Brasileiros desbravam cenários selvagens em viagem dos EUA à Argentina
Em junho de 2019, após viver por quatro anos em Nova York, o casal brasileiro Mariana Brolezzi (de 31 anos) e Felipe Nascimento (30) resolveu regressar ao Brasil.
A jornada, entretanto, não seria o tradicional voo de cerca de 10 horas entre a Big Apple e o aeroporto de Guarulhos - mas, sim, uma viagem por terra com duração de mais de um ano e 80 mil quilômetros a serem percorridos.
"Compramos um carro e pegamos a rota mais longa de volta ao Brasil", conta Mariana.
Dirigimos até o Alasca e, de lá, começamos a descer rumo a Ushuaia [no extremo sul da Argentina]. Depois, a ideia era subir até São Paulo".
Hoje, 15 meses após o início de sua epopeia, o casal ainda se encontra na estrada, mais precisamente no México.
Eles já percorreram 55 mil quilômetros e visitaram locais remotos da América do Norte, como o Glacier National Park (em Montana, nos Estados Unidos, famoso por suas paisagens montanhosas grandiosas), o Kenai Fjords National Park (localizado no Alasca e onde os dois passearam de caiaque no meio de geleiras) e o Zion National Park (em Utah, onde é possível fazer trilhas em uma área repleta de cânions).
Também conheceram o lago Atlin (no Canadá), chegaram às margens do oceano Ártico (na longínqua Tuktoyaktuk) e percorreram a Alaska Highway, via estradeira que dá acesso ao Alasca e que, para Felipe, foi um dos momentos altos da jornada: "é um lugar onde você se vê no meio do nada, cercado por muita natureza. Ao longo da estrada, você enxerga animais como ursos e alces por todos os lados".
O carro dos brasileiros é equipado com barraca (armada sobre o teto do veículo), geladeira, gavetas (para guardar utensílios de cozinha) e fogão portátil, que permitem que os dois durmam sob as estrelas e preparem suas refeições no meio de regiões de natureza farta.
Felipe relata que, ao longo da rota, eles fizeram camping em muitas áreas selvagens, como as margens do lago Kluane, no Canadá, e na zona desértica do Death Valley National Park, na Califórnia. E, depois de cruzar terrenos gélidos no Alasca, também puderam curtir lugares extremamente cálidos.
No litoral mexicano da Baja California, por exemplo, o casal parou seu veículo junto ao oceano Pacífico, esticou uma rede entre coqueiros e passou dias curtindo o sol.
Acidente e ventania
A viagem, porém, não está livre de perrengues.
Felipe relata que, ao dirigir por uma estrada estreita dos Estados Unidos, resolveu subir na grama para ceder passagem a um veículo que vinha no sentido oposto - e acabou fazendo o carro cair e atolar em um charco ao lado da via, o que deixou sua estrutura danificada.
"Por sorte, percebi que o carro era da polícia. Eles nos ajudaram a desatolar, chamaram outros policiais e nos escoltaram até uma cidade próxima, onde poderíamos encontrar uma oficina mecânica. Parecíamos criminosos na rodovia, cercados por viaturas", brinca o brasileiro.
Já Mariana lembra que, certa vez, eles resolveram acampar no leito seco de um rio no Alasca. Entretanto, o que parecia um pacato local para dormir logo virou um ambiente agressivo.
"No meio da noite, começou uma ventania muito forte", diz ela. "O carro balançava muito e fiquei morrendo de medo. E a barraca foi invadida por muita areia. Ficamos completamente sujos".
O casal também conta que, para tomar banho, busca áreas estruturadas de camping que contam com chuveiros. E que, de vez quando, para ter um dose extra de conforto, dorme na casa de amigos, residências de Airbnb ou hotéis de beira de estrada que existem no meio de seu trajeto.
Dilemas da pandemia
Em março deste ano, quando a Organização Mundial de Saúde decretou pandemia de coronavírus, o casal se encontrava no meio do México, descendo em direção à América Central.
Mariana relembra que, de repente, muitas cidades que estavam na rota da viagem começaram a fechar, com museus, restaurantes e áreas de camping parando de funcionar. "Vimos que não era mais hora de fazer turismo e começamos a nos hospedar por semanas seguidas em residências de Airbnb, onde poderíamos ficar protegidos", diz ela.
Uma das cidades nas quais os brasileiros se hospedaram por um longo tempo foi a histórica San Andrés Cholula. "Lá, tínhamos um lugar seguro para parar o carro. E ela fica perto de uma cidade grande [Puebla], onde poderíamos encontrar hospital caso precisássemos", explica Felipe. "A questão da pandemia foi muito complicada. Primeiramente, porque guardamos dinheiro para fazer uma viagem em movimento. E, de repente, tivemos que gastar nossa verba parados no México".
E eles começaram a pensar em mudanças drásticas para a jornada, pois a covid-19 gerou o fechamento das fronteiras internacionais dos países vizinhos do México.
Ainda sem previsão de quando poderão cruzar para a América Central, o casal cogita voltar para os Estados Unidos e terminar sua viagem por lá, caso o país de Donald Trump se abra primeiro para quem vem do território mexicano.
Enquanto não tomam esta decisão, os brasileiros voltaram a pegar a estrada neste mês de setembro.
Este é a viagem das nossas vidas. A gente se programou e juntou dinheiro por muitos anos para isso. Não queremos largar nosso sonho pela metade", diz Mariana.
Para acompanhar em tempo real a jornada do casal (e ver as fotos incríveis que eles estão produzindo, acesse o perfil do Instagram.
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