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Brasilidade em desenhos únicos dão personalidade a cerâmicas de artista

Paula Juchem chega a passar 15 dias na composição de uma peça de cerâmica - Ruy Teixeira/Divulgação
Paula Juchem chega a passar 15 dias na composição de uma peça de cerâmica Imagem: Ruy Teixeira/Divulgação

Carol Scolforo

Colaboração para Nossa

22/09/2020 04h00

Paula Juchem

Paula Juchem

Quem é

Paula Juchem é ceramista, formada em desenho industrial pela Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

Quem vê as cerâmicas expressivas de Paula Juchem não imagina o quanto a vida a levou para ziguezaguear antes de encontrar-se com o barro. Para chegar a um trabalho permeado por fluidez e linguagem única, não faltaram também inquietude e coragem.

Gaúcha de Santa Maria (RS), ela chegou a São Paulo, onde se baseia atualmente, em 1996. Dois anos depois, partiu para uma temporada em Milão, na Itália. O plano era ficar seis meses — mas 15 anos se passaram com surpresas boas. Por lá, ela se casou com o fotógrafo Ruy Teixeira, teve dois filhos e descobriu a cerâmica.

Na verdade, um propósito de vida que a transportou do trabalho de design gráfico de revistas para a arte. Antes de chegar ao barro, Paula passou pelo photoshop, por ilustrações, colagens — e já nessa época identificavam o Brasil em seu desenho. "Era o início do que minhas obras expressam hoje, com brasilidade, botânica, frutas", diz.

O chamado

Ateliê com as obras de Paula Juchem - Ruy Teixeira/Divulgação - Ruy Teixeira/Divulgação
Ateliê com as obras de Paula Juchem
Imagem: Ruy Teixeira/Divulgação

A cerâmica em si foi um chamado: uma amiga que era stylist pediu uma composição de pratos para uma marca e ela gostou do resultado.

Paixão pela cerâmica de Paula Juchem passou por diversas etapas - Ruy Teixeira/Divulgação - Ruy Teixeira/Divulgação
Paixão pela cerâmica de Paula Juchem passou por diversas etapas
Imagem: Ruy Teixeira/Divulgação

Tempos depois, outra amiga veio com a proposta de ensinar a técnica em uma clínica de dependentes químicos em Ravenna, onde tratavam pacientes usando terapia ocupacional e meditação.

A imersão no laboratório de cerâmica descortinou um mundo de possibilidades e ela nunca mais parou. "Pirei na cerâmica. Foi quando encontrei o que queria para minha vida."

De volta ao Brasil com a nova família, ela comprou um pequeno forno. "Depois comprei um forno maior, comecei a estudar e a procurar minha linguagem. Descobri que a ilustração em relevo é a minha expressão."

Inspiração e transpiração

Obra de cerâmica - Ruy Teixeira/Divulgação - Ruy Teixeira/Divulgação
Obra de cerâmica
Imagem: Ruy Teixeira/Divulgação

Paula investiu no caminho. Fez feiras como Paralela e Made, e batalhou para ter a obra reconhecida. "Uma das feiras eu fiz com minha bebê de 4 meses no canguru. Um cansaço enorme e não lucrei o suficiente para cobrir os custos. Minha carreira tem muito esforço", ri.

Para ela, sucesso é ter clara a linguagem artística e ocupar casas projetadas por grandes arquitetos — e essa alegria veio aos 46 anos. "Hoje, consigo fazer cinco peças únicas por mês e sigo cada vez mais esse percurso. Fico 15 dias com uma delas. Às vezes leva até quatro queimas para ficar pronto e tudo bem."

O fazer manual

Obra de Paula Juchem - Ruy Teixeira/Divulgação - Ruy Teixeira/Divulgação
Obra de Paula Juchem
Imagem: Ruy Teixeira/Divulgação
Detalhes do vaso artesanal - Ruy Teixeira/Divulgação - Ruy Teixeira/Divulgação
Detalhes do produto artesanal
Imagem: Ruy Teixeira/Divulgação

Tudo parte de um desenho, que é observado por horas no ateliê. "Muitas vezes ele não vai se materializar na cerâmica, mas é um início."

A argila — que pode ser canadense, americana ou brasileira — é moldada pelo oleiro.

A partir desse momento, Paula tem dois dias para criar as ilustrações em relevo e os buracos que compõem cada peça. Ao secar, é lixada e passa por fornadas. Por fim, esmalte e cor entram em cena.

Minha ideia com a cerâmica é que não tenha uma funcionalidade. São objetos escultóricos para nos fazerem companhia em casa"

Ousadias

Criação imita um cacto - Ruy Teixeira/Divulgação - Ruy Teixeira/Divulgação
Criação imita um cacto
Imagem: Ruy Teixeira/Divulgação
Cores são exploradas por Paula - Ruy Teixeira/Divulgação - Ruy Teixeira/Divulgação
Cores são exploradas por Paula
Imagem: Ruy Teixeira/Divulgação

No fazer manual de Paula há muitas perdas. "Coloco muito peso e isso seria um erro na cerâmica. Muitas vezes ela não aguenta. Às vezes preciso ligar um ventilador, tracionar... é uma ginástica grande para que um processo ousado, como a escultura Banquete, nasça."

Mas são exatamente os itens ousados que fazem mais sucesso. "É uma grande paixão, passo o dia pensando no barro, imaginando no que mais o material pode me dar", conta.

Ao evitar a produção em massa, ela coloca sua essência em cada obra. "Busco cada vez mais colocar a minha verdade nas peças. As pessoas não precisam ter muitas coisas, e sim ter coisas verdadeiras, que fazem sentido. Encontramos isso em itens feitos por quem se dedica a mostrar sua verdade."

@s que me inspiram

@claravonzweigbergk

Clara é uma professora em cores, muito incrível a forma como ela usa as tonalidades. Ela faz design sueco de altíssimo nível e tem uma pesquisa com papel muito legal. Tira uma quantidade de nuances dos tons pastel impressionante.

@ruy_teixeira

Todas as minhas fotos são feitas por ele com um olhar que valoriza meu trabalho. Ruy se sente um repórter da invenção e de boas ideias. Ninguém olha objetos e formas como ele, que tem imenso poder de interpretação dos objetos.