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Do Rabo de Galo às batidas, coquetelaria brasileira vai além da Caipirinha

Rabo de Galo é um ícone brasileiro a ser reconhecido tanto quanto a Caipirinha - Divulgação
Rabo de Galo é um ícone brasileiro a ser reconhecido tanto quanto a Caipirinha
Imagem: Divulgação

Pedro Marques

Colaboração para o Nossa

25/09/2020 04h00

De tanto ver e beber drinques com nomes como Hanky Panky, Manhattan ou Old Fashioned nos cardápios dos bares, a gente quase esquece que o Brasil também tem suas belezas no copo - além da Caipirinha, claro.

De clássicos de boteco como o Rabo de Galo a combinações inventadas não faz muito tempo, a lista é considerável. Mas ainda não tem tanto valor quanto os coquetéis com nome em inglês. Com um pouco mais de carinho, porém, há potencial para reverter esse jogo e fazer essa lista crescer.

Para Marco de la Roche, consultor e editor do site "Mixology News", o pouco caso com as criações nacionais têm a ver com o fato de a coquetelaria ser relativamente nova por aqui.

Apesar de ter chegado no Brasil na década de 1930, a coquetelaria só era acessível à mais alta elite, que viajava ao exterior e recebia visitantes de outros países", diz o especialista, que também ministra um curso sobre o assunto.

Além disso, as primeiras misturas não eram famosas pelo glamour. O Rabo de Galo, por exemplo, surgiu na década de 1950 como bebida para as classes mais baixas. "São coquetéis que foram consumidos pela população operária, que levanta, toma um trago e vai trabalhar levantando prédio", afirma.

É a partir de 1970, especialmente por causa da disco music, que a imagem dos drinques passa por um upgrade e eles ganham espaço em festas e baladas. "É uma década com influência muito grande da cultura norte-americana", explica De la Roche.

Se Caipirinha é rainha - Reprodução Instagram - Reprodução Instagram
Se Caipirinha é rainha...
Imagem: Reprodução Instagram
Rabo de galo... - Giuliana Nogueira/Divulgação - Giuliana Nogueira/Divulgação
Rabo de galo é rei...
Imagem: Giuliana Nogueira/Divulgação

Cara do Brasil

De certa forma, essa influência continua, já que os bares de drinques de hoje em dia têm como referência os clássicos estrangeiros. "Só que não adianta a gente se apegar e ficar só repetindo a coquetelaria clássica. Se for assim, a gente não vai conseguir popularizar o consumo, porque os drinques ficarão restritos a uma parcela da população", opina.

Também seria errado dizer que esses endereços apenas replicam receitas de fora. Ingredientes locais são cada vez mais usados, tanto em versões de bebidas famosas quanto em novas combinações. Falta, porém, uma cara mais brasileira, avalia De la Roche. "A gente precisa de uma coquetelaria que converse com o paladar e o coração do nosso povo", afirma o especialista.

Frutas brasileiras são só alguns dos ingredientes que deixam qualquer drinque com a nossa casa - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Frutas brasileiras são só alguns dos ingredientes que deixam qualquer drinque com a nossa casa
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Para o consultor, esse jeitão nacional pode ser encontrado em frutas e ingredientes mais populares.

Não me venha com cranberry, me venha com manga, abacaxi ou caju. São coisas que têm a ver com nossa cultura", acrescenta.

E os drinques que já fizeram sucesso podem ser um ponto de partida para os drinques ganharem mais espaço no nosso dia a dia. Confira a seguir a história de alguns deles.

Rabo de Galo

"Se a Caipirinha é a rainha dos drinques brasileiros, o Rabo de Galo é o rei", afirma Marco de la Roche. A mistura está diretamente ligada à cidade de São Paulo e imigração italiana.

Junto com os novos moradores veio também a Cinzano, que nos anos 1950 começou a produzir vermute no Brasil - bebida bastante apreciada como aperitivo na Itália. Para divulgar a novidade, a empresa criou a combinação, que pegou.

Batidas

Até o começo dos anos 1960, liquidificador era artigo de luxo no Brasil. A partir dessa década, porém, o aparelho começou a ser produzido em escala industrial e foi possível misturar com mais facilidade cachaça (ou outro destilado), fruta e leite condensado.

Em São Paulo ainda existem alguns bares dedicados ao drinque, como o Mestre das Batidas, inaugurado em 1963, o Rei das Batidas, próximo à USP, e o Pilequinho, no Tatuapé. Hoje fora de moda, elas revelam a importância da doçura na coquetelaria nacional. "É uma característica de todas as nossas bebidas", diz De la Roche.

Bombeirinho

Bombeirinho, do bar Tuju - Bruno Geraldi/Noz-Moscada/Divulgação - Bruno Geraldi/Noz-Moscada/Divulgação
Bombeirinho, do bar Tuju
Imagem: Bruno Geraldi/Noz-Moscada/Divulgação

O nome vem da chamativa cor vermelha, que remete aos bombeiros. Barata e fácil de fazer, leva pinga e groselha, usada para disfarçar o gosto de álcool. Foi bastante popular nos anos 1980, época de drinques coloridos, simples e de qualidade mais que duvidosa.

Caju Amigo

Caju amigo - Lucas Terribili/Divulgação - Lucas Terribili/Divulgação
Caju amigo
Imagem: Lucas Terribili/Divulgação

Criado em 1974 no bar paulistano Pandoro pelo barman Guilhermino Ribeiro dos Santos, tem vodca (ou gim), caju em calda, açúcar e suco de caju. A doçura mais uma vez mostra sua importância, desta vez combinada com a fruta bem brasileira. Continua pop e já ganhou releituras menos carregadas no doce.