderiu ao aplicativo em julho e disse já ter feito algumas centenas de dólares.
Minhas piscinas (por algumas horas)
Doente e quase falido
Asher Weinberger, um dos criadores do Swimply, disse a Nossa que teve que demitir seus funcionários no início da pandemia e quase encerrou as operações. Para piorar, ficou semanas doente com coronavírus, perdeu um tio para a doença e ainda teve uma irmã internada.
Estávamos para levantar US$ 3 milhões em fevereiro. Porém, em março, todos os acordos caíram por terra, ninguém estava mais investindo. Não tínhamos mais dinheiro, parecia o fim do mundo"
"E, no meio disso tudo, de repente percebemos um aumento nas reservas. E foram subindo, subindo, sem parar. Então voltamos a chamar nossos funcionários", diz Weinberger.
A empresa tenta agora levantar US$ 8 milhões. Parte do dinheiro será para levar o aplicativo à América do Sul. "Estamos de olho no Chile, Argentina e Brasil", disse o empresário de 34 anos.
Ele e seu cofundador apareceram no programa "Shark Tank" em março e saíram sem investimento. "Mas valeu a pena pelo marketing. Tivemos boas conversas."
De porta em porta
A ideia do aplicativo surgiu quando ele comprou sua própria casa com piscina, em Long Island (Nova York), e tinha que organizar pedidos de amigos e familiares para usá-la. "Nunca pensei em monetizar", disse. "Até ouvir a ideia do meu parceiro de negócios."
Bunim Laskin, 22 anos, é o outro fundador do Swimply. O então estudante costumava alugar a piscina de seu vizinho em Nova York e imaginou um negócio em potencial.
Chegou a bater de porta em porta em casas com piscinas da região, achadas via Google Earth. Das 80, apenas quatro toparam, dando origem a um programa piloto em 2018.
Em algumas semanas, tínhamos centenas de pessoas nadando em piscinas de estranhos"
Asher Weinberger
Hoje, ele aluga a própria piscina no aplicativo por US$ 60 por hora e afirma ter feito no último mês cerca de US$ 15 mil.
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