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Por que depois de reabrir na pandemia restaurantes voltam a fechar?

Funcionários do espanhol Aponiente: restaurante voltou a fechar depois que funcionários testaram positivo para o novo coronavírus - Reprodução Instagram
Funcionários do espanhol Aponiente: restaurante voltou a fechar depois que funcionários testaram positivo para o novo coronavírus Imagem: Reprodução Instagram

Rafael Tonon

Colaboração para Nossa

10/09/2020 04h00

Foram semanas sem poder abrir aos clientes, seguindo rígidas exigências impostas por governos no mundo todo, o que os colocou na maior crise de suas histórias.

Quando finalmente puderam voltar a atender seu público diante de um relaxamento das medidas de distanciamento social, alguns restaurantes se viram obrigados a voltar a fechar as portas.

Foi o caso do Aponiente, considerado um dos melhores restaurantes da Espanha, país drasticamente afetado pelo novo coronavírus, com algumas das piores taxas de transmissão de toda a Europa e cerca de 30 mil mortos pela doença.

Localizado na região de Cádiz, no sul do país, o restaurante com três estrelas Michelin enfrentou um pequeno surto de infecção entre funcionários e foi obrigado a trancar as portas no final de agosto, após apenas seis semanas da reabertura oficial.

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Fachada do Aponiente, em Cádiz, no sul da Espanha
Imagem: Reprodução Instagram
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Mesmo seguindo as normas de higiene, casos de covid na equipe obrigaram a fechar novamente as portas
Imagem: Reprodução Instagram

Comandado por Ángel León, conhecido como "o chef do mar" por suas criações como uma mortadela de peixe e o uso de plânctons nas suas receitas, o restaurante testou todos os seus funcionários depois que um deles apresentou sintomas: 3 dos 60 estavam positivos.

A saída foi senão encerrar as atividades mais uma vez até que tudo estivesse seguro para poder garantir a saúde dos "nossos clientes e nossa tripulação", como disse o comunicado do restaurante.

"Responsáveis com a situação e com tristeza de não permitir que nossos comensais possam desfrutar do restaurante, comunicamos que nossas instalações permanecerão encerradas temporariamente e de forma voluntária até que possamos ter segurança em reabrir", continuava. O Aponiente retomou novamente as atividades no começo de setembro.

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O Aponiente reabriu as portas no final de setembro, após a "auto quarentena"
Imagem: Reprodução Instagram

Remoto, mas não inalcançável

Mesmo caso ocorreu com o KOKS, restaurante de destino que fica nas remotas Ilhas Faroe, na Dinamarca, e onde a covid-19 parecia estar sob controle: todos os turistas são obrigados a apresentar testes para entrar no arquipélago.

Localizado em Leynavatn, o KOKS tem uma proposta local de servir ingredientes que só poderiam ser produzidos ali, como mexilhões de 300 anos e cordeiros autóctones assados, já que poucas coisas chegam às ilhas.

Mas isso não impediu o vírus de infectar um dos funcionários da equipe do chef Poul Andrias Ziska, que dirige o restaurante, com duas estrelas Michelin.

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Um dos funcionários do KOKS foi infectado e a casa fechou por duas semanas
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Mesmo a localização remota, nas Ilhas Faroe, não impediu a "chegada" da covid-19 ao staff
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Como resultado, todos os funcionários tiveram que ser colocados em quarentena, o que levou o chef a ter que encerrar o restaurante por duas semanas. "Tem sido um ano tão incomum que essas coisas nem me surpreendem mais", disse o chef a um jornal local do arquipélago de 50 mil habitantes.

Infecções comunitárias

Em Portugal, o auge do verão faz o governo tomar medidas para evitar que as praias ficassem lotadas, como o controle de entrada de banhistas. Mas na Comporta, litoral a pouco mais de uma hora de Lisboa, os contágios ganharam manchete por terem se intensificado em restaurantes bastante populares.

Dois estabelecimentos pertencentes a um mesmo grupo de empresários, a Ilha do Arroz e o Museu do Arroz, preocuparam as autoridades por terem sido focos de infecções comunitárias da covid-19.

