Contêineres de navios se transformam em casas mais baratas e inovadoras
As casas estão sendo reinventadas pelas mãos de arquitetos e até mesmo dos que se arriscam a estampá-la da própria maneira. É nesse cenário que os contêineres estão deixando a parte traseira de caminhões e o subsolo de navios para assumirem a sua estética como novas moradias.
Não é difícil encontrar boas ideias e imagens inspiracionais desses projetos nas redes sociais usadas como "garimpo de decoração". Rústicas, essas caixas de aço têm conquistado um público jovem e se transformado em tendência.
A origem do contêiner é explicada por Homã Alvico, arquiteto titular do Estúdio HAA! e professor do curso de arquitetura em contêiner:
"Essas caixas são usadas para transporte marítimo e terrestre", conta ele a Nossa. "Depois de uns 12 anos, ela precisa ser 'aposentada' por normas de segurança. Então, fica sem uso, vira lixo e, consequentemente, um problema".
Homã reforça ainda que os números de descarte deles têm aumentado, isso porque, entre 2000 e 2006, houve um aumento de 400% de transporte de contêineres dos portos.
"É um número gigante dessas caixas que ainda vão se aposentar do seu uso primário", diz. "Temos que desenvolver algumas formas de reutilizar, e a construção é uma forma interessante para isso".
Desse ponto nasce o que é dito como uma de suas maiores vantagens desse modelo: o upcyling; com o intuito de construir casas com matérias-primas sustentáveis, um ciclo de produção que prejudica menos o meio ambiente e exclui a etapa de demolição.
O preço, em comparação às obras clássicas, pode até sair mais barato por questões de planejamento, em que as "surpresas" financeiras são menores. O arquiteto destaca ainda como a mão de obra nesse tipo de projeto, como os pedreiros, têm melhores condições de trabalho nessa esfera.
"Faz parte de uma arquitetura pré-fabricada", continua Homã. "Até 90% do processo dela é feito assim, aumentando previsibilidades sobre a sua data de conclusão e custo".
Outro benefício é a mobilidade, que pode variar dependendo do projeto: "Isso é extremamente interessante e, a partir do momento que o valor da terra subiu muito, criou-se a necessidade de flexibilidade".
Não é preciso ficar preso no local, pagando o terreno por anos, pode-se apenas alugá-lo e depositar seu contêiner".
Sobre possíveis problemas com a ventilação e a temperatura dentro dos contêineres, principal dúvida levantada por quem almeja uma casa-contêiner, o arquiteto reforça o trabalho técnico criterioso para que esses não ocorram.
"Originalmente, é uma caixa de metal a fim de transportar bens de um ponto para o outro, e não moradia. Então, criamos isolamento acústico e térmico com outros materiais e revestimentos tanto para a parte interna como externa".
Como é ter uma dessas?
Alex é o dono de um desses contêineres. O quarto de hóspedes privado dele na Serra da Mantiqueira, para os que desejam viver essa experiência, faz parte de um anexo da casa maior no mesmo local.
"O diferencial é a rapidez e a versatilidade que eles oferecem", conta a Nossa. "Tem um quarto de hóspedes com banheiro, que dá acesso também ao deque em cima da casa, para tomar um vinho, sentar, ler um livro e tomar um sol. Um outro refúgio da casa".
Quem já se aventurou por lá foi o arquiteto João Sette, doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP) e professor na mesma instituição.
"O contêiner traz uma sensação de aconchego, por ser bem isolado e silencioso, e ao mesmo tempo que possibilita uma abertura total da parede ao pé da cama, com uma vista impagável para a Serra da Mantiqueira. Ou seja, o contêiner por ser auto estruturado, dá uma sensação de um pequeno e sólido abrigo bem aconchegante".
Quando questionado sobre como ele enxerga esse contraste da arquitetura clássica com as mais modernas, como essa, Sette pontua:
"Acredito ser uma ótima solução pela rapidez e o custo, que pode ainda cair à medida que se torne mais comum, e a qualidade resultante, lembrando do aspecto ambiental pois trata-se de reciclagem".
O professor complementa ainda com ideias: "O contêiner, em dois tamanhos, oferece várias possibilidades de junção, permitindo espaços maiores".
Um bom arquiteto é capaz de fazer projetos muito interessantes e chamativos com essa solução, que tem a vantagem de poder ser usada de forma mista com outras técnicas".
Vivendo dentro de contêineres
Na região da Grande São Paulo, Patrícia Melo (@blogremobilia) e seu marido investiram a criatividade para uma vida dentro dessas caixas de metal.
Ambos designers, ela conta que eles pesquisaram diversos modelos construtivos que coubessem nos seus bolsos e encontraram essa solução.
"Ao descobrir as casas contêineres, um mundo de possibilidades se abriu pra gente, algo que poderia ser alterado, expandido e até transportado para outro lugar foi o que mais atraiu a gente no projeto", relembra, dizendo também que, dessa forma, encontraram um lugar que expressava a personalidade deles.
Entre as vantagens, Patrícia também destaca o fato de que não há espaço para acumulo e o mobiliário exerce sempre múltiplas funções:
"Por ter metragens reduzidas, os contêineres pedem um trabalho de expansão externo de integração com áreas abertas, um bom trabalho de ventilação com janelas, que trazem o benefício de ter muita luz natural na casa, e um trabalho de arborização e paisagismo que cria sombra e uma temperatura mais baixa ao redor da casa".
Inspirações
Passou vontade? Veja algumas casas contêineres para se inspirar e, quem sabe, ter a sua própria um dia:
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