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Incêndio destrói acesso a popular gruta turística em Mato Grosso

Vinícius Rangel

Colaboração para o UOL, em Vitória

14/09/2020 21h31

Cenários de belezas naturais têm sido destruídos pelo fogo em Mato Grosso. O último local alvo das chamas foi a mística Dolina Água Milagrosa, em Cáceres, um dos pontos turísticos mais fortes do pantanal mato-grossense, que fica a 225 km da capital, Cuiabá. Ontem, um incêndio de grandes proporções destruiu o único acesso ao local, uma escadaria de 155 degraus.

A foto, divulgada pela Prefeitura do município, mostra a escada de madeira reforçada nas pedras, destruída — algumas partes viraram cinzas. O comandante regional dos bombeiros, Tenente-Coronel Vicente, disse que a corporação foi acionada na última sexta-feira (11), mas que os oficiais não conseguiram chegar ao local.

"No dia 11, nós estávamos com as equipes empenhadas em combater incêndios nas áreas da cidade, que poderiam atingir residências. Tentamos contato no dia seguinte, mas não conseguimos falar com ninguém. Infelizmente ou felizmente, a ocorrência chegou num momento que tínhamos que decidir se apagávamos o fogo na escadaria ou as chamas nas áreas urbanas", conta o comandante ao UOL.

Os profissionais, então, focaram os esforços nos incêndios registrados nas áreas urbanas, onde as chamas poderiam colocar em risco vidas humanas. Desde o final de semana, o fogo continua destruindo o verde na região. O comandante dos bombeiros frisou que as equipes estão empenhadas em controlar as chamas: "Temos incêndios na Reserva Ecológica do Taiamã, Serra das Araras, na Serra de Ricardo Franco, temos outras regiões de patrimônio cultural e social da população de Mato Grosso. Nós não temos com precisão o tamanho da área devastada pelo fogo aqui em Cárcere, logo farei um levantamento para repassarmos com mais precisão", explica o Tenente-Coronel Vicente.

 "A gente que mora aqui fica triste com todos esses incêndios", diz o estudante Henrique Soares - Henrique Soares/Divulgação Prefeitura de Cárceres - Henrique Soares/Divulgação Prefeitura de Cárceres
"A gente que mora aqui fica triste com todos esses incêndios", diz o estudante Henrique Soares
Imagem: Henrique Soares/Divulgação Prefeitura de Cárceres

Quem mora em Cáceres também vem sofrendo com a fumaça intensa que atrapalha a respiração, dificulta a visão nas estradas e destrói o meio ambiente. Morador há 22 anos da região, o estudante Henrique Soares lamenta a destruição: "A gente que mora aqui fica triste com todos esses incêndios. A nossa cidade é pequena, mais rica em belezas naturais e o fogo tem destruído muita coisa", diz.

120 dias sem chuva em Cárceres

O município de Cáceres está há 120 dias sem chuva. A informação é do Prefeito da cidade, Francis Maris Cruz, que também afirma que essa é a maior seca no município nos últimos 50 anos. Foi decretado estado de calamidade pública, em vista da situação que está o principal rio que abastece a região, o Paraguai.

"O Rio Paraguai está quase seco. Eu nunca vi essa cena em toda a minha vida. Eu moro aqui há 50 anos e nunca vi isso. Decretamos situação de calamidade e estamos com os bombeiros, nossos brigadistas, tentando apagar as chamas. Se não chover, uma chuva boa nos meses de outubro e novembro, vai faltar água", diz Maris Cruz ao UOL.

Na capital Cuiabá a última chuva registrada foi no dia 23 de maio. De acordo com o professor de climatologia do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso, Rodrigo Marques, a tendência é de que o calor aumente. O tempo seco também favorece as queimadas: "O anticiclone está atuando aqui ainda. Ele sopra ar quente de cima para baixo, inibindo formação de nuvem e chuva. Nessa época, chuva só por frente fria, e elas não vieram este ano", explica.

"Acredito que pelo menos nos próximos dias deve ficar igual, com temperaturas acima de 42 graus. Já tivemos o agosto mais quente e este já é o setembro mais quente já registrado na história", afirma Marques.

Governo de MT decreta situação de calamidade pública

O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, vai decretar, ainda hoje, estado de calamidade pública por conta dos incêndios florestais. A medida permite dobrar a estrutura para a prevenção, combate e autuação dos incêndios no Estado, especialmente na região pantaneira.

Mendes ressalta que o Governo tem planejado e atuado nessa frente desde março, sendo que hoje há em torno de 2.500 profissionais envolvidos no combate, "das forças de Segurança, da Defesa Civil, dos Bombeiros, voluntários e até no Exército Brasileiro". Além disso, mais de R$ 22 milhões de recursos próprios já foram investidos para o combate às queimadas em 2020.

"Temos seis aeronaves ajudando nesse combate, três helicópteros e 40 equipes em todo o estado. Vamos baixar um decreto de calamidade que vai nos permitir contratar em regime de urgência, o que vai permitir dobrar essa estrutura e também ampliar toda a estrutura existente hoje para proteção dos animais, para resgate, principalmente para o Pantanal", explica.

O governador reforçou a política de Tolerância Zero para quem causar incêndios de forma criminosa. Somente de janeiro a agosto, já foram aplicados R$ 107,3 milhões em multas pelo uso irregular do fogo e R$ 805 milhões por desmatamento ilegal.