Brasilidade em desenhos únicos dão personalidade a cerâmicas de artista
Quem vê as cerâmicas expressivas de Paula Juchem não imagina o quanto a vida a levou para ziguezaguear antes de encontrar-se com o barro. Para chegar a um trabalho permeado por fluidez e linguagem única, não faltaram também inquietude e coragem.
Gaúcha de Santa Maria (RS), ela chegou a São Paulo, onde se baseia atualmente, em 1996. Dois anos depois, partiu para uma temporada em Milão, na Itália. O plano era ficar seis meses — mas 15 anos se passaram com surpresas boas. Por lá, ela se casou com o fotógrafo Ruy Teixeira, teve dois filhos e descobriu a cerâmica.
Na verdade, um propósito de vida que a transportou do trabalho de design gráfico de revistas para a arte. Antes de chegar ao barro, Paula passou pelo photoshop, por ilustrações, colagens — e já nessa época identificavam o Brasil em seu desenho. "Era o início do que minhas obras expressam hoje, com brasilidade, botânica, frutas", diz.
O chamado
A cerâmica em si foi um chamado: uma amiga que era stylist pediu uma composição de pratos para uma marca e ela gostou do resultado.
Tempos depois, outra amiga veio com a proposta de ensinar a técnica em uma clínica de dependentes químicos em Ravenna, onde tratavam pacientes usando terapia ocupacional e meditação.
A imersão no laboratório de cerâmica descortinou um mundo de possibilidades e ela nunca mais parou. "Pirei na cerâmica. Foi quando encontrei o que queria para minha vida."
De volta ao Brasil com a nova família, ela comprou um pequeno forno. "Depois comprei um forno maior, comecei a estudar e a procurar minha linguagem. Descobri que a ilustração em relevo é a minha expressão."
Inspiração e transpiração
Paula investiu no caminho. Fez feiras como Paralela e Made, e batalhou para ter a obra reconhecida. "Uma das feiras eu fiz com minha bebê de 4 meses no canguru. Um cansaço enorme e não lucrei o suficiente para cobrir os custos. Minha carreira tem muito esforço", ri.
Para ela, sucesso é ter clara a linguagem artística e ocupar casas projetadas por grandes arquitetos — e essa alegria veio aos 46 anos. "Hoje, consigo fazer cinco peças únicas por mês e sigo cada vez mais esse percurso. Fico 15 dias com uma delas. Às vezes leva até quatro queimas para ficar pronto e tudo bem."
O fazer manual
Tudo parte de um desenho, que é observado por horas no ateliê. "Muitas vezes ele não vai se materializar na cerâmica, mas é um início."
A argila — que pode ser canadense, americana ou brasileira — é moldada pelo oleiro.
A partir desse momento, Paula tem dois dias para criar as ilustrações em relevo e os buracos que compõem cada peça. Ao secar, é lixada e passa por fornadas. Por fim, esmalte e cor entram em cena.
Minha ideia com a cerâmica é que não tenha uma funcionalidade. São objetos escultóricos para nos fazerem companhia em casa"
Ousadias
No fazer manual de Paula há muitas perdas. "Coloco muito peso e isso seria um erro na cerâmica. Muitas vezes ela não aguenta. Às vezes preciso ligar um ventilador, tracionar... é uma ginástica grande para que um processo ousado, como a escultura Banquete, nasça."
Mas são exatamente os itens ousados que fazem mais sucesso. "É uma grande paixão, passo o dia pensando no barro, imaginando no que mais o material pode me dar", conta.
Ao evitar a produção em massa, ela coloca sua essência em cada obra. "Busco cada vez mais colocar a minha verdade nas peças. As pessoas não precisam ter muitas coisas, e sim ter coisas verdadeiras, que fazem sentido. Encontramos isso em itens feitos por quem se dedica a mostrar sua verdade."
@s que me inspiram
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