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Museu do Arroz, na praieira Comporta: considerado foco de infecções comunitárias
Imagem: Reprodução Instagram

Dos 39 testes realizados com as equipes — que, por vezes, circulavam entre os dois espaços — 18 deram positivo, além de quatro familiares também contaminados.

O surto, que já foi controlado, depois do fechamento dos restaurantes e de quarentenas imposta a todos os infectados, causou efeitos negativos também a outros restaurantes da região.

O Cavalariça, um dos mais conceituados restaurantes da Comporta, que coleciona críticas positivas nos jornais locais, veio às redes sociais expor as consequências.

"Só hoje, vamos com 9 cancelamentos de reservas, 40 pessoas que, por seguirem o que dizem as 'notícias', resolveram alterar seus planos", publicou em seu Instagram.

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Entrada do Cavalariça, que não fechou, mas foi indiretamente atingido pela "fama" de foco de covid de restaurantes da região
Imagem: Reprodução Instagram

O efeito vai além dos restaurantes onde ocorrem os contágios: a restauração dessas localidades acaba por carregar consigo a pecha negativa noticiada, mesmo que sigam protocolos rígidos de controle.

O que está em jogo, mais do que o cuidado que precisam passar aos clientes, é a capacidade dos restaurantes e outros estabelecimentos de serviço de seguirem funcionando sem colocar em risco suas equipes — o que pode obrigá-los a fechar e criar uma imagem negativa junto aos frequentadores, afetando ainda mais a economia local.

Focos de contágio

Nos EUA, desde que os restaurantes puderam abrir em alguns estados, restaurantes se tornaram foco de contágios. Em Maryland, 12% dos novos casos registrados em agosto foram rastreados em restaurantes, e no Colorado, 9% dos surtos gerais foram ligados a bares e restaurantes.

Segundo reportou o The New York Times, cenários parecidos ocorreram em outras partes do país. "Dados de estados e cidades mostram que muitos surtos comunitários do coronavírus neste verão se concentraram em restaurantes e bares", noticiou o jornal.

Além dos lares de idosos, das prisões, dos frigoríficos e das fábricas, bares e restaurantes se tornaram grandes focos de contágio em território americano.

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Restaurante em Nova York, nos Estados Unidos
Imagem: Noam Galai/Getty Images

A situação no Brasil

De acordo com Paulo Solmucci Jr, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o Brasil ainda não passou por situação semelhante.

Não tivemos nenhum conhecimento de surto no Brasil ou de trabalhadores que tenham se infectado, exigindo ações desse tipo"

É preciso lembrar que, no Brasil, a retomada é mais recente do que na Europa ou em outras regiões.

Mas o executivo aponta que, em cidades onde esses estabelecimentos permaneceram abertos por mais tempo (sem quarentenas rígidas) ou que quase não fecharam, como Campo Grande e Vitória, casos de surtos, mesmo pequenos, não foram reportados.

Solmucci lembra que é imprescindível que os bares e restaurantes sigam as medidas de segurança estipuladas pelos órgãos de saúde especialmente para seus colaboradores. Não adianta apenas investir em medidas aos clientes, ele pontua.

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As medidas de segurança devem atender tanto aos clientes quanto aos funcionários de bares e restaurantes
Imagem: Getty Images

Manual anti-covid

Em uma cartilha de prevenção enviada a bares, restaurantes, cafeterias e outros estabelecimentos do ramo, a Abrasel indica medidas como a que os "colaboradores devem vestir uniforme somente em local de trabalho" e que é preciso "atenção redobrada no contato entre entregadores e fornecedores com funcionários".

O documento ainda destaca que "o colaborador deve ser afastado em caso de constatação" dos sintomas da doença e de como os empresários precisam se ater a "distâncias de pelo menos um metro" para as equipes.

Minha expectativa é que não tenhamos questões de emergências como essas por aqui"
Paulo Solmucci Jr

Agora que em muitas cidades do Brasil os restaurantes puderam voltar a funcionar, depois de pressionar seus governos sob o argumento de que poderiam fechar para sempre, e precisam ter cuidado para que as portas permaneçam abertas. E não sejam obrigados a voltar a trancá-las